10/Sep/2024
Operadores e terminais portuários do Brasil buscam estimular uma diversificação nas rotas de exportação de algodão, à medida que o País aumenta as vendas ao mercado externo. A intenção é viabilizar novos pontos de embarque como alternativas ao Porto de Santos (SP), por onde sai a quase totalidade do produto nacional, que tem, como principal destino a China. A trading chinesa Cofco estuda e mantém qualquer rota que faça sentido. No ano passado, a empresa exportou 400 mil toneladas da fibra a partir do Brasil. A empresa ainda tem o Porto de Santos como principal ponto de escoamento da pluma, embarcada por contêineres. Mas, o avanço da produção de algodão no Brasil e o aumento da participação do País no mercado internacional, com a liderança mundial nas exportações, estão levando a Cofco a considerar outras rotas logísticas. O Porto de Santos tem mais navios disponíveis e mais rotas marítimas que vão e vem, de forma que sempre se mostrou mais competitivo.
Além disso, tem uma oferta de armadores que não se vê em nenhum outro ponto do País. Apesar disso, a safra de algodão vem crescendo e há muito congestionamento no Porto de Santos já com a oferta atual. No ano passado, a Cofco começou a testar a saída pelo Porto Itapoá, em Santa Catarina. Neste mês, um navio zarpou com destino à Ásia. A alternativa mostrou-se competitiva e eficiente. Apesar da distância maior da origem do algodão, os custos gerais do Porto de Itapoá são menores, por exemplo, para estufagem (carregamento completo do contêiner). Os terminais das Regiões Norte e Nordeste são menos competitivos por não terem oferta suficiente de navios. A iniciativa da Cofco vai ao encontro da estratégia da Porto Itapoá, responsável pelo terminal de contêineres. A administradora portuária pôs em prática um projeto voltado especificamente à exportação de algodão, na tentativa de se consolidar como ponto de embarque do produto.
A Porto Itapoá identificou esse fluxo de algodão como uma oportunidade. O Brasil é o maior exportador global, com grande parte das cargas indo para a Ásia. Assim, investiu em uma estrutura interna no terminal, seguindo todos os parâmetros para preservar a qualidade do algodão. No início de julho, a Porto Itapoá anunciou a conclusão de uma estrutura de estufagem para a commodity. A iniciativa está em fase-piloto, para avaliar a viabilidade da operação dedicada e, a depender do interesse e da demanda das tradings e embarcadores, aumentar a escala. Na visão da administradora portuária, o Porto de Itapoá tende a se consolidar como opção ao Porto de Santos para o embarque de algodão. A estrutura do porto tem um armazém exclusivo para recebimento de algodão já na zona primária, sem a operação retro-portuária. Maquinário e pessoal foram designados para a operação com a pluma. No local, são feitos os trâmites de alfândega, e a carga e o contêiner vão para o navio.
Nos primeiros dois meses da operação dedicada, Itapoá embarcou cerca de 500 contêineres de algodão. A projeção é totalizar algo entre 2 mil e 3 mil até o fim do ano. A administração do porto avalia que, em plena atividade, é possível chegar a mil unidades por mês. A viabilidade da rota logística do Porto de Itapoá para o algodão é creditada, em parte, a uma elevada oferta de frete de retorno, o que aumenta a competitividade deste terminal em relação ao Porto de Santos. Transportadores que chegam com algodão de estados como Mato Grosso, Bahia ou Goiás pegam o caminho de volta com fretes contratados e carretas carregadas. A fase-piloto prosseguirá até o fim do ano, para avaliar os primeiros meses de operação. Passando essa análise, serão buscadas soluções em zona primária e até secundária para ganhar volumes. De janeiro a junho deste ano, o Brasil exportou 1,392 milhão de toneladas de algodão, com uma receita de US$ 2,68 bilhões, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea). No mesmo período em 2023, foram 424,5 mil toneladas, a um valor de US$ 796,73 milhões.
Um dos quatro maiores produtores mundiais (junto com Estados Unidos, Índia e China), o Brasil superou os Estados Unidos nas vendas externas e assumiu a liderança do comércio global da pluma. Embora admita que há espaço para novas rotas de exportação, a Anea ressalta a importância do Porto de Santos no sistema logístico do algodão e diz que o local tem recebido investimentos para reforçar as operações. Pelo Porto de Santos, os exportadores embarcam mais de 90% da pluma. O Brasil deve seguir aumentando a produção e a exportação de algodão, abrindo caminho para diversificação das rotas logísticas. Mas, a operação é complexa, por depender de investimentos a longo prazo e da garantia de regularidade. É preciso ter o contêiner vazio. O algodão é exportado em contêiner de 40 pés e linhas regulares de navegação. Isso vai acontecer pouco a pouco. O exportador, o trader sempre vai procurar a opção mais eficiente. Tem que fazer sentido economicamente e ser eficiente para estufar, carregar e o navio zarpar. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.