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27/Out/2020

Pandemia altera consumo e percepção da inflação

Com a enorme desorganização econômica provocada pela pandemia de Covid-19, a sensação de inflação do consumidor está em descompasso com o índice oficial, que, apesar da aceleração recente, segue comportado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é uma média de preços de bens e serviços, construído a partir da participação de cada item no orçamento das famílias. Mas, com o distanciamento social, momentaneamente o peso efetivo de alguns bens e serviços no consumo da população brasileira pode ser diferente do apontado pela mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Uma forma de observar essa diferença é que a expectativa mediana de inflação dos consumidores brasileiros para os próximos 12 meses é de 4,7%, conforme a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em outubro, o IPCA-15 mostrou alta de 0,94% e de 3,52% em 12 meses. No Boletim Focus, por sua vez, a projeção é de 3,56% para 12 meses à frente.

Há diferenças ainda conforme as classes de renda, uma vez que as mais baixas têm o orçamento mais comprometido com alimentação, cujos preços têm encarecido bastante nos últimos meses. Por exemplo, para quem ganha até R$ 2.100,00 a expectativa de inflação 12 meses à frente é de 5,5%. Na pandemia, houve clara redução do consumo de serviços, como restaurantes, pacotes de viagem, recreação em geral, e com transporte público ou combustíveis, devido ao trabalho remoto. Por outro lado, aumentaram as refeições dentro de casa, assim como o consumo de planos de internet, as pequenas obras domésticas e a troca de mobiliário e eletrodomésticos para aumentar o conforto dentro do lar. Os iItens que mais subiram no acumulado do ano 2020 até outubro no IPCA-15 foram: limão 67,67%; morango 67,45%; óleo de Soja 65,08%; tomate 52,93%; feijão fradinho 51,86%; arroz 51,72%; abobrinha 50,56%; manga 41,45%; pepino 40,32%; feijão preto 36,71%; cenoura 35,52%; leite longa vida 32,75%; feijão mulatinho 29,68%; tijolo 29,54%; coentro 27,73%.

Os itens que mais caíram neste mesmo comparativo foram: passagem aérea -37,30%; transporte por aplicativo -21,69%; agasalho feminino -11,36%; filé-mignon -11,22%; móvel para copa e cozinha -10,91%; agasalho infantil -10,80%; mochila -10,77%, vidro -10,60%; abacate -10,11%; móvel para sala -9,46%; seguro voluntário de veículo -9,32%; hospedagem -9,02%; couve-flor -8,36%; ônibus interestadual -8,36%; goiaba -8,19%. Nos preços, os serviços ajudam a segurar a aceleração da inflação, com alta de 1,43% no IPCA-15 em 12 meses. Já os alimentos no domicílio encareceram 16,80% no mesmo período, impulsionados também pela maior exportação, que reduz a oferta doméstica, pelo aumento de preços de commodities e pelo câmbio depreciado. Os industriais, por sua vez, acumulam 1,61% de novembro de 2019 a outubro de 2020, mas só neste mês o grupo teve alta de 1,03% no IPCA-15, em um momento em que a indústria mostra dificuldade de acompanhar a demanda aquecida por bens, também impulsionada pelo auxílio emergencial, e sofre com desabastecimento de aço, vidro, plástico e papelão, entre outros.

A pandemia mudou a cesta de consumo tanto para as classes mais pobres quanto para as mais ricas. No home office, o gasto de transporte vai a zero. Para algumas pessoas, a despesa com alimentação fora de casa também ainda é zero. Mas, o peso no orçamento de alimentação no domicílio subiu muito. Faz mudar a percepção frente ao IPCA. Os itens que mais sobem ganham peso no índice ao longo dos meses. Esse movimento dá uma ideia dos produtos e serviços mais consumidos, mas o ajuste não é da mesma magnitude do que se fosse promovida uma nova pesquisa para avaliar os hábitos de consumo da população em meio à pandemia. Por exemplo, Alimentação e Bebidas ganhou peso, de 19,36% para 20,27% no IPCA-15 de fevereiro, quando começou a valer os pesos pela POF 2017-2018, para outubro, voltando a ser o grupo com maior participação no índice.

Transportes, por sua vez, caiu de 20,57% para 19,78% no período. Apesar da aceleração da inflação nos últimos meses e das revisões constantes para o IPCA de 2020, a elevação de expectativa para 2021 segue tímida. Na pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira (26/10), a projeção mediana para o IPCA de 2020 subiu de 2,65% para 2,99%, enquanto a de 2021 passou de 3,02% para 3,10%, ainda distante do centro da meta de 3,75%. Mas, com as crescentes surpresas de alta no índice próximas da virada do ano, esse cenário pode mudar. Nada garante que a recuperação dos preços de serviços será lenta à medida que houver maior relaxamento do isolamento social. A forte ociosidade na economia deve servir de âncora para a inflação no médio prazo, quando passarem os choques. Os choques recentes acabam elevando a preocupação de um processo de alta inflacionária mais persistente no médio prazo. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.