19/Mai/2023
Temperaturas mais altas ou mais baixas do que o esperado são comuns em divulgações de resultados de varejistas de moda. A chegada mais rápida de uma determinada estação, por exemplo, pode determinar se as novas coleções serão vendidas a preço cheio ou com descontos ao longo do trimestre. No último ano, estima-se que o fenômeno La Niña, diminuição da temperatura das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental, pode explicar, para o bem e para o mal, algumas surpresas nos números dessas companhias. Da mesma forma, sua partida, no outono deste ano, pode dar pistas para o planejamento dessas empresas. No segundo trimestre de 2022, as empresas do setor mostraram números positivamente surpreendentes pela chegada antecipada do inverno. Já o último verão, foi mais frustrante em vendas. O clima, mais uma vez, foi determinante. Para frente, é possível prever um inverno menos frio e prestar atenção nisso pode influenciar o planejamento do segmento de moda. Segundo a Nottus, consultoria especializada em meteorologia, algumas das principais capitais do País tiveram mais frio do que o normal de abril a junho do ano passado.
No Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR) e Porto Alegre (RS), por exemplo, abril foi mais gelado do que a média para o período. Ou seja, um frio antecipado, como consequência do La Niña. No mesmo período, a Lojas Renner reportou que as vendas foram impulsionadas por um inverno antecipado e mais rigoroso, que levou o consumidor a comprar mais peças de vestuário. Assim, a coleção de outono/inverno atingiu número de transações e tíquetes aproximadamente 10% acima do registrado em 2019, antes da pandemia de Covid-19. Da mesma forma, a Marisa comentou em seu documento de balanço do mesmo trimestre sobre a influência do clima no resultado. Observou-se uma aceleração importante na atividade no setor no trimestre, com destaque para os meses de abril e maio, cujas vendas foram impulsionadas por temperaturas mais frias, pela ótima aceitação da coleção de inverno, além das campanhas promocionais dos Dias das Mães e Namorados. O problema é que o mesmo fenômeno levou a um verão mais frio no fim de 2022. Novamente, as empresas sentiram a mudança do clima em suas contas.
O fim de ano chuvoso fez as companhias venderem menos. Na C&A, esse foi um dos eventos citados como motivadores de uma venda menos acelerada. A receita de vestuário da companhia apresentou aumento de 2,9% no quarto trimestre do ano anterior. O desempenho da categoria no trimestre foi impactado pelo clima frio atípico para o período, principalmente na região sudeste, e pela copa do mundo de futebol. Nos dias com jogo da seleção brasileiro, o fluxo nas lojas ficava praticamente zerado após o horário do almoço. Se na chegada a La Niña surpreendeu, sua partida também causou estragos. O fenômeno acabou no outono deste ano. Como resultado, até agora, não houve frio capaz de ‘aquecer' a economia. Em geral, as vendas de outono/inverno começam ainda no primeiro trimestre, no mês de março. Motivo pelo qual a Renner tem diminuído as coleções de transição de estação. Dessa vez, porém, o cálculo deu errado. A decisão da Renner de fazer uma coleção de meia estação menor afetou negativamente as vendas do primeiro trimestre de 2023.
Como o clima ficou mais quente do que a companhia previa, a coleção de inverno não vendeu como o esperado e a companhia teve de vender itens de verão em liquidação. Segundo a Nottus, as baixas temperaturas no início de maio costumam ser determinantes para o sucesso das varejistas de moda no Dia das Mães, segunda maior data para o varejo brasileiro. Quando a capital de São Paulo chega a 10°C cerca de 15 dias antes da data, cria-se um gatilho para vendas de roupas de inverno, que costumam ter margens de lucro maiores do que as peças de verão. Nesse mês, porém, o frio chegou bem mais perto do segundo domingo de maio, o que pode ter efeito negativo no resultado das companhias. Algumas delas já avisaram os investidores de que a base de comparação de abril a junho do ano passado é muito alta e, por isso, difícil de bater. Para frente, a Nottus prevê alguns episódios de frio para a temporada, mas nada parecido com o ano passado. Em média, o inverno de 2023 deve ser mais quente do que o normal. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.