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04/Fev/2020

APPS de entrega avançam em vendas de alimentos

Um crescente grupo de consumidores, a maioria de jovens adultos, tem chamado a atenção do varejo de alimentos. Eles são imediatistas e fazem de tudo para não precisar ir às compras na loja física nem esperar muitas horas para receber em casa o produto adquirido no e-commerce tradicional. Compram pequenas quantidades de alimentos, itens de higiene e limpeza por meio de aplicativos de entregas instalados no smartphone, como iFood e Rappi, que conseguem levar as encomendas ao cliente com mais rapidez. Nos últimos dois anos, turbinado pelo interesse tanto de gigantes, como Carrefour e Grupo Pão de Açúcar (GPA), quanto de varejistas de uma só loja, esse mercado de compras de conveniência feitas por meio de apps de entrega tem avançado exponencialmente, embora ainda represente pouco dentro das vendas totais dos supermercados. O crescimento é de 100% a cada mês, segundo o iFood, que começou a oferecer entrega de supermercados parceiros no começo do ano passado. A empresa opera com 400 supermercados em 80 cidades e quer chegar a mil lojas em 200 cidades em meados do ano. No concorrente Rappi, a compra de supermercado é a linha, depois de refeições, que mais cresce na empresa que se propõe a entregar qualquer tipo de produto.

Entre os varejistas, um dos pontos que impulsionam o interesse pela venda por meio dos apps de entrega é a atração de novos consumidores. No Carrefour, que há dois anos tem parceria nacional com a Rappi, 63% dos clientes do canal e-commerce food não faziam compras na rede. A adesão não é só das camadas de maior renda (mais habituadas a compras online), mas também das classes C e D, segundo o Grupo Big, que testa a parceria com o iFood em uma loja e vai expandir para hipermercados, supermercados e atacarejos. Segundo a Sociedade Brasileira de Varejo, a parceria dos aplicativos e supermercados é um caminho sem volta, pois o smartphone mudou o hábito de compra e as empresas travam uma corrida para estarem mais bem posicionadas do que as rivais nesse novo mercado. Mas há risco estratégico, por trás da oportunidade: ao fechar parceria com companhias de delivery, o supermercado pode entregar informações do consumidor para empresas de fora.

A questão é de quem é o cliente. Apesar de ser um novo canal, a venda de supermercados por meio de aplicativos de entrega avança rapidamente e já chega a representar entre 5% e 10% da receita de algumas lojas, segundo a Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. Diante desse potencial, fica difícil para os varejistas evitarem as parcerias com os apps de delivery, mesmo tendo de repassar para um terceiro, a depender da forma como os contratos são negociados, o coração do seu negócio: as informações de clientes. Os dados são uma espécie de “arma secreta do varejo”. Com acesso a eles, muitas vezes por meio de programas de fidelidade, os varejistas conseguem estudar o comportamento do cliente, suas preferências, frequência de compra, formas de pagamento, além de reter informações pessoais, o que permite às redes se comunicarem diretamente com o consumidor. Essa questão da posse dos dados do cliente é fundamental, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas). A Rappi informa operar com dois tipos de contrato: um que permite o acesso aos dados da compra pelo varejista e outro em que isso não é autorizado.

Já o iFood informa não compartilhar informações dos clientes com os supermercados para os quais faz as entregas. Há um ano trabalhando em parceria com a Rappi, o Carrefour e-Business faz questão de ter acesso às informações. No Grupo Big, que testa uma parceria com o iFood, a história se repete. A chave desse negócio é no futuro fazer ofertas personalizadas. Para não dividir os dados de clientes com terceiros, o Grupo Pão de Açúcar (GPA), que trabalhava com a Rappi, comprou em 2018 uma empresa para fazer as suas entregas, a startup James Delivery, de Curitiba. Com uma única loja na Vila dos Remédios, zona oeste de São Paulo, o Supermercado Castanha, que vende pelo iFood e pela Rappi, não teve alternativa. Neste caso, o dado é do aplicativo. A empresa viu nos aplicativos de entrega uma saída para recuperar a receita. A parceria começou em junho de 2019. Desde outubro, o faturamento desse canal tem dobrado a cada mês. Como apenas duas empresas dividem o mercado de entregas rápidas em grande escala, a Apas adverte sobre a relevância que essas companhias ganham na hora de fechar as negociações com os supermercados.

Há risco de se repetir o que houve no passado, quando duas empresas administravam as maquininhas de cartão de crédito e determinavam as taxas cobradas para os lojistas. Tanto iFood e Rappi como os supermercados não revelam as taxas cobradas para incluir os produtos nos aplicativos de entregas, mas elas podem variar entre 8% e 12% sobre o valor da venda. As vendas de alimentos, bebidas e produtos de higiene e limpeza e os aplicativos de entrega são as novas frentes de crescimento do comércio online. Os aplicativos têm efeito multiplicador e eles estão ajudando a popularizar o e-commerce. Quando o consumidor tem uma experiência boa num aplicativo de entrega, por exemplo, ele aprende a usá-lo e passa a fazer compras por esse meio também. É crescente o fechamento do número de parcerias entre aplicativos de entregas, como iFood e Rappi, e os supermercados.

O alimento agora é uma fronteira a ser explorada no varejo online, toda a parte de vendas de não alimentos por esse canal se desenvolveu mais rápido, segundo o Carrefour e-Business. O potencial de crescimento de vendas de alimentos é muito grande, apesar de hoje representar muito pouco das vendas do e-commerce. Da receita do varejo online, os itens de supermercado responderam por 2,5% no acumulado em 12 meses até outubro de 2019, segundo a consultoria Nielsen. Pesquisa da Kantar, especializada em auditar o consumo nos domicílios, mostra que as vendas de alimentos e produtos de higiene e limpeza cresceram no Brasil quase seis vezes mais no varejo online comparado com o avanço registrado nas vendas que englobam lojas físicas e virtuais para esses produtos. O período analisado foi julho de 2018 a junho de 2019. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.