08/Mai/2020
A negociação de algodão no disponível é lenta no Brasil. Algumas fábricas retomaram operações, especialmente na Região Sul do País, mas com apenas parte da capacidade, enquanto outras seguem em férias coletivas. As indústrias têm segurado aquisições de algodão, já que o varejo no centro do País segue fechado. Algumas empresas da Região Sul voltaram a funcionar, mas com 30% ou 50% da capacidade. Outras fiações seguem em férias coletivas até o fim de maio. Apesar da retomada parcial das operações, não há indicações firmes no spot ou para entrega no segundo semestre. Os contratos de abril ainda não aconteceram, os embarques de maio não vão acontecer. Quando esses contratos atrasados começarem a ser embarcados, deve ser feito de maneira escalonada, de junho em diante.
Mesmo com a reabertura de lojas em partes da Região Sul do País, as indústrias dependem de grandes polos consumidores, como São Paulo e Rio de Janeiro, que ainda estão em quarentena. É uma situação crítica. É necessário que a curva da pandemia do coronavírus achate principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo para que volte a demanda. Os grandes clientes das fiações da Região Sul são desses Estados. Sem conseguir escoar fios e tecidos, as fábricas postergaram o recebimento de algodão e estão evitando novas compras. Mesmo nas cidades onde o comércio já reabriu, os consumidores estão temerosos em comprar roupas, dando prioridade a alimentos e medicamentos, em virtude do desemprego ou temor de recessão.
A liquidez no mercado de algodão aumentou a partir da terceira semana de abril, com vendedores mais ativos e interesse, ainda que pontual, de compras por parte de comerciantes e industriais. Ainda assim, o Indicador Cepea/Esalq, com pagamento em 8 dias, caiu 6,29% no acumulado de abril, fechando a R$ 2,66 por libra-peso no dia 30, sendo a queda mensal mais expressiva desde julho de 2019, quando foi de 7,7%. Estão ativas no spot as indústrias que produzem itens hospitalares, o que representa apenas uma pequena parcela do mercado. Pontualmente, os agentes das indústrias repensaram sobre o setor, com indicações, inclusive, de mudança em parte das linhas de produção para atender essa atual demanda, como fabricação de máscaras de tecidos.
A indústria têxtil e de confecção registrou demissões em pelo menos metade das empresas no Brasil, segundo pesquisa feita pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecções (Abit), na semana passada, entre os dias 27 e 30 de abril, um pouco mais de um mês depois do início das medidas de isolamento social em vários Estados e municípios. Segundo o levantamento, 52% das companhias já demitiram em razão da crise causada pela pandemia. Por enquanto, a maior parte das empresas está entre as que menos demitiram. Em 44% delas, as demissões atingiram até 5% dos trabalhadores. Em 19%, os cortes afetaram entre 6% e 10% dos funcionários. Em outras 19%, algo entre 11% e 15% dos colaboradores foram demitidos. Nas demais, os cortes atingiram mais de 16% dos trabalhadores, sendo que em 4% delas pelo menos 41% dos funcionários foram demitidos.
As demissões, contudo, não são o recurso mais utilizado pelas empresas para enfrentar a crise. De acordo com a pesquisa, 80% recorreram ao chamado home office (regime de trabalho em que o funcionário trabalha de casa). Além disso, cerca de 70% também anteciparam férias, 57% recorreram ao banco de horas e 54% promoveram férias coletivas. A pesquisa também mostra uma adesão de 61% das empresas a reduções de jornadas e salários na mesma proporção, como prevê a Medida Provisória adotada pelo governo federal, com duração de três meses. A Abit projeta que a atividade do setor deve terminar 2020 com queda de 10% em relação a 2019. Portanto, é razoável supor, mas não desejável, que cerca de 10% das empresas não consigam terminar o ano, uma referência às companhias que podem falir antes do fim de 2020, em razão das dificuldades financeiras causadas pela crise. Hoje, 63% das empresas afirmam que houve diminuição de mais de 50% nos pedidos.
Quanto aos preços internacionais da fibra, embora notícias de aceleração de compras chinesas de algodão norte-americano sejam positivas, o cenário frágil da demanda indica que os estoques apenas mudaram de lugar, afirmou o Itaú BBA. Após atingirem os menores patamares desde o 1º trimestre de 2009, os futuros do algodão voltaram a subir em abril (+13% no primeiro contrato). A força para esse suspiro para os preços na Bolsa de Nova York veio do retorno da China às compras da pluma norte-americana tirando proveito dos baixos preços históricos da pluma para formar estoques. No Brasil, o mercado foi na direção contrária, com queda do Indicador Cepea/Esalq.
Isso reflete a letargia do mercado local diante do baixo interesse de compras tanto das fiações locais quanto das tradings para exportação. A demanda mundial por algodão continuará prejudicada pela redução da atividade industrial (parada de fábricas) diante dos lockdowns em muitos países e por enfraquecimento da economia global e baixos preços do petróleo, que aumentam a competitividade da fibra sintética. O potencial de alta das cotações da fibra é limitado, conforme o banco, mas algum alívio pode vir de revisões para baixo do volume a ser produzido no mundo na próxima safra. Para que o balanço volte a ficar em equilíbrio, a queda da produção em relação à safra 2019/2020 teria que ser da ordem de 10% se assumirmos que em 2021 os níveis de demanda permanecerão próximos aos de 2020. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.