29/Abr/2022
A negociação de algodão no mercado brasileiro transcorre em ritmo lento no disponível, ainda sob a influência da dificuldade de fábricas de repassar custos em um cenário de fraqueza na venda de fios. As indústrias esperam a expiração do vencimento julho na Bolsa de Nova York para ver se os preços internos cedem, embora a valorização recente do dólar dificulte esse movimento. O Indicador Cepea/Esalq com pagamento em 8 dias acumula leve queda de 0,6% na parcial de abril. A movimentação é escassa para pronta entrega. Até a chegada da safra nova, as fábricas compram o estritamente necessário. O Esalq em R$ 7,21 por libra-peso é considerado elevado.
As indústrias preferem consumir estoques diante da fraqueza das vendas de fio, que dificulta mais o repasse do custo do algodão na cadeia. As indústrias com maior necessidade de suprimento buscavam algodão por Esalq. Contudo, as ofertas de tradings internamente estão acima do Indicador devido à combinação de futuros e câmbio, que estimula o escoamento externo, enquanto os produtores, com pouco algodão remanescente em estoque, não vendem abaixo do preço de multinacionais. A indicação de tradings é de R$ 7,50 por libra-peso. O Indicador vem oscilando no mercado brasileiro diante da forte disparidade entre os valores de compra e venda dos agentes ativos no spot.
O desacordo sobre preços entre vendedores e compradores e o feriado de Tiradentes (21/04) mantiveram a liquidez doméstica baixa na última semana. Os vendedores estão mais ativos que compradores, uma vez que indústrias apontam dificuldades no repasse de novos reajustes da matéria-prima aos seus produtos. Parte das empresas pressiona os valores no spot e/ou se mantém fora do mercado, usando estoques e/ou a pluma de contratos a termo. Para a safra 2021/2022, as fábricas estão parcialmente cobertas, tendo adquirido algodão entre R$ 6,00 e R$ 6,20 por libra-peso, mas atualmente a referência de compra fica em R$ 7,00 por libra-peso, para entregas de agosto a dezembro.
As fábricas estão reticentes em adquirir novos lotes a valor mais alto. A colheita da safra de algodão 2021/2022 no Brasil começou em áreas do Paraná e de São Paulo após reportes de colheita no sudoeste da Bahia. O ritmo de colheita se intensifica no mês de junho, mas nesses Estados a semeadura se inicia em novembro e por isso a colheita ocorre nesta época. Na avaliação dos compradores, os preços futuros na Bolsa de Nova York estão inflacionados por compras de fundos e necessidade de fixação. Com isso, muitas indústrias preferem aguardar para ver como ficará o mercado quando expirar o contrato julho. Os contratos mais curtos na Bolsa de Nova York têm tido influência diferente dos mais longos.
Para a safra atual, cuja referência é o contrato julho, a principal questão são os contratos on call de fiações. Quando fiação fixa o preço de compra, tradings compram futuros na Bolsa de Nova York. Por haver muitos contratos de fiação a serem fixados, há muitos contratos em potencial a serem comprados na ICE. Essa situação deixa a Bolsa de Nova York, pelo menos até o julho, com potencial de continuar subindo. A procura chinesa, por outro lado, parece ter diminuído. As vendas externas dos Estados Unidos nos dois últimos relatórios semanais de exportação do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) foram menores. A China comprou bem menos do que nas semanas anteriores.
Se os lockdowns no país asiático forem estendidos para outras cidades, isso pode afetar o consumo do país. Quanto ao consumo global, há receio sobre os efeitos do conflito entre Ucrânia e Rússia, da pressão inflacionária e da própria alta do algodão. Já o contrato dezembro, que reflete a safra 2022/2023, está mais baixo devido à perspectiva de que vá aumentar o plantio nos Estados Unidos. Contudo, que o país enfrenta o La Nina, o que pode trazer seca para o Texas, que representa mais de 50% da produção. Se o clima continuar dessa forma, pode haver estresse e o preço da safra nova deve se sustentar. A umidade do solo preocupa, pois nos últimos meses choveu abaixo da média e continua sem previsão de normalizar. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.