06/Mai/2022
Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), as indústrias têxteis estão reduzindo a atividade em virtude das altas do preço do algodão e da dificuldade de repasse do custo mais alto da matéria-prima na cadeia. Este é um dos problemas mais graves que o setor enfrenta neste momento no Brasil e no mundo. Há notícias de interrupção de produção em fábricas na Índia e outros países na Ásia. No Brasil, já é possível sentir uma grande dificuldade de as empresas conseguirem pagar o preço desse algodão e chegar na ponta repassando esses custos aumentados. A alta do algodão, que chega a 37% no ano, não foi transferida integralmente para o consumidor final, que tem seu orçamento "espremido" pelo quadro de inflação de alimentos e energia. As empresas estão tentando ajustar a sua produção à capacidade de repassar isso ao mercado e preservar a sua saúde financeira para não entrar numa espiral negativa.
Há empresas brasileiras que interromperam ou reduziram a produção ou vão dar férias coletivas em um período em que tradicionalmente isso não ocorre em virtude do quadro de venda travada e aumento de custos. O impacto é maior em fiações e tecelagens de tecidos mais pesados, que utilizam mais algodão na composição. O Indicador do algodão em pluma, com pagamento em 8 dias, voltou a atingir máxima nominal da série histórica do Cepea iniciada em 1996 no dia 3 de maio, a R$ 7,64 por libra-peso. Na quarta-feira (04/05), o Indicador fechou a R$ 7,63 por libra-peso, queda de 0,13% ante o dia anterior, mas alta de 3,43% no mês. A elevação dos preços externos e valorização do dólar deixaram a cotação da pluma no País apenas 1,5% acima da paridade de exportação na segunda-feira (02/05). Como comparação, na média de abril, a vantagem do preço interno sobre os de exportação foi de 11,7%.
Os compradores com necessidades imediatas e/ou estoque limitado precisaram ceder e pagar os maiores preços pedidos por vendedores. Os dados mais recentes de criação de vagas do Caged, divulgados na semana passada, já refletem em parte a dificuldade da indústria. Nos últimos 12 meses até março, o setor gerou de 36 mil a 37 mil postos formais de trabalho, porém em março 2022 perdeu 500 postos, e essa perda foi em têxtil, não na confecção. O Brasil tem no algodão a sua principal matéria-prima para a produção de calças jeans, cama, mesa e banho e outros produtos de consumo. Hoje, importar algodão não seria viável. O algodão dos Estados Unidos não vai chegar mais barato do que o do Brasil. O algodão está caro no mundo inteiro. A entrada da safra 2021/2022 do Brasil nos próximos meses pode representar um alento do lado da oferta, mas o preço dependerá da evolução da economia mundial e seus efeitos nos futuros e câmbio.
Não é que esteja faltando algodão, é que o algodão também se tornou uma aplicação para o dinheiro que está circulando no mundo. Não é um mercado tão grande quanto o de soja, milho e trigo, mas tem muita liquidez e uma produção grande. Embora o petróleo tenha subido, o que eleva o preço da fibra sintética, o algodão aumentou mais. Isso gera um incentivo para uso de outras matérias-primas. Segundo o Conselho Consultivo Internacional do Algodão (Icac), a produção mundial de algodão deve somar 26,43 milhões de toneladas na temporada 2021/2022, que começou em 1º de agosto. O volume representa aumento de 8,36% ante o ciclo anterior, quando foram produzidos 24,39 milhões de toneladas. O consumo global em 2021/2022 deve crescer 1,95% ante a temporada anterior, para 26,16 milhões de toneladas.
As exportações devem diminuir 5%, para 10,07 milhões de tonelada. Os estoques finais devem aumentar 1,31%, para 20,90 milhões de toneladas. Os preços de referência (medidos pelo índice Cotlook A) devem se manter em um intervalo de 109,00 a 129,00 centavos de dólar por libra-peso em 2021/2022, com média de 115,00 centavos de dólar por libra-peso. Em São Paulo, grandes indústrias preferem parar a amargar prejuízo. Há muitas fábricas paradas, pois não têm condição de pagar o preço atual. Tanto tradings quanto produtores ofertam algodão acima do preço Esalq. As indústrias estão esperando para ver se o mercado consumidor melhora, porque não adianta produzir se não conseguem vender repassando o custo atual do algodão. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.