16/Out/2019
A colheita de arroz deverá ser 16% menor nos Estados Unidos nesta safra 2019/2020, em função do atraso no plantio gerado por problemas climáticos. Como consequência, a expectativa para a exportação do país, que inicialmente superava 3,5 milhões de toneladas, também caiu, para 3 milhões de toneladas. Esse cenário negativo para os norte-americanos, aliado à valorização do dólar ante outras moedas, abre espaço para que a cadeia produtiva no Brasil, que tem pouca tradição no comércio internacional do cereal, conquiste mercados e, em alguns casos, alcance margens de lucro ao menos um pouco mais altas. O movimento não será capaz de alterar a balança comercial brasileira de forma significativa nem de salvar as contas dos produtores, que sofrem com queda na rentabilidade há três temporadas e pressionam o governo pela renegociação de suas dívidas. Mas, poderá ampliar a participação do produto nacional em mercados importantes que compram no exterior arroz industrializado e premium. Ou, no mínimo, servir como um cartão de visitas.
Conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) compilados pelo Sindicato das Indústrias de Arroz do Rio Grande do Sul (Sindiarroz-RS), as exportações brasileiras somaram 761,5 mil toneladas nos sete primeiros meses da atual safra internacional, que começou em março. Mesmo 18% inferior ao mesmo período do ciclo passado, o volume ainda foi mais de duas vezes superior à média histórica. No ano passado, houve um período de aumento dos embarques muito atípico, porque os Estados Unidos pararam de exportar à Venezuela e o país vizinho passou a fazer triangulação com Brasil e China (comprava arroz brasileiro e pagava às tradings com petróleo, posteriormente enviado à China). Mas, agora, a Venezuela está enfrentando problemas para viabilizar a contratação de frete e manter a triangulação. A questão, agora, é que a quebra da safra norte-americana tem permitido que o Brasil envie arroz em casca para grandes compradores como Peru e Irã, que nunca haviam comprado o produto brasileiro.
Mais do que isso: o País tem ampliado as vendas do arroz beneficiado, de boa qualidade, para Peru, Iraque, Venezuela, Arábia Saudita e mesmo aos Estados Unidos. A safra norte-americana 2019/2020 será pelo menos 1,7 milhão de toneladas menor, e não haverá arroz disponível para comercializar até julho de 2020. Ou seja, haverá espaço para o arroz brasileiro em mercados normalmente dominados pelos Estados Unidos. Também como questão positiva para os produtores e indústrias brasileiras, é o fato de que agências internacionais divulgaram que o México suspendeu as importações de arroz do Uruguai no início de setembro, após identificar a presença de larvas e besouros do arroz já adultos. A maior parte das compras do México no exterior vem dos Estados Unidos, mas também nesse caso poderá ser uma oportunidade para o Brasil. Segundo a Associação Brasileira da Indústrias de Arroz (Abiarroz), o arroz brasileiro tem conquistado o mercado da América Latina e até do Oriente, mais pela qualidade que pelo preço. Mas, quando conheceram o produto do Brasil, esses países concluíram que é melhor que o de outras regiões.
O fato de os Estados Unidos usarem sementes híbridas de arroz aumenta a produtividade das lavouras, mas prejudica a qualidade e os cereais ficam mais quebrados e manchados. O arroz nacional é feito para o consumo interno, já os Estados Unidos, assim como nossos concorrentes da América do Sul, Argentina e Uruguai, não, pois não consomem o produto. Além disso, Argentina e Uruguai tiveram aumentos dos custos nesta safra, o que também melhora as oportunidades para o Brasil. Mas, os produtores brasileiros também enfrentam problemas: o mercado interno permanece estável e os preços não sobem, mesmo na entressafra. Segundo o Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea), a indústria tem esperado o vencimento do custeio dos produtores para que estes, pressionados, aceitem preços menores. O indicador de preços Esalq/Senar-RS subiu 0,7% nos primeiros oito dias de outubro, R$ 45,62 por saco de 50 Kg. Apesar da alta, a média é menor que a de outubro de 2018 (R$ 45,68 por saco de 50 Kg) mesmo que a colheita da safra 2018/2019 tenha sido 1,5 milhão de toneladas inferior.
Para 2019/2020, a expectativa é que a safra do Rio Grande do Sul cresça 3,6%, para 7,5 milhões de toneladas, mesmo com a queda de 3,8% na área de plantio. Em todo o País, a colheita deverá permanecer estável em 10,6 milhões de toneladas. Com essa produção “justa” em relação ao consumo e com o avanço da exportação, é provável que as importações também aumentem. Nesse caso, o maior concorrente dos produtores brasileiros é o Paraguai, cuja produção costuma atender São Paulo, Minas Gerais e parte do Paraná. Afora isso, a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) informou que os custos de produção vão aumentar nesta safra devido ao câmbio e a elevação dos preços dos insumos. No entanto, nenhuma entidade fez uma prévia desses custos. Em 2018/2019, o Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga) calculou que tenham ficado em R$ 8.836,96 por hectare, o equivalente a R$ 58,18 por saco de 50 Kg. A tendência é que exista espaço para o cereal do Brasil em mercados normalmente atendidos por vendas dos Estados Unidos. Fonte: Valor Online.