ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

22/Jan/2021

Agronegócio: impactos do novo governo dos EUA

Mais comprometido com a agenda ambiental e climática, o novo presidente dos Estados Unidos deve pressionar para que o Brasil fortaleça políticas nessas áreas. Para o agro nacional, isso significaria mais compromisso do setor em eliminar formas de produção que ainda causam desmatamento. Joe Biden tomou posse na quarta-feira (20/01), anunciando medidas de fortalecimento da agenda climática e ambiental. Para o agronegócio brasileiro, um dos maiores exportadores do mundo, isso pode significar uma pressão maior para que o setor que reforce medidas de combate ao desmatamento. Além disso, os dois países disputam o maior cliente do agronegócio no mundo, a China. A guerra comercial entre os Estados Unidos e a potência asiática acabou beneficiando as exportações do Brasil. Mas, a expectativa é de que Biden tenha um relacionamento menos tenso com os chineses do que seu antecessor. Possíveis impactos para o agronegócio nacional com o novo governo dos Estados Unidos:

Pressão ambiental: diferentemente de Trump, Biden é mais comprometido com a agenda ambiental e, por isso, ele pode pressionar mais para que o Brasil e, consequentemente, o agronegócio, fortaleçam políticas nessa área. Segundo Raoni Rajão, especialista em gestão ambiental a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Joe Biden já chega com uma agenda ambiental e climática forte. Rajão é autor de um estudo divulgado pela revista "Science" em julho de 2020 que afirmou que até 22% da soja e pelo menos 17% da carne bovina, produzidas na Amazônia e no Cerrado e exportadas para a União Europeia, poderiam ter rastros de desmatamento ilegal. Uma pressão ambiental dos Estados Unidos poderia acabar gerando penalizações para produtos nacionais. Biden tem uma posição diferente de Trump em relação ao multilateralismo e, por isso, ele deve voltar a fortalecer a Organização Mundial do Comércio (OMC).

Uma das funções dela é estabelecer regras para os mercados internacionais, como penalizações, se um alimento está contaminado, por exemplo. Hoje não existe nenhuma regra na OMC em relação a produtos que venham do desmatamento, mas isso pode mudar. Para a Fundação Getúlio Vargas (FGV Agro), apesar da expectativa de que Joe Biden direcione esforços para acordos multilaterais, é pouco provável que ocorra alguma penalização ao Brasil via OMC em relação a questões ambientais. Isso tendo em vista que a entidade está enfraquecida há muitos anos. Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, mas as vendas da agropecuária representaram apenas 5,7% do total das exportações para aquele país, enquanto a indústria de transformação detém 86% desse volume, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O Brasil deve aproveitar este momento para mitigar os problemas ainda existentes no agronegócio.

Se os Estados Unidos estiverem oferecendo recursos para que o Brasil resolva o problema do desmatamento, é preciso aproveitar a oportunidade para revertê-lo. Biden declarou, durante debate eleitoral, que levantaria US$ 20 bilhões para o Brasil não queimar mais a Amazônia. O grande desafio do agronegócio daqui para a frente é trabalhar para reverter a imagem negativa do setor, construída tanto por declarações de lideranças de outros países como do Brasil. É preciso trabalhar para reverter essa imagem mostrando fatores positivos. Na produção de grãos, por exemplo, o País já adota técnicas de baixa emissão de carbono. Em relação à pecuária, o Brasil fez, de 2010 a 2018, uma recuperação de pastagens degradadas do tamanho do Reino Unido. O Brasil "é um grande protagonista da agenda climática e, por isso, o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris só traz benefícios. Além disso, Biden já visitou diversas vezes o Brasil e isso faz com ele conheça a realidade do País. Ressalta-se que 46% da matriz energética brasileira é renovável.

O Brasil é o país que mais substituiu combustíveis líquidos fósseis em todo o planeta (mais de 45% da gasolina e 12% do diesel). Para a Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), o retorno de Biden ao Acordo de Paris é muito salutar. É um acordo do qual o Brasil faz parte, mas que não tem atuado muito. Mas, não há saída para o País a não ser embarcar de forma mais séria nas questões ambientais, caso contrário, ficará na contramão do mundo. A vasta produção do agronegócio é feita sob normas muito fortes, até maiores do que no mundo todo. Há, sim, problemas que precisam ser resolvidos dentro do setor, mas a produção é feita sob regras muito rígidas. Há muito desconhecimento com relação ao desmatamento. O que motiva é a atividade ilegal e criminosa, que não está ligada à produção organizada de alimentos, que está suportada por certificações. O setor organizado da produção de alimentos, a agroindústria, não desmata porque sabe que será penalizado, pois tudo está ficando integrado, digitalizado.

Disputa pela China: Brasil e Estados Unidos são grandes competidores na venda de grãos, disputando o maior cliente mundial, que é a China. O agronegócio brasileiro aumentou as exportações para o país asiático durante o governo Donald Trump, depois que a China praticamente parou de comprar soja dos Estados Unidos em meio à longa disputa que culminou com um acordo comercial em janeiro de 2020. Por esse acordo, que ainda vigora, a China se comprometeu a adquirir US$ 36,5 milhões em produtos agrícolas dos Estados Unidos apenas no ano passado. Para a FGV, ainda que haja uma expectativa de que o governo de Joe Biden tenha uma relação melhor do que Trump com a China, isso não significa que os dois países irão parar de disputar por hegemonia no cenário global. Ou seja: as tensões não deixarão de existir. O acordo entre Estados Unidos e China também não significa que o Brasil irá diminuir as suas vendas de produtos agrícolas ao país asiático no curto prazo. A China está demandando muitos grãos, recompondo o seu rebanho de suínos (que usam a soja como ração). E ninguém consegue atender a esta demanda como o Brasil. Fonte: G1. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.