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24/Fev/2021

Brasil deveria aproveitar oportunidades na Europa

O professor sênior de agronegócio do Insper Marcos Jank diz que o Brasil deve melhorar seu diálogo com a Europa se fizer a lição de casa na parte ambiental, ou seja, fizer a regularização fundiária, aplicar o Código Florestal e melhorar a rastreabilidade. Com isso, poderá aproveitar oportunidades que o mercado europeu oferece. Essas oportunidades são, principalmente, em produtos com valor agregado. Esse é um esforço interessante para as áreas comerciais de empresas e deveria vir junto com um esforço para garantir produtos sem desmatamento ilegal. Apesar de estar entre os principais produtores e exportadores de produtos agrícolas, o Brasil tem, globalmente no setor, poucas marcas. O País não tem marcas internacionais de café ou de laranja, por exemplo, embora tenha algumas de carne. E a Europa é a região ideal para se testar produtos com valor adicionado.

Os europeus perderam peso como compradores de produtos agrícolas brasileiros. Em 2000, a região representava 40% das exportações do País, e hoje está em 16%, mas ganhou importância como formadora de opinião sobre o Brasil. A Europa aprovou o Green Deal, agora Estados Unidos e China estão indo na mesma direção. Isso vai criar uma frente americana-chinesa-europeia na Organização Mundial do comércio (OMC), na Conferência do Clima e no G-20 puxando por um ajuste. Já se fala, por exemplo, em acabar com produtos importados que tenham vindo de desmatamento. O Brasil é um dos países que podem garantir a segurança alimentar do planeta, pois fez uma das revoluções agrícolas mais importantes dos últimos tempos. No entanto, a imagem internacional do País nunca esteve tão ruim.

O País tem duas ou três safras por ano, integração lavoura-pecuária, energias renováveis, um Código Florestal eficiente. E, em meio a isso, o Brasil é vilão no desmatamento e no clima; todos os dias outros países publicam matérias criticando o avanço do desmatamento no Brasil. Isso obriga a fazer uma reflexão: se o Brasil é vilão, vítima ou solução. A solução é a combinação de tecnologias que poupam terra e uma matriz energética limpa. Por outro lado, o País também é um pouco vilão. Ainda não conseguiu regularizar a posse da terra. Tem problema fundiário gigantesco que dura várias décadas, com vários produtores operando sem título de propriedade. E o controle do desmatamento é muito complicado. Além disso, o Código Florestal é bem rígido, mas não foi implementado nos Estados. Se tivesse implementado o Código Florestal e feito a regularização fundiária, o cenário seria outro.

Os problemas do País nesse setor pioram tanto a imagem do Brasil quanto a captação de empresas. O Brasil aumentou a exportação para emergentes, mas no mundo rico já começam a surgir problemas com supermercados que não compram produtos com desmatamento e fundos que não querem investir em algumas companhias nacionais. Com isso, algumas empresas brasileiras começaram, individualmente, a criar seus sistemas. Os grandes frigoríficos, por exemplo, fazem sistemas de monitoramento, certificação, e rastreiam seus bois até chegar no bezerro. Assim, elas garantem a origem de suas cadeias de suprimento. Porém, isso pode criar um desequilíbrio entre as grandes empresas, que monitoram rigorosamente seus produtos, e as demais. Só entre 20% e 25% da carne brasileira, por exemplo, é exportada. A maior parte fica no Brasil. a dúvida é sobre o que acontece com o resto. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.