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02/Dez/2020

Exportações: Brasil depende das vendas à China

No centro de polêmicas recentes criadas por declarações do entorno do presidente Jair Bolsonaro, a China tem sido cada vez mais importante para o comércio exterior brasileiro. Apesar de o presidente ter dito, no dia 29 de novembro, que os chineses precisam mais do Brasil do que os brasileiros da China, os números parecem mostrar que a balança da dependência pende mais para o lado dos sul-americanos. De janeiro a outubro deste ano, um terço de tudo o que o País vendeu para o exterior teve como destino a China, principal parceiro comercial do Brasil desde 2009, quando ultrapassou os Estados Unidos, e uma das poucas nações que aumentaram as compras de produtos brasileiros neste ano. Pelo lado chinês, a representatividade do Brasil no comércio total é menor: no ano passado, os brasileiros venderam 3,8% de tudo o que os chineses compraram do exterior.

Bolsonaro afirmou que há dependência da China em relação ao Brasil, pois o país precisa comorar alimentos para a população. Mas, o ex-secretário de Comércio Exterior e consultor Welber Barral afirma que a situação não exatamente esta. A China depende de Brasil, Estados Unidos e Argentina em soja, que é o grande tema. Mas, em termos de volume de comércio, a exportação do Brasil para a China é pequena. A soja é estratégica, mas se a China pensar que o Brasil não é confiável, ela vai buscar alternativas. A relação dos dois países gera ganhos mútuos. Mas, se a China deixar de comprar produtos brasileiros, o país pode recorrer a outros mercados, inclusive aos Estados Unidos. Já o Brasil, principalmente no agronegócio, é muito dependente dessas vendas e até encontraria novos compradores, mas o fechamento da China teria o efeito de reduzir os preços dos produtos exportados pelo Brasil. Neste ano, as exportações para a China subiram 11% até outubro.

De acordo com dados do Ministério da Economia, apenas os embarques de soja para a China, que somam US$ 20,5 bilhões até outubro, superaram tudo o que o Brasil vendeu para o segundo parceiro comercial, os Estados Unidos, para onde embarcaram US$ 17 bilhões em produtos brasileiros, menos de 10% do total vendido pelo País. Mesmo a aproximação do governo Bolsonaro com o presidente Donald Trump não foi suficiente para fazer crescer o comércio entre os dois países e as exportações para os Estados Unidos caíram 30,6% até outubro. A importância dos brasileiros para os chineses e vice-versa varia de acordo com o produto exportado. No caso da soja, principal item embarcado para o país asiático, o Brasil responde por 65% de tudo o que a China importa, de acordo com dados do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC). Já a China compra 73,4% da soja exportada pelo Brasil.

Também vão para a China 87,2% da carne brasileira vendida ao exterior, 71,6% do minério de ferro e 47,5% da celulose. A situação de dependência mútua existente hoje no caso da soja, cuja exportação brasileira cresceu no rastro da guerra comercial Brasil-China, tende a ser reduzida a partir de 2022, em prejuízo para os brasileiros. A avaliação é que a eleição do democrata Joe Biden deve levar a uma melhor relação dos norte-americanos com os chineses, com a possibilidade de negociações em que a China se comprometa a comprar mais produtos dos Estados Unidos, inclusive a soja. Além disso, o fato de o Brasil precisar mais da China do que a China do Brasil, em mercados como a carne, por exemplo, abre espaço para retaliações comerciais ao País. Isso poderia ser feito, por exemplo, no caso de o Brasil banir a chinesa Huawei do leilão de tecnologia 5G.

Em troca, os chineses poderiam deixar de comprar produtos brasileiros em que seria mais fácil encontrar outros fornecedores. A China não pensa para 2022, ela pensa estrategicamente em 100 anos. A China, agora, está fazendo um enorme projeto de plantação de soja na Tanzânia. O Brasil não pode achar que vai fazer desaforo com a China neste momento e vai ficar por isso, porque não vai. Para a Câmara de Comércio Internacional no Brasil (ICC BRasil) há uma dependência nos dois sentidos e o melhor a ser feito é ampliar a pauta comercial brasileira, agregando destinos e produtos. Nos últimos 10 anos, a pauta tem se diversificado, mas ainda dentro do agronegócio. Declarações passageiras talvez não ajudem, mas vão passar. É preciso ter estratégias de longo prazo que independa dos governos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.