19/Mai/2023
O recuo dos preços do algodão, que se mantêm abaixo de R$ 4,00 por libra-peso no Indicador Cepea/Esalq com pagamento em 8 dias, trouxe alívio para a indústria no custo de matéria-prima, mas novas compras da pluma são limitadas por uma demanda enfraquecida por fios e tecidos no País. A Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) lembrou que, em igual período do ano passado, o algodão estava no maior preço dos últimos dez anos, o que influenciou fortemente na inflação de preços do vestuário. Neste ano, é possível observar deflação em vestuário no IPCA e no IPP (Índice de Preços ao Produtor) têxtil, ainda que persista resíduo inflacionário do lado da confecção. A entressafra é mais confortável do ponto de vista de oferta de matéria-prima do que no ano passado. Por outro lado, o setor enfrenta fraca demanda no mercado consumidor. Os números de varejo estão negativos nesses primeiros quatro meses do ano, houve problemas com varejistas. Isso tudo tem travado o comércio. A queda dos preços do algodão reduz a pressão de custo de matéria-prima.
Ao mesmo tempo, esse alívio não está conseguindo se materializar em compras robustas da indústria devido ao período difícil do varejo. Na hipótese mais otimista, se confirmada recuperação do mercado a partir da metade do ano, a expectativa é de um crescimento do setor têxtil e, consequentemente, do consumo de algodão, similar ao do PIB brasileiro. No ano passado, a indústria absorveu entre 630 mil e 650 mil toneladas de algodão. A expectativa é de que se superem ao menos parte das incertezas com relação à questão fiscal, à reforma tributária e outras agendas que têm trazido muita insegurança ao mercado de uma forma geral e ao consumidor, que precisa ter confiança no futuro. Parte das fiações está reduzindo turnos e ajustando a produção à demanda enfraquecida, mas há espaço para reagir rapidamente no caso de crescimento da demanda. O consumo global de algodão segue prejudicado pelo déficit em reservas internacionais no Paquistão e pela redução de compras da Turquia após o terremoto. O Brasil poderia estar melhor se não estivesse vivendo indefinições que prejudicam as decisões de investimento.
Além disso, o repasse de preço do algodão comprado anteriormente a R$ 5,50 a R$ 5,60 por libra-peso para o produto pronto tem sido um problema e exige muita estratégia por parte das indústrias, principalmente aquelas que estão mais compradas num prazo mais longo. Para o segundo semestre, além da entrada de uma safra maior, a expectativa é de um aquecimento na procura. O segundo semestre normalmente representa entre 55% e 60% do movimento da indústria, então, considerando o segundo semestre em relação ao primeiro, há um crescimento de cerca de 20%. Mas, é preciso acompanhar a questão do clima. No caso de invernos mais rigorosos, a comercialização das coleções da temporada que vai até agosto tende a ser mais rápida. Caso o frio seja menos intenso ou intermitente, isso pode criar dificuldade para o segundo semestre, porque lojistas entram "estocados ou semi estocados" com a coleção de inverno ao passo que precisam repor a coleção de verão. Há muita insatisfação com o movimento industrial e comercial desses primeiros quatro meses do ano, mas, melhorando um pouco o cenário, votando algumas reformas importantes no Congresso, possa mudar o ânimo.
A apreciação recente do Real preocupa por aumentar a concorrência dos importados. O setor já sofre a competitividade dos importados que vem pelos métodos convencionais, em contêineres, e com as plataformas asiáticas que operam sem o devido faturamento dos impostos ao consumidor brasileiro, criando assim uma dupla desvantagem para indústria e comércio. O Indicador Cepea/Esalq com pagamento em 8 dias reagiu após ter chegado a R$ 3,71 por libra-peso no dia 10 de maio, menor patamar nominal desde 16 de outubro de 2020 (R$ 3,59 por libra-peso). No mês, o recuo chega a 1,82%. As cotações internas do algodão em pluma reagiram nos últimos dias, sustentadas pela restrição vendedora e pela oferta de compra a valores maiores. Como os valores no Brasil ainda estão operando abaixo da paridade de exportação, alguns vendedores passam a se interessar mais por contratos para escoar a pluma ao mercado externo, limitando a disponibilidade no spot nacional. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.