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24/Nov/2020

Política ambiental ameaça o agronegócio do Brasil

Com US$ 85,84 bilhões de vendas externas e superávit de US$ 75,46 bilhões, o agronegócio manteve no azul o comércio exterior brasileiro. Suas transações mais que compensaram o déficit de outros setores e garantiram o saldo comercial de US$ 47,66 bilhões no período de janeiro a outubro. Liderada pela China, a Ásia foi o principal destino das exportações brasileiras de origem agropecuária, tendo absorvido mercadorias no valor de US$ 46,28 bilhões. Com importações de US$ 13,86 bilhões, a União Europeia ficou em segundo lugar, posição já ocupada em outros anos. Tudo isso ocorreu apesar da desastrosa diplomacia conduzida pelo presidente Jair Bolsonaro. Desprezando ou ignorando os interesses nacionais, o presidente brasileiro continua seguindo fielmente seu líder norte-americano, Donald Trump. Com essa obediência, pôs em risco o relacionamento do Brasil com vários países do Oriente Médio, importantes compradores de produtos brasileiros. Alinhou-se aos Estados Unidos nas disputas com o governo chinês, tomando partido de forma absolutamente desnecessária.

Não cabe ao governo brasileiro entrar numa disputa entre dois dos maiores parceiros comerciais do País. Há poucos dias esse erro foi repetido, na conferência de cúpula do BRICS, quando o presidente Bolsonaro assumiu, perante os chefes de governo da Rússia, da China, da Índia e da África do Sul, as críticas de seu mestre Donald Trump à Organização Mundial da Saúde (OMS), à Organização Mundial do Comércio (OMC) e à ordem multilateral. Para os outros chefes de governo, a reunião de cúpula do BRICS pode ter sido apenas um desperdício, talvez uma desagradável perda de tempo. Para o presidente brasileiro, foi mais uma ocasião de manifestar fidelidade a Trump e de confrontar, de novo, os governos defensores de uma séria agenda ambiental. O governo brasileiro, segundo Bolsonaro, poderia apontar os países importadores de madeira extraída ilegalmente da mata brasileira, como se o atual governo brasileiro jamais houvesse facilitado a derrubada ilegal de árvores e a exportação irregular. Os dois pecados foram cometidos na gestão Bolsonaro.

Em vez de assumir, afinal, a defesa da Amazônia e de outros biomas sujeitos à devastação de grileiros, garimpeiros e madeireiros ilegais, o presidente insiste em manter uma posição rejeitada por brasileiros conscientes e responsáveis e amplamente condenada fora do Brasil. Ao manter essa posição, o presidente Bolsonaro compromete a imagem da agropecuária, vinculando-a à devastação ambiental. A grande produção rural brasileira, eficiente e competitiva, é realizada majoritariamente em outras áreas e de forma ambientalmente responsável. Mas, muitos milhões de estrangeiros ignoram esse e outros dados da geografia e da economia brasileiras e podem ser convencidos, muito facilmente, do caráter devastador do agronegócio brasileiro. Ao insistir em sua política ambiental, o presidente Bolsonaro, ajudado pelos ministros de Relações Exteriores e do Meio Ambiente, favorece concorrentes do agronegócio nacional e seus interesses protecionistas.

Esse protecionismo é politicamente forte na Europa. Os governos locais, mesmo os mais favoráveis ao comércio aberto, dificilmente poderiam opor-se aos protecionistas, nesse caso, quando o presidente brasileiro contesta os valores ecológicos internacionais, nega informações conhecidas de todos e trata a devastação como se fosse questão de soberania. Bastaria um mínimo de percepção dos interesses nacionais para qualquer pessoa rejeitar a política do presidente, mas ele age como se fosse incapaz de atingir esse mínimo. Mais que uma fonte de dólares e de ocupações, o agronegócio é um fator de segurança econômica para o Brasil. Tem sido uma proteção contra crises cambiais, já experimentadas de modo muito doloroso em outros tempos.

Fonte: Agência Estado.