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10/Mar/2021

Reflorestamento de áreas desmatadas é desafiador

Com uma meta de restaurar 12 milhões de hectares de áreas desmatadas até 2030, o Brasil tem um desafio enorme para resolver em apenas nove anos. É o que indica um estudo inédito que buscou levantar projetos de restauração já em desenvolvimento em todo o País. Ele mapeou a existência de somente cerca de 66 mil hectares sendo restaurados ativamente com árvores nativas, o que representa 0,55% do compromisso. O dado faz parte do novo Observatório da Restauração e Reflorestamento, iniciativa que será lançada hoje pela Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, rede que reúne representantes do agronegócio, dos principais bancos do País, da academia e do ambientalismo. O grupo pondera que o levantamento (com dados de campo georreferenciados e tecnologia de monitoramento via satélite), ainda subestimado, é só um primeiro esforço de mapear esses projetos e que o número real é bem maior, pois certamente existem muitos outros que ficaram abaixo do radar e a ideia é que ele continue sendo alimentado com o tempo.

Mas, já começa a suprir uma lacuna que até então não existia e dá noção da necessidade de mais ações e da oportunidade econômica. Uma pesquisa divulgada no ano passado pelo WRI-Brasil, um dos parceiros do observatório, indicou a restauração florestal como um caminho para uma retomada verde da economia do País por ser um instrumento para geração de emprego e renda. O trabalho calculou um retorno de US$ 2,39 para cada dólar investido para a restauração com árvores nativas em um período de 20 anos. O Observatório tem como objetivo mostrar o que já está sendo feito, a fim de estimular novos projetos e parcerias, mas também apontar onde estão os principais gargalos e vazios no País. Além de visibilidade para as iniciativas, a plataforma traz também transparência e confiabilidade nos dados de restauração em escala nacional. Com o mapeamento vai ser mais fácil definir onde são os melhores lugares para fazer novas restaurações, de modo a, por exemplo, unir florestas que estão isoladas, fazer corredores ecológicos, contar com mão de obra que já foi formada, saber onde tem viveiro de mudas, banco de sementes, etc, e criar incentivos para essas áreas.

No futuro, a plataforma permitirá identificar os benefícios que os projetos estão gerando, como captura de carbono, melhora da qualidade do solo e água e geração de emprego e renda. A maioria dos projetos de restauração mapeados até o momento pelo observatório está na Mata Atlântica (93%), sendo 38,7% desses em São Paulo. Na escala de municípios, porém, o que mais está restaurando é o Rio de Janeiro (3,3 mil hectares). Essa desigualdade ocorre, por um lado, porque a Mata Atlântica é o bioma que foi mais desmatado no País (restam somente cerca de 12% de remanescentes da floresta original) e é onde mais ocorreram acordos com Ministério Público de ajustamento de conduta para cumprimento do Código Florestal. Além disso, a nova plataforma começou a ser alimentada com informações de outras bases regionais, como a feita pelo Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, hoje o mais organizado grupo do tipo. Mas, os pesquisadores que organizaram o trabalho estimam que a maior parte dos projetos, nesse momento, deve estar na Amazônia, informação que eles pretendem obter rapidamente a partir do momento em que a plataforma estiver no ar.

Uma das motivações de criar o Observatório foi justamente a noção de que existem muitas iniciativas de restauração no País, mas elas são pequenas e isoladas, o que acaba sendo um entrave para que ganhem escala. Com o primeiro levantamento, a ideia é que agora essa base seja alimentada com outros projetos, de modo a ajudar a alavancar o processo para que o Brasil possa cumprir seus compromissos. O Observatório traz ainda dois outros dados importantes para entender o contexto da restauração no Brasil. Foram mapeadas as áreas que passam por um processo de regeneração natural, uma pastagem abandonada, por exemplo, que voltou a ser floresta, e projetos de reflorestamento para fins comerciais (grandes extensões de monocultura, em geral ocorrem com árvores exóticas para a produção de madeira, papel e celulose). Segundo a Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura O Brasil terá pela primeira vez um espaço virtual para reportar avanços de recomposição florestal em todos os biomas do País.

O projeto, iniciativa da própria Coalizão, em parceria com WRI Brasil, Imazon, Coalizão e Conservação Internacional (ICI) e Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, será importante para monitorar iniciativas que garantam o cumprimento da meta climática brasileira e oportunidades de negócios ambientais no País. No Acordo de Paris, por exemplo, o Brasil se comprometeu a recompor a floresta nativa em 12 milhões de hectares. O observatório será um banco de dados virtual dos projetos de restauração, reflorestamento e regeneração natural no País. Pela primeira vez haverá dados e imagens que vão permitir o ingresso de investimentos e soluções baseadas na natureza para o desafio climático. A plataforma se divide em três partes: Restauração, Reflorestamento e Regeneração. Foram feitos mapeamentos por sensoriamento remoto usando dados do MapBiomas e do Projeto Florescer, do Imazon, o que permite mapear o reflorestamento no País, tanto de espécies nativas quanto exóticas. O monitoramento garantirá que a sociedade acompanhe as metas do Brasil no Acordo de Paris, entre outras, além da implementação do Código Florestal. Para a WRI Brasil, o projeto dará visibilidade aos projetos de restauração no País.

A plataforma vai integrar, qualificar e reportar onde estão ocorrendo restauração da vegetação nativa e silvicultura (com espécies nativas e exóticas) por meio da coleta de dados e iniciativas e projetos de mapeamento dessas áreas em uma plataforma única. A ideia também é entender melhor onde estão ocorrendo essas atividades que realmente interessam em termos de números, estratégias e benefícios, inclusive econômicos. Ou seja, o objetivo é dar visibilidade aos projetos de restauração, além de transparência e confiabilidade. Várias entidades contribuíram para alimentar o banco de dados do Observatório da Restauração e Reflorestamento, entre elas os dados compilados do MapBiomas, do Instituto de Florestas do Paraná; do Instituto de Terras, Cartografia e Geologia do Paraná; da Aliança pela Restauração da Amazônia; da Black Jaguar; do Corredor Ecológico do Vale do Paraíba; da Fundação Renova; do Ibama e do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, entre outras. Até o momento, conforme a ONG The Nature Conservancy Brasil (TNC), o Observatório compilou 79 mil hectares de restauração florestal no País; 10,9 milhões de hectares em regeneração natural e 9,35 mil hectares de reflorestamento. A data de corte é 2008.

O Observatório da Restauração e Reflorestamento será uma ferramenta extremamente útil para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Será útil principalmente para operações financeiras que lidam com restauração, apoio a reflorestamento, regularização ambiental e principalmente todas as questões que envolvem mudanças climáticas. A instituição já dispõe de ferramentas de geomonitoramento para acompanhar projetos que o BNDES financia, mas o Observatório vai permitir uma reunião de informações de projetos de recomposição florestal no País. O link para acessar o observatório é observatoriodarestauracao.org.br. O BNDES tem, em sua carteira de operações específicas de restauração florestal, projetos equivalentes a 30 mil hectares, sendo que 20 mil hectares já estão implementados. Recentemente foi feita uma chamada no âmbito do Fundo Amazônia para mais 15 mil hectares de recomposição florestal. Além disso, o banco já apoia, com R$ 300 milhões do Fundo Amazônia, os Estados brasileiros para implementação do CAR (Cadastro Ambiental Rural) e de seus programas de regularização ambiental. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.