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08/Dez/2020

Desmatamento: empresas unidas contra a inépcia

No fim de junho, uma carta enviada ao governo brasileiro por um grupo de fundos estrangeiros, com cerca de US$ 5 trilhões sob gestão, colocou o setor privado brasileiro em alerta. As 30 instituições financeiras que assinaram o documento exigiam que o governo freasse o desmatamento, afirmando que havia uma incerteza generalizada sobre as condições para investir ou fornecer serviços financeiros ao Brasil. A ameaça era retirar investimentos do País. A reação interna veio quase que imediatamente. Lideranças de 38 empresas enviaram ao governo uma carta pedindo uma solução. Também não demorou para surgirem movimentos setoriais. Um deles veio da união dos três grandes bancos privados do País, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander, que lançaram em conjunto um plano de desenvolvimento sustentável da Amazônia.

O movimento dos bancos é apenas um exemplo de como o setor privado teve de se unir este ano para tentar se blindar do posicionamento ambiental e a hostilidade da política externa do governo de Jair Bolsonaro a importantes parceiros comerciais, como China e Oriente Médio. Grande exportador à Ásia e ao Oriente Médio, o setor agropecuário foi outro a colocar, publicamente, pressão sobre o governo. Uma coalizão formada por 250 organizações e empresas ligadas às áreas do meio ambiente e do agronegócio enviou ao governo um conjunto de seis propostas para deter o desmatamento. A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura reúne, do lado empresarial, companhias como JBS, Klabin, Marfrig, Amaggi, Basf, Danone, Natura e Unilever. Entidades que reúnem operadoras de telecomunicações e fornecedoras desse setor também publicaram cartas se opondo a políticas do governo. Nesse caso, se posicionaram contra restrições na implantação de redes 5G no Brasil.

O governo Bolsonaro vem defendendo barrar a chinesa Huawei, uma medida que alinharia o País aos Estados Unidos, ainda sob o comando do republicano Donald Trump. No caso da carta assinada pelos executivos de grandes empresas, a decisão de divulgar o documento enviado ao vice-presidente Hamilton Mourão pedindo soluções para o desmatamento partiu da percepção de que a situação ambiental estava se deteriorando. O Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds) havia soltado uma nota, em agosto do ano passado, mostrando preocupação com o desmatamento. Mas, os índices de desmatamento continuaram aumentando. Então, os presidentes das empresas que fazem parte do Cebds entenderam que tinham de ficar mais vocais e que eles mesmos tinham de assinar o novo comunicado. É diferente o presidente de uma empresa se posicionar, e não a instituição.

O documento, que foi divulgado com 38 assinaturas, já reúne 92 signatários. Após a publicação da carta, o desmatamento continuou aumentando, mas houve uma intensificação das conversas com o poder público. Mourão, que centraliza o debate no governo por ser o presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, admite que falta estrutura para que os trabalhos contra o desmatamento avancem, o que depende também de outros ministérios. Ainda não existe uma meta que coíba o desmatamento. É preciso que os governos estaduais e federal atuem. O Itaú BBA, uma das instituições que têm levantado a bandeira da preservação ambiental, não vê o debate como um problema de governo. Há entendimento de que a questão da Amazônia é de Estado.

É preciso de uma governança forte e o estabelecimento de metas efetivas. Há muita preocupação quanto às consequências para o Brasil no caso da degradação ambiental, pois vai faltar investimento e vão cortar o crédito. Existe expectativa internacional para que esse movimento seja revertido. O banco alerta para o impacto sob a ótica do investimento, com o Brasil podendo sofrer discriminação caso não atente para a questão ambiental. Haverá discricionariedade contra o Brasil na seleção de investimentos. As crises ambientais podem ser gravíssimas. Essa percepção motivou a união para trabalhar solução, ajudar a construirmos uma solução para o problema da Amazônia.

Ainda segundo o Itaú, os problemas da Amazônia são complexos e a solução depende de um trabalho conjunto do governo, da iniciativa privada, sociedade e até mesmo dos investidores internacionais, que têm questionado a postura do Brasil quanto ao tema ambiental. A união dos três maiores bancos privados e concorrentes para apoiar a região visa a deixar um legado de que a concorrência fica em segundo plano quando o tema é nacional e urgente. O objetivo dos rivais privados é, conforme o Santander Brasil, demonstrar liderança no programa de transformação do Planeta. Não há nenhum protagonismo. O objetivo é ser exemplo para que outras indústrias se alinhem e que uma coalização vá sendo construída em que efetivamente setor privado passe a ter papel importante.

A pandemia mostrou que todos são interdependentes e que se não existir um trabalho conjunto, todos perdem, tanto a sociedade quanto o País. O Bradesco alertou para o risco que as empresas correm de desaparecerem se não aderirem à agenda ASG (ambiente, social e governança). A empresa vai deixar de existir não só por incompetência. O cliente vai abandoná-la. As pessoas não vão mais tolerar empresas que não tenham preocupações. É importante manter um sentimento de indignação para situações que se tornaram corriqueiras no País como pessoas vivendo na rua, destruição do meio ambiente, dentre outros. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.