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17/Mar/2021

Brasil: comércio com o mundo abaixo do potencial

A forma como o Brasil conseguiu capturar as oportunidades abertas pela ascensão econômica da China não se repete na mesma intensidade quando se olha para o comércio com as demais economias em crescimento acelerado no mundo. Apesar de avanços na maioria dos casos, a interação comercial na última década com os países que mais ganharam peso na economia global ainda está longe de seu potencial, se excluída a China da análise. No ano passado, esses países foram o destino de 10,6% das exportações brasileiras, ou o equivalente a apenas um terço das vendas do Brasil à China. Pode parecer um percentual significativo, porém é preciso ponderar que o fluxo é, em sua maior parte, puxado por negócios com o Sudeste Asiático, o que é visto por especialistas como uma extensão da dependência do comércio brasileiro com a China, dada a integração da região (formada por países como Indonésia, Malásia e Vietnã) com a segunda maior economia do mundo.

Fora da grande área de influência chinesa, há países em que o Brasil perdeu espaço nos últimos dez anos, sendo a Índia o caso mais emblemático, e outros, como Turquia e Bangladesh, em que as exportações mais do que dobraram no período. Nada comparável, no entanto, com o impacto da China na balança comercial brasileira. Se somado o fluxo do Sudeste Asiático com o dos demais países em crescimento, um grupo que inclui ainda Etiópia, Iraque, Irlanda e Uzbequistão, o volume adicionado às exportações brasileiras na última década beirou os US$ 10 bilhões, uma cifra considerável, mas distante dos US$ 37 bilhões gerados pelo crescimento do comércio com a China. Trata-se de uma diferença que não pode ser explicada pelo tamanho da economia chinesa, na medida em que a fatia global do Produto Interno Bruto (PIB) somado desse grupo, de 16,8%, está próximo do peso da China na economia global: 17,4%, conforme mostram as estatísticas do Banco Mundial.

A falta de competitividade, cuja solução depende da eliminação de gargalos estruturais que geram um desigual custo de produção no Brasil, é o motivo frequentemente citado por empresários ao tratar das dificuldades que impedem o País de entrar em novos mercados e perseguir uma pauta de exportações menos concentrada em produtos primários. Contudo, especialistas em comércio exterior apontam também outras causas, incluindo na conta erros de estratégia em mercados internacionais, o isolamento comercial histórico do Brasil e os atrasos numa agenda que deveria ser de estreitamento de laços com a Ásia, a grande força emergente da economia mundial. O deslocamento econômico e, consequentemente, de poder para a Ásia é relativamente novo e o Brasil ainda não percebeu esse fenômeno em toda a sua dimensão. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Brasil está conectado com a China, não com a Ásia.

Para entender as necessidades de consumo e de investimentos, bem como as contrapartidas que o Brasil pode oferecer a esses países, o núcleo de prospecção e inteligência internacional na FGV vem dialogando com embaixadores de diversos países asiáticos em entrevistas transmitidas pelo Youtube. Depois do embaixador da Indonésia, Edi Yusup, o primeiro a abrir a série há três semanas, a ideia é trazer, entre outros, representantes de Vietnã, já agendado para o fim deste mês, Filipinas, Malásia, Tailândia e, talvez, Cingapura. A ênfase inicial do projeto, chamado de 'Focus on Asia', no Sudeste Asiático não é aleatória. A transferência da manufatura de baixa complexidade, dentro do processo de transição da China rumo à indústria de tecnologia fortaleceu o intercâmbio comercial da região com o gigante do continente, resultando em uma melhora de renda da população e, consequentemente, maior consumo de alimentos.

É aí que o Brasil, como um dos maiores fornecedores de proteínas e grãos do mundo, entra na equação. Há potencial para o Brasil ampliar em US$ 7 bilhões, para US$ 21 bilhões por ano, as exportações a países do Sudeste Asiático. É preciso, contudo, mudar a postura atual de distanciamento. O Brasil ainda está razoavelmente de costas para a Ásia. Na lista dos 14 países que mais ganharam participação na economia global na última década, Turquia e Iraque, do Oriente Médio, Irlanda (Europa) e Etiópia (África) são os únicos que não fazem parte do continente asiático. Neste ranking de economias aceleradas, a Índia está entre os principais destinos do Brasil (1,4% das exportações totais), mas já consumiu mais do País. Ao se tornarem o maior produtor mundial de açúcar, a Índia reduziu as compras do produto, levando a uma queda de 17,4% das exportações do Brasil ao país na última década.

Na década de 80, o Brasil exportava três vezes mais do que a Índia, e agora a Índia exporta 50% a mais do que Brasil. Segundo a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), o problema é que o Brasil se acomodou em exportar commodities para a Índia. O crescimento da participação da Ásia é um dos movimentos que mais chamam a atenção na balança comercial brasileira, fazendo com que o País consiga reverter, em alguns casos, déficits nas trocas comerciais, em outras palavras, o Brasil passou para uma situação na qual mais exporta do que importa. Com a Tailândia, por exemplo, o saldo sempre foi negativo do lado brasileiro. Mas agora o Brasil já mostra superávit porque a Tailândia não só manteve as importações de soja e açúcar como ampliou a de outros produtos, principalmente alimentos.

Com certeza, as economias asiáticas seguirão crescendo e, à medida que a renda de suas populações for aumentando, o Brasil vai depender mais da Ásia como consumidor de seus alimentos. Pensando além dos alimentos, o Brasil terá maior sucesso na diversificação da pauta comercial se der maior prioridade a produtos intermediários, como peças e tecidos, onde o custo de produção no Brasil pesa menos do que em produtos finais que percorrem todos os elos da cadeia. Há várias maneiras de contornar o custo Brasil. Os asiáticos gostam muito de parceria, e a cadeia de valor abre possibilidades de comércio de produtos intermediários, onde há, às vezes, maior facilidade de exportar e de estabelecer parcerias duradouras. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.