22/Jan/2020
A redução nas chuvas, iniciada ainda novembro, agravou-se durante o último mês do ano de 2019. Dezembro registrou precipitação abaixo da média climatológica em todas as regiões do Estado do Rio Grande do Sul. Na Metade Sul, partes das regiões da Campanha, Central e Planícies Costeira Interna e Externa, receberam entre 25 mm e 50 mm de precipitação apenas. As anomalias, nessas mesmas regiões, ficaram entre -50 mm e 100 mm. A escassez de chuvas até ajudou aqueles que precisavam terminar as semeaduras do arroz e da soja, porém, logo em seguida, faltou umidade no solo para propiciar adequada emergência de plantas. Antes do Natal, as temperaturas amenas ainda chamavam a atenção, principalmente as mínimas. Porém, após o Natal, os termômetros ultrapassaram a marca dos 40°C. Pelo interior do Estado, foram registrados até sete dias consecutivos com temperaturas acima dos 35°C. Segundo a NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration), as condições oceânicas e atmosféricas continuam indicando Neutralidade, pelo menos até o outono.
O percentual de chance de manutenção da fase Neutra é de 60%, conforme o IRI (International Research Institute for Climate and Society). A anomalia da Temperatura da Superfície do Mar (TSM), na região do Niño 3.4, no último trimestre (OND) foi de +0,5°C. No entanto, ainda não significa o início de um novo episódio de El Niño, pois é necessário cinco trimestres consecutivos com este limiar para configurar um El Niño, e ainda, são necessários três trimestres consecutivos para os centros de meteorologia iniciarem os anúncios de um possível El Niño. Mesmo com a Neutralidade, o Oceano Pacífico está com viés positivo, o que pode favorecer as chuvas no Sul do Brasil, em algum momento, embora no verão, se tenha outros padrões interferindo nas chuvas. É o caso da Alta da Bolívia, sistema que atua durante o verão, e que favorece a formação de nuvens de chuva nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, principalmente. Dependendo de sua posição ela acaba ocasionando chuvas no Rio Grande do Sul, principalmente no Norte.
Outro sistema, bastante comentado na mídia, é a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). Este é o principal sistema meteorológico do verão, responsável por um período prolongado de chuva frequente e volumosa sobre parte das regiões Norte, Centro-Oeste e Sudeste. É caracterizado por prolongada faixa de nuvens e chuva, que persistem sobre o Brasil por vários dias consecutivos, em média de quatro a 10 dias. Este sistema, devido à ausência do El Niño, está bastante atuante nesta safra e, com isso, a umidade da Amazônia é canalizada para essas regiões e o Rio Grande do Sul acaba sofrendo com a falta de chuvas. Devido à ausência de chuvas, o ar fica mais seco e, geralmente, mais ventoso. Com o ar seco, a tendência é de que as temperaturas da tarde aumentem bastante. Todos esses fatores acabam agravando a situação da estiagem. Após 15 de novembro de 2019, as chuvas no Rio Grande do Sul passaram a ocorrer de forma menos frequente e com volumes mais baixos do que os registrados na primeira metade da primavera.
Em dezembro, todo o Estado ficou com déficit de chuvas, o que agravou a situação da estiagem, e que persiste até estes primeiros dias de janeiro de 2020, fazendo com que vários municípios decretassem situação de emergência. A irregularidade nas precipitações deve continuar durante todo o verão. Inclusive, a maioria dos modelos vem prevendo precipitação abaixo da média até março. Em janeiro, o modelo prevê chuva abaixo da média para toda a Metade Sul do Rio Grande do Sul. Para fevereiro, o modelo prevê chuva abaixo da média, entre -25 mm e -50 mm, em todo o Estado. Já para março, a situação mais grave seria nas regiões da Campanha e da Fronteira Oeste, onde o déficit de chuvas deverá ficar entre -85 mm e -130 mm. A média de seis modelos climáticos também prevê chuvas abaixo do normal para fevereiro e março.
De qualquer forma, precisa-se ter em mente que as chuvas ocorrerão, em forma de pancadas isoladas ou, por vezes, pela passagem de uma frente mais organizada, no entanto, pode ser que, na maioria dos municípios do Estado, elas não sejam suficientes para alcançar a média climatológica do mês. Para o arroz, é importante a ocorrência de alta radiação durante o verão, para que a lavoura expresse seu máximo potencial produtivo. Nesta safra, a situação está sendo favorável em termos de radiação solar. A radiação solar ficou acima da média na maioria das regiões. Mas não é só de sol que necessita o arroz. A lavoura necessita de água para sua irrigação. E este é um fator que preocupa, caso a estiagem se prolongue e não ocorra precipitação com volume suficiente para reabastecer os reservatórios. Fonte: Jossana Cera – Meteorologista e Doutora em Engenharia Agrícola pela UFSM.