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07/Dez/2020

Crédito Rural: CPR em dólares se torna realidade

O Itaú BBA desembolsou a primeira Cédula de Produto Rural (CPR) financeira em dólar do mercado brasileiro após a sanção da lei 13.986, de abril deste ano, que deu segurança jurídica para esse tipo de operação. A emissão foi de US$ 2 milhões para financiar a safra de verão (1ª safra 2020/2021). Apesar do valor, baixo para o tamanho da demanda por recursos do agronegócio nacional, a ação abre caminho para um instrumento que poderá se tornar o principal produto do banco já em 2021. No dia 3 de dezembro, mais duas operações foram fechadas. Outras trinta operações deverão ser concluídas neste mês, em patamares próximos a US$ 100 milhões. A expectativa é que 20% da carteira de clientes do setor do banco, estimada em R$ 50 bilhões em 2021, possa ser de recursos vindos das CPRs em dólar. A expectativa é de que esse seja o principal produto do banco para clientes do agronegócio que desejam ter dívida indexada em câmbio.

O objetivo é fazer os recursos chegarem de forma mais rápida e barata ao produtor. A operação da primeira CPR foi feita em favor de um produtor da região oeste da Bahia para financiar a lavoura de soja. O título foi registrado na B3 e a liquidação será em prazo inferior a um ano, bem como as outras duas operações finalizadas. O produtor recebeu uma quantidade em Reais, valor da operação convertida pela taxa na data do desembolso, e no vencimento vai pagar em Reais o montante devido com a taxa de câmbio do dia. Dentro da gestão de risco dele, o cliente venderá a soja em dólar para alguma trading com mesma data de vencimento para garantir que não há exposição cambial. O banco também recebe uma taxa de juros em linha com seus principais programas de crédito mais competitivos. Embora os depósitos sejam apenas em Reais, o Itaú BBA, como qualquer outra instituição financeira, precisa captar recursos em dólar para fazer tal operação. O banco levou quatro meses para criar o produto e a nova linha de financiamento.

A CPR em dólar será uma alternativa para o custeio de lavouras e pré-pagamentos e notas de crédito de exportações. Diferentemente da CPR física, em que há a promessa da entrega de um produto na data de vencimento em troca da antecipação de recursos, a CPR financeira é liquidada em dinheiro. Mesmo referenciada em dólar, a liquidação continua sendo em Reais. Apenas a denominação passa a ser em moeda estrangeira em uma combinação entre a quantidade de sacas de soja e o preço do produto em dólar, definindo o valor a ser pago no prazo futuro. Sem um dado oficial devido a não obrigatoriedade de registro desses títulos, a estimativa é que as duas categorias movimentem mais que o Plano Safra. A emissão de CPR em dólar já era possível, mas a nova lei deu segurança jurídica. Algumas operações foram feitas há alguns anos, mas havia risco. Depois dessa pacificação, o mercado começa a ficar mais confortável em estruturar.

A CPR em dólar é opção interessante para pequenos e médios produtores combinarem custos e receitas, já que muitos trabalham dolarizados, mas ainda se financiam em Reais. Com esse instrumento, eles têm acesso a um mercado até então limitado a grandes produtores de forma mais ágil e barata. O tomador de recursos faz um hedge natural ao emitir a CPR em dólar, pois o seu ativo é dolarizado, como soja, milho e algodão e mesmo o arrendamento de terra ou maquinário, pago em sacas dos produtos. Assim, conseguem acessar recursos estrangeiros sem precisar comprar operação de derivativo para se proteger. A maior expectativa é para o uso das CPRs em dólar como lastro para fomentar o mercado de Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) referenciado também em dólar com depósito direto no exterior, o que exime investidores de burocracias no Brasil e risco com a moeda local. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.