08/Jan/2020
O volume de algodão a ser colhido no Brasil na safra 2019/2020 será quatro vezes superior ao estimado para a demanda doméstica. Em 2018, a produção estava três vezes acima do consumo e, até 2017, correspondia por pouco mais que o dobro. Isso significa que o Brasil tem condições e necessidade de atender à demanda mundial durante todo o ano. Esse cenário é resultado da manutenção da área plantada com a pluma no País. Ainda que os preços internos do algodão em pluma no segundo semestre de 2019 tenham ficado quase 20% menores que os registrados no mesmo período de 2018, a atratividade da cultura frente a concorrentes, os investimentos em ativos fixos (como máquinas, equipamentos e beneficiadoras) e aos contratos antecipados para 2020 e 2021 incentivam produtores.
Em relatório divulgado em dezembro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou área de 1,64 milhão de hectares na safra 2019/2020, aumento de 1,6% na comparação com a temporada anterior. A produtividade média estimada inicialmente é de 1.658 quilos por hectare (-1,6%), o que deve manter a produção nacional em 2,73 milhões de toneladas. Mato Grosso deve aumentar em 0,8% a área, para 1,101 milhão de hectares, mas a produtividade deve cair 1,1% (1.643 quilos por hectare) e reduzir a produção em 0,4%, somando 1,809 milhão de toneladas. Para a Bahia, a Conab projeta área de 350 mil hectares, aumento de 5,4% frente à safra 2018/2019. No mesmo comparativo, ainda que a produtividade média recue 3,4%, para 1.738 quilos por hectare, o volume produzido deve se elevar em 1,8%, totalizando 608,4 mil toneladas.
Estes dois Estados, juntos, correspondem por 89% da produção nacional. Em Mato Grosso, o Retorno por Real Investido sobre o Custo Total (RRCT) do sistema soja + milho 2ª safra passou de -15% em novembro/2018 para +3% em novembro/2019, devido aos constantes aumentos nos valores desses grãos. Neste mesmo período, o RRCT do algodão safra saiu de +7% para -6% e o sistema soja + algodão 2ª safra de 12% passou para 4% em novembro/2019. Em 2018, as rentabilidades do algodão safra e do sistema da pluma com soja estavam mais elevadas, em 17% e 23%, respectivamente. Para a temporada 2019/2020, as estimativas apontam certa estabilidade nos níveis de custos de produção por unidade de área.
Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em 2019, o Brasil exportou 1,61 milhão de toneladas. As expectativas são de que esse volume seja alcançado também de agosto/2019 a julho/2020 (período em que o produto da safra 2018/2019 está disponível). Para os 12 meses seguintes (de agosto/2020 a julho/2021), a expectativa é de que os embarques somem mais de dois milhões de toneladas. Um fator importante é o resultado de um possível acordo comercial entre os Estados Unidos e a China. Isso porque, desde 2018, as exportações brasileiras de algodão foram favorecidas com a guerra comercial entre os dois países. Certamente, o expressivo comprometimento de pluma via contratos antecipados para os mercados interno e externo podem amenizar impactos de curto prazo, mas, no médio e longo prazos, poderá haver ajustes nas compras, especialmente por parte da China, maior comprador da pluma brasileira nos últimos dois anos.
Quanto aos preços, as negociações para embarque ao mercado externo no segundo semestre de 2020 (safra 2019/2020) tiveram média de 73,52 centavos de dólar por libra-peso, 4,6% abaixo do registrado no mesmo período de 2019, referente à temporada anterior (77,06 centavos de dólar por libra-peso). Enquanto para o mercado interno as efetivações estão, em média, na casa dos R$ 2,70 por libra-peso. Para exportação ainda no primeiro semestre de 2020, envolvendo a safra 2018/2019, a média está em 70,60 centavos de dólar por libra-peso, baixa de 0,79% frente aos dados da safra 2017/2018, com embarque de janeiro-julho de 2019.
Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), de dezembro, estimam que o volume produzido mundialmente na safra 2019/2020 deve atingir 26,4 milhões de toneladas (+2,5% frente a temporada anterior), impulsionado pela Índia e pelos Estados Unidos. O consumo global deve permanecer estável se comparado à temporada anterior, em 26,19 milhões de toneladas. A comercialização pode totalizar 9,7 milhões de toneladas, com avanços de 4,4% nas importações e de 7,4% nos embarques frente aos da temporada anterior. O estoque mundial foi estimado em 17,49 milhões de toneladas para a temporada 2019/2020, alta de 0,8% sobre a safra 2018/2019. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.