30/Abr/2020
Os produtores de algodão brasileiros pediram ao governo recursos para financiamento de estocagem da fibra a fim de atravessar o período mais crítico do coronavírus, pois têm visto seus embarques serem adiados após indústrias têxteis paralisarem atividades no País e no mundo. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), o pedido é para criar uma linha de crédito para financiar estoque. Hoje, já existe o EGF (linha de crédito para armazenagem), mas o teto é pequeno por produtor, seria necessário ampliar o teto. Outro pleito junto ao governo para minimizar os impactos da pandemia na cadeia produtiva é o reajuste do Preço Mínimo. A entidade defende um Preço Mínimo de R$ 91,97 por arroba, contra os atuais R$ 72,00 por arroba. O índice é referência para programas governamentais de crédito e suporte à comercialização.
Mesmo com o ajuste, o valor ainda estaria abaixo do mercado. Além do algodão já negociado e que não conseguiu ser embarcado, a previsão é de falte negociar em torno de 30% da safra 2019/2020, que começa a ser colhida em alguns Estados. A área plantada pode diminuir até 40% na safra 2020/2021 se as restrições para controle do coronavírus se prolongarem e os produtores tiverem falta de liquidez com o adiamento de contratos. Entretanto, essa ainda não é uma estimativa fechada, depende de como o mercado doméstico e internacional vai se recuperar das medidas de isolamento, como quarentenas e lockdowns. Pode ter redução de até 40% se produtor não tiver liquidez para o produto neste ano. Há atraso de embarque de algodão e, assim, o produtor fica descapitalizado, resultando em um fluxo de caixa deficitário. Se os contratos adiados forem cumpridos mais à frente e os futuros na Bolsa de Nova York reagirem, é possível que a redução de área não seja tão acentuada.
Os produtores também aguardam para ver como ficarão as intenções de plantio no restante do mundo. Ainda é cedo para a decisão final sobre a área do ano que vem, mas os preços de algodão têm caído bastante, e os custos de produção estão aumentando. Como o algodão é um produto trabalhado bastante no mercado futuro, é difícil fazer a definição do planejamento do ano que vem com o preço abaixo do custo de produção. A expectativa do setor por enquanto é de uma queda de 3 milhões de toneladas do consumo mundial após a crise da Covid-19. No Brasil, muitas fábricas estão fechadas e não conseguem entregar produto acabado, por isso frearam o recebimento da fibra usada como matéria-prima. A cadeia não está trabalhando, e isso vai se refletir na ponta do algodão. Às vezes o algodão está vendido, já tem preço, mas não tem embarque, porque as fábricas não estão trabalhando com toda a capacidade. Se São Paulo e Santa Catarina, que são os maiores consumidores de algodão, autorizarem a retomada das atividades em maio, os recebimentos podem voltar a ocorrer.
Não há reporte de cancelamentos até o momento. O que pode acontecer é alongamento de carregamento, um prazo extra, mas rompimento de contrato ainda não. Para a safra atual, 2019/2020, que está no campo, as perspectivas de produtividade e qualidade são positivas, com boas condições de lavouras no País. Alguns estados, como Goiás, São Paulo e Paraná, já tiveram as primeiras áreas colhidas, mas Bahia e Mato Grosso devem iniciar os trabalhos em junho. A produção brasileira é estimada em 2,866 milhões de toneladas, queda de 1% ante a safra anterior. A promoção do algodão brasileiro na Ásia será importante para abrir novos mercados para exportação e ampliar a participação da fibra brasileira nos países que já importam em um cenário de demanda menor. No Brasil, a movimentação segue limitada. Algumas indústrias estão comprando, mas pouco. Parte das fábricas brasileiras ainda não retomou as atividades e parte não sabe se poderá continuar operando, dependendo de como ficarão as medidas contra o coronavírus daqui para frente.
Os poucos negócios fechados ocorrem a R$ 2,70 por libra-peso para entrega em maio. Para entrega no segundo semestre, as quedas recentes dos futuros na Bolsa de Nova York mantêm os vendedores afastados das negociações. Os compradores estão cautelosos por não saberem como será a operação no segundo semestre. Há contratos com entrega em abril e maio que as fábricas não estão recebendo. O produtor quer entregar o algodão, mas não condições com as fábricas fechadas. Na Bolsa de Nova York, os futuros de algodão fecharam em alta nesta quarta-feira (29/04). O mercado foi influenciado pelo fortalecimento do petróleo, que diminui a competitividade de fibras sintéticas. O recuo do dólar ante as principais moedas, que torna commodities produzidas nos Estados Unidos mais atraentes para compradores estrangeiros, também deu suporte às cotações. O vencimento julho da pluma subiu 134 pontos (2,40%) e fechou a 57,12 centavos de dólar por libra-peso, mas acumula queda de 19,23% em 2020. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.