18/Jan/2021

A safra 2019/2020 deve terminar em fevereiro de 2021 com a menor relação estoque/consumo desde a temporada 2015/2016 (fevereiro/2017). A situação só não será mais complicada porque o consumo doméstico de arroz declinou no período, mesmo contanto com a maior demanda de 2020. Para 2020/2021, mesmo com a maior rentabilidade em 2019/2020, a área não teve reação expressiva, tendo em vista que muitos produtores não dispunham de capital para elevar com força os investimentos operacionais. Além disso, incertezas sobre a dinâmica da demanda em 2021 com a retomada da economia também impediu maiores investimentos. A demanda doméstica, inclusive, se arrefeceu e está caminhando para um ritmo normal de consumo, após o forte aquecimento verificado em 2020. Segundo dados do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), o beneficiamento e saída de arroz no Rio Grande do Sul, que, até agosto/2020 chegou a ser quase 30% superior ao do mesmo mês de 2019, em novembro/2020 já estava 16,2% acima do de novembro/2019.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgados em dezembro/2020 indicam que a oferta da safra 2020/2021 poderá ter queda de 2,1% sobre a anterior, para 10,94 milhões de toneladas de arroz em casca. Adicionando as importações e o estoque inicial, a disponibilidade doméstica deve ficar em 12,48 milhões de toneladas, contra 12,89 milhões de toneladas em 2019/2020. No Rio Grande do Sul, a colheita 2020/2021 está estimada em 7,63 milhões de toneladas de arroz em casca, queda de 3% frente à anterior. Houve incremento de 2,4% na área semeada, mas retração de 5,3% na produtividade. Em Tocantins, a produção pode aumentar 0,8%, atingindo 665 mil toneladas, como resultado da área 3,7% maior, visto que a produtividade caiu 2,8%. Em Mato Grosso, a produção está prevista em 448,8 mil toneladas, alta de 10,9% em comparação ao volume da safra anterior, com aumento na área semeada (+13,9%), mas recuo na produtividade (-2,7%).

Em Santa Catarina, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri/Cepa) apontou em seu último relatório estabilidade na área de semeio na safra 2020/2021, que alcançou 143,45 mil hectares. No entanto, deve haver quedas de 5,67% na produtividade e na produção, indo para respectivos 7,9 toneladas por hectare e 1,18 milhão de toneladas. No ano-safra anterior, a produtividade foi de 8,4 toneladas por hectare e a produção, de 1,25 milhão. Para o consumo, a estimativa é de que possa subir de 10,7 milhões de toneladas para 10,8 milhões de toneladas entre 2019/2020 e 2020/2021. Talvez esta seja a variável de maior incerteza, pois a demanda cresceu em 2020 em função da pandemia, com as famílias aumentando o consumo doméstico em detrimento da alimentação fora do domicílio. Ao se estimar demanda ainda maior na temporada seguinte, deve-se levar em consideração que o isolamento social deve continuar e/ou voltar a se acirrar, o que deve estar relacionado com as dificuldades de vacinação em massa.

De qualquer forma, as exportações devem diminuir, pois os preços do arroz brasileiro, mesmo em dólares, estão acima dos valores observados nas transações externas. Assim, deverá haver maior interesse nas negociações domésticas, em detrimento das exportações, a não ser em casos de empresas em amplos excedentes. Por enquanto, a estimativa para as exportações e importações equivalem a 1,1 milhão de toneladas entre março/2021 e fevereiro/2022. Os estoques finais de passagem em fevereiro/2022 estão previstos em 581,2 mil toneladas, equivalentes a 5,4% da demanda interna, contra 4,1% previstos para fevereiro/2021. No contexto mundial, dados divulgados pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) em dezembro/2020 indicam oferta global de arroz beneficiado de 501,2 milhões de toneladas na temporada 2020/2021, 1,03% a mais que na 2019/2020, e consumo mundial de 500,44 milhões de toneladas (+1,14%), ambos recordes.

A oferta segue superior à demanda, elevando a relação estoque final/consumo para 36%. Há expectativa de crescimento de 1% nas transações internacionais no ano-safra 2020/2021, para 44,79 milhões de toneladas. O volume a ser transacionado neste ano-safra representa 9% da produção mundial. Sobre o Mercosul, a tensão quanto ao clima também é notável. Além do Brasil, o Paraguai (maior fornecedor de arroz ao Brasil), por exemplo, também deve ter menor produção na safra 2020/2021, com queda de 15,2%, a 670 mil toneladas produzidas na nova temporada. Para a Argentina e Uruguai, as estimativas iniciais são positivas, com aumentos de 3% e 3,9%, respectivamente, na produção. Nestes três países, a previsão é de queda nas exportações e aumento no consumo doméstico. Com produção e consumo global apresentando volume relativamente próximos, as cotações futuras de arroz na Bolsa de Chicago operam em patamares firmes, em termos nominais. Fonte: Cepea.