ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

11/Jan/2021

Preços de alimentos devem subir menos em 2021

Vilões da inflação em 2020 e muito pressionados pelo dólar, os preços dos alimentos devem dar uma trégua para o bolso do brasileiro em 2021, especialmente a partir do segundo trimestre. Nessa época o ano, é despejada no mercado a safra de grãos, que promete bater novo recorde. O alívio no gasto com a comida não deve ser pequeno. Os alimentos responderam por 65% da inflação de 2020, de 4,3%, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A folga dos alimentos, no entanto, poderá comportar o novo foco de pressões esperado para a inflação em 2021. Ele deve vir de dois grupos que neste ano ficaram bem comportados por causa da pandemia: os serviços e os preços administrados, cujos reajustes precisam ser autorizados pelo governo. Com o isolamento social, a demanda por serviços despencou e impediu os aumentos. Por sua vez, os preços administrados, que incluem tarifas de transporte, combustíveis, planos de saúde, medicamentos, por exemplo, ficaram estacionados boa parte do ano. Só a energia elétrica voltou com força este mês, com a bandeira tarifária vermelha que cobra uma taxa extra de R$ 6,243 a cada 100 kWh. Não há espaço para os alimentos continuarem subindo em 2021. A disparada dos alimentos em 2020 ocorreu por conta da maxidesvalorização do câmbio combinada com a maior demanda no mercado interno e externo. Juntaram duas coisas que nem sempre ocorriam ao mesmo tempo. A perspectiva é que essa escalada não continue porque os alimentos já estão num patamar muito alto. Além disso, o câmbio começa a arrefecer.

Como a folga na inflação dada pelos alimentos será muito grande, de 3 pontos porcentuais, ela poderá acomodar pressões vindas de outros grupos de preços. Por isso, levando em conta as informações disponíveis até o momento, o IPCA deverá fechar 2021 entre 3,3% e 3,8%. A inflação ao consumidor pode fechar 2021 em 3,5%, abaixo da meta, se houver um encaminhamento da política de vacinação e decisões para reduzir o déficit público. Com isso, as incertezas se reduzem e as pressões sobre o câmbio e preços em Reais também. Caso não ocorra, o IPCA poderá subir para até 4,5%. O último Boletim Focus do Banco Central mostra que o mercado espera uma inflação em 3,3% para o ano que vem. O problema será a trajetória da inflação ao longo de 2021. Como a disparada dos alimentos ocorreu a partir de setembro, a inflação acumulada em 12 meses deve atingir o pico e beirar ou até passar do teto da meta que é 5,25% para 2021 em maio, mas depois deve cair. A alimentação deverá perder bastante força em 2021. Provavelmente, os serviços vão acelerar com a recuperação da economia e os preços administrados também. Os papéis se invertem. A alta acumulada nos bens industriais no atacado ao longo deste ano, em torno de 25%, é outro risco importante à inflação de 2021. É uma pressão grande de custo e, com o crescimento da economia, haverá espaço para repasse. Para 2021, a projeção é de aumento 3,4% dos bens industriais no varejo, ante alta de 2,9% em 2020.

No entanto, o fim do auxílio emergencial e o desemprego elevado poderão mitigar essa pressão. O que mais vai pesar na inflação de 2021 é exatamente essa herança de custos elevados de 2020 dos bens comercializáveis. Os preços ao consumidor estão hoje aquém dos preços de equilíbrio porque as empresas, para sobreviver, estão contendo ao máximo os reajustes. O movimento de repasse de custos herdados de 2021 deve impulsionar os índices ao consumidor no primeiro semestre de 2021. Outro foco de pressão para o IPCA de 2021 é a defasagem dos preços dos combustíveis, que hoje estão entre 10% a 12% abaixo das cotações no mercado internacional. Não há como segurar preços de diesel e gasolina que estão rebaixados artificialmente pela Petrobrás. O preço dos combustíveis e outros preços administrados são foco de preocupação da inflação de 2021. Neste ano, os administrados aumentaram 2,2% e a sua expectativa é de um avanço de 4,8% para o ano que vem. Isto é, mais que dobra o ritmo de alta. Entre os grupos do IPCA, o de preços administrados é o que mais deve avançar em relação a 2020 e responder por quase a metade da inflação do ano que vem. Entre os administrados, a pressão que deve vir da gasolina. Com o cenário de recuperação da economia mundial, a expectativa é que o preço do petróleo volte a acelerar e tenha um repasse significativo para os combustíveis no varejo ao longo de 2021. Ainda há, no médio prazo, a questão fiscal do País.

Existe a expectativa de uma ampla reforma, mas se ela for frustrada, isso deve manter o câmbio pressionado e pode afetar os preços em Reais e a inflação. Com a pandemia, os brasileiros tiveram de fazer o confinamento e a alimentação se destacou frente a outras despesas, inicialmente pela mudança de hábito de consumo. Houve outros complicadores, como a quebra de safra de feijão, redução da área plantada com arroz, desvalorização cambial, que resultaram em aumentos de preços, como de milho, soja, trigo e carnes. Começamos a exportar muitos produtos agrícolas, principalmente para a China. Isso complicou a vida da alimentação que foi o grupo que sofreu o maior desafio. Por outro lado, como não era possível consumir serviços por causa da pandemia, esses preços ficaram em banho-maria e, junto com os duráveis, não tiveram reajustes significativos a maior parte do tempo. Eles serviram de âncora para a inflação. Houve algum alívio também dos preços administrados, com bandeira tarifária da energia elétrica verde até novembro. Para 2021, basicamente, há dois cenários. Um considera não ter uma política muito assertiva de vacinação e de condução da questão fiscal.

A falta de solução para esses dois problemas aumenta a incerteza e pode gerar novas desvalorizações cambiais. Essas desvalorizações encarecem commodities que são usadas como matéria prima tanto para a produção de alimentos quanto para bens duráveis. Isso pode fazer a inflação surpreender e subir para até 4,5% em 2021. Se, no entanto, houver uma boa política de vacinação e o encaminhamento de medidas para redução da dívida pública, acho que poderemos fechar o ano com inflação de 3,5%, abaixo da meta, de 3,75%. A alimentação não deve subir tanto em 2021. O fato de dizer que ela não vai subir tanto não significa que vá devolver toda a gordura acumulada este ano. Se os alimentos continuarem caros em 2021, será um desafio para a população, mesmo que não subam mais. A influência de alimentos diminui em 2021, mas a dos preços administrados, dos bens duráveis e de serviços aumenta. O desemprego elevado vai ser um desafio para a redução da desigualdade, até porque começamos o ano com alimentos muito mais caros, além do fim do auxílio emergencial. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.