ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

06/Dez/2021

Camil: atuação internacional em novos segmentos

Após estrear nas cadeias de trigo e café e expandir sua atuação para o Equador neste ano, a Camil Alimentos, conhecida nos segmentos de arroz e feijão, quer reforçar sua atuação internacional e em novos segmentos no curto e médio prazos. A estratégia visa transformar a imagem de uma companhia anteriormente dedicada a grãos para uma multinacional de alimentos. Como multinacional brasileira, a Camil visa alcançar posição de destaque em todos os segmentos em que atua e ser uma plataforma de alimentos na América Latina. A Camil detém a liderança nacional em arroz e açúcar, vice-liderança no mercado de feijão no Brasil e participação de expressiva no segmento de pescados enlatados. Independentemente dos cenários externos desafiadores dos países em que atua, e empresa preparou um portfólio defensivo para potencializar o crescimento constante. A América do Sul é o principal alvo da expansão.

Hoje, a Camil atua com base própria em cinco países: Brasil, Uruguai, Chile, Peru e Equador, operando 29 plantas na região. Agora, há oportunidades de entrar em mais países. A empresa comercializa cerca de 50% do arroz produzido no Uruguai, no Chile e no Peru. No Equador, onde entrou recentemente, com a compra da Dajahu de arroz, detém cerca de 10% do mercado do cereal no geral e 20% em produto especial "envelhecido". A frente internacional representa cerca de 30% do faturamento da empresa. Entre os mercados que estão no radar da companhia pode-se citar Colômbia, Argentina e Venezuela, sem, porém, planos definidos no momento. O planejamento e a concretização da intenção de se estabelecer esses países, contudo, é limitada pelos atuais contextos socioeconômicos e políticos. São mercados relevantes do ponto de vista de consumo e até semelhantes aos que a Camil já opera, mas complicados do ponto de vista político-econômico. É preciso aguardar o 'timing' certo. No exterior, a empresa busca acessar os mercados por meio de fusões e aquisições (M&As), o chamado crescimento inorgânico, a começar pelo setor de arroz.

O pontapé inicial se dá pelo arroz, por ser o DNA da empresa, que entra com conforto em arroz para depois buscar a diversificação. A expansão para novas cadeias e a diversificação de portfólios podem ocorrer em breve nos países em que a Camil já atua. Há o entendimento de que a empresa estaria pronta para ampliar os segmentos no Equador e no Chile. O modelo de negócios que a empresa tem no Brasil, de entregar produtos de mercearia seca de valor ao consumidor, pode ser replicado em outros países, por isso a Camil observa oportunidades de diversificação no exterior. O movimento vem na esteira de uma série de aquisições feitas recentemente. Ao longo do último ano, além da equatoriana Dajahu de arroz, a Camil comprou o Pastifício Santa Amália, de massas, e o café Seleto, da JDE, marcando a entrada nas cadeias de trigo e café. A estratégia inclui um misto de crescimento orgânico com capacidade operacional de produção e capacidade diferenciada de comprar outros ativos e integrá-los na plataforma. É o que tem sido feito nos últimos anos.

Além da entrada com operação própria nos países, a empresa projeta maior crescimento nas exportações, embora ainda dependa de melhoras no escoamento logístico. Atualmente, seus produtos são comercializados para mais de 60 países, saindo especialmente do Uruguai e do Brasil. A plataforma de exportação é forte no Uruguai, onde a Camil exporta cerca de metade do arroz produzido no País. No Brasil, as vendas externas são uma oportunidade. Quanto às exportações originadas no Brasil, mesmo em momentos em que o mercado externo está mais competitivo que o local, a empresa tende a privilegiar o abastecimento interno. Na venda externa, o foco é a venda de arroz, com comercialização pontual de açúcar, sem ambição de exportar massas e café no momento. A possibilidade de novas aquisições no Brasil também não está descartada, para avanço de market share em áreas de atuação, entrada em novas regiões e de produtos complementares ao seu portfólio. Mas, no momento, o foco principal da empresa no curto prazo é a integração dos negócios recentemente adquiridos, mas há apetite por novas oportunidades.

No curtíssimo prazo, o foco está na integração da Santa Amália e no lançamento, com êxito, de café, mas não significa que, se surgir alguma oportunidade, não será incorporada. Neste sentido, haveria interesse da empresa em ampliar a atuação em derivados de trigo, em temperos e molhos e outros produtos de "mercearia seca" que complementem seu portfólio, como molhos e temperos, e que possam ser transportados no mesmo caminhão. A cadeia da farinha é muito parecida com a de feijão e arroz. A empresa ainda não está em biscoitos. Em massas, complementações regionais e de produtos interessam. Em café, há interesse em um leque mais completo de marcas. A Camil continua olhando oportunidades nesses segmentos. Esse fôlego para novas oportunidades está lastreado também na capacidade financeira da empresa. A Camil encerrou o segundo trimestre fiscal deste ano, em agosto, com caixa de R$ 1,366 bilhão, incluindo aplicações financeiras e alavancagem (relação entre dívida líquida e Ebitda) de 1,6 vez.

O indicador ainda não inclui a despesa com as compras recentes feitas pela empresa da Dajahu, Santa Amália e Seleto. O atual nível de alavancagem ainda permite financiamento para aquisição e a capacidade operacional também permite. Hoje, haveria balanço para compra de R$ 1 bilhão, caso fosse a intenção. Em relação à integração dos novos negócios recém-adquiridos, o processo com a Santa Amália está ocorrendo e a presença em Minas Gerais permitirá à empresa ampliar a comercialização de outras categorias, além das massas para a região. Após obter um lucro líquido de R$ 105,6 milhões (queda anual de 23,2%) e receita de R$ 2,2 bilhões (alta anual de 24,4%) no segundo trimestre fiscal deste ano, o ano civil de 2021 foi considerado bom para a empresa, após resultados excepcionais em 2020, em virtude da pandemia. No momento, a empresa está no terceiro trimestre fiscal do ano. Para 2022, a empresa está com otimismo cauteloso.

A expectativa é de que não haja mudança grande do ponto de vista dos preços dos produtos e da base de receita. O desafio para o desempenho continua sendo o contexto macroeconômico, com redução do poder de compra do consumidor, desemprego elevado e elevação de custos gerais. Neste cenário, apesar de os produtos serem tradicionalmente mais inelásticos à demanda, o maior risco é de downgrade, ou seja, a migração do consumidor para produtos e marcas de menor tíquete médio. O aumento dos custos gerais é mais difícil de ser repassado ao valor do produto final do que o aumento das commodities. A empresa tem conseguido fazer repasse das commodities. A inflação da matéria-prima é repassada para o preço, mas em custo (mão de obra, frete, energia) é preciso continuar operando. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.