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09/Mar/2021

Auxílio emergencial elevou consumo de alimentos

De acordo com pesquisa exclusiva da consultoria Kantar, no ano de pandemia, os brasileiros no geral aumentaram o consumo de alimentos dentro de casa, mas os mais pobres conseguiram colocar uma quantidade maior de comida no prato. Em 2020, o volume de itens consumidos dentro dos domicílios de todas as faixas de renda cresceu 4% em relação a 2019. No entanto, entre as camadas de menor renda, as classes D e E, o avanço foi o dobro, de 8%. O aumento do consumo de alimentos pelos mais pobres foi embalado pelo auxílio emergencial, que injetou cerca de R$ 300 bilhões na economia em 2020. Cerca de 70% das classes D e E, com renda familiar de até R$ 2,6 mil, receberam o benefício. Isso provocou um salto na receita dessa faixa da população, que gasta quase 25% do que ganha com comida. Com mais dinheiro no bolso, os mais pobres incluíram itens que não faziam parte do cardápio.

Presunto e apresuntados passaram a ser consumidos por 8,5 milhões de famílias das classes D e E no ano passado; 6,2 milhões de domicílios experimentaram empanados, do tipo nuggets, de frango, carne bovina e vegetais; 4,5 milhões foram às compras de hambúrguer, linguiça, maionese; 5,1 milhões passaram a usar manteiga e requeijão; e 7,1 milhões, azeite, mesmo do tipo misto, por causa da disparada de preço do óleo de soja. O acesso a novas categorias de produtos por conta do auxílio emergencial lembra o movimento que ocorreu no início do Plano Real, em meados dos anos 1990. Na época, a queda abrupta da inflação permitiu a compra de frango e iogurte pelos mais pobres. Agora, porém, esse movimento de consumo é tido como transitório.

E um primeiro sinal disso já começou a aparecer nos supermercados de São Paulo, que tiveram queda real de vendas este ano. O brasileiro comeu melhor no ano passado, porque o auxílio emergencial criou um poder de compra temporário. Semanalmente, a Kantar audita 11,3 mil domicílios para radiografar o consumo a partir do tíquete de compra. O estudo mostra que o auxílio turbinou o consumo de itens básicos, não sós alimentos, nas regiões mais pobres do País. Nas Regiões Norte e Nordeste, o gasto médio das famílias que receberam o auxílio cresceu 9,1% ante 2019, enquanto aquelas que não receberam desembolsaram 2,1% a mais na mesma região. Também a cesta de produtos perecíveis, que inclui carnes, verduras e frutas, foi a mais beneficiada pelo aumento da renda em 2020.

O gasto médio de todos os brasileiros que receberam auxílio aumentou 16% com esses itens. Já os que não receberam destinaram 13% a mais. Segundo a Comissão Econômica para América Latina e Caribe (Cepal), órgão das Nações Unidas, ainda não há dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) disponíveis sobre a fome no Brasil em 2020. Mas, considerando as informações sobre a redução da pobreza extrema, que é medida também pelo acesso a uma cesta básica de alimentos, 8,6 milhões de brasileiros podem ter deixado a pobreza extrema no ano passado por causa do Bolsa Família, do Benefício de Prestação Continuada e do auxílio emergencial. O desafio é sustentar essas medidas para que, no futuro, essa contenção possa se manter.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que autoriza a volta do auxílio foi aprovada no Senado no dia 4 de março e agora segue para Câmara do Deputados. A previsão é que a votação aconteça nesta semana. O valor do benefício deve variar entre R$ 150,00 e R$ 375,00. É uma cifra inferior aos R$ 600,00 pagos inicialmente em 2020. O governo ainda pretende restringir o auxílio a uma pessoa por família, ao contrário da rodada de 2020. A interrupção do pagamento do auxílio emergencial já bateu nas vendas dos supermercados neste início de ano. Em janeiro, a receita dos supermercados no estado de São Paulo, o maior mercado do País, caiu 0,2% em relação a janeiro de 2020, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas).

Para fevereiro, a perspectiva é de queda real de 1% em relação ao mesmo mês do ano passado. A ausência do auxílio emergencial nos dois primeiros meses do ano, somada ao cenário de desemprego alto e à base mais forte de comparação do início de 2020, contribuíram para o recuo dos números. Há redes que registram este mês queda superior a 5% no valor médio das compras ante o final de 2020. Outro sintoma do aperto é o aumento da procura por marcas mais baratas e a redução das vendas de produtos de indulgência, como chocolates, bombons e salgadinhos. Esses itens, hoje, já não fazem o mesmo sucesso nas lojas que atendem às classes C, D e E. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.