ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

10/Nov/2020

Brasil teme perder mercados na China para os EUA

Representantes do agronegócio temem que uma gestão do democrata Joe Biden nos Estados Unidos afete a entrada da produção brasileira de grãos no mercado chinês. Políticos do setor, produtores e analistas afirmam que o governo Jair Bolsonaro precisa buscar moderação e pragmatismo diplomático com a China para assegurar a fatia de mercado, hoje o maior comprador do País. O cenário é complexo porque produtores dos Estados Unidos e do Brasil concorrem em produtos como soja, milho, algodão e carne. Eles disputam mercado como fornecedores para a China. Uma mudança de posição do governo norte-americano, já que Biden tende a adotar uma abordagem diplomática mais multilateral e menos agressiva, pode significar uma melhoria das relações entre as duas potências. No médio e longo prazos, a preocupação é que isso reduza a importação da soja brasileira pela China e aumente as compras dos norte-americanos. Algo similar ocorreu em 2020.

Nos primeiros meses do ano, após acertados os termos de uma trégua na guerra comercial travada com tarifações desde 2018, a China ampliou a compra de soja dos produtores norte-americanos. Autoridades dos dois países têm reiterado comprometimento com a primeira fase do entendimento. A despeito das rusgas geopolíticas com Donald Trump, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) registrou ao longo do ano seguidas vezes maiores aumentos nas vendas do grão à China. O governo norte-americano trata as vendas como recorde. Elas devem cair por causa dos estoques em excesso, feitos ao longo do ano. Houve uma onda de compra porque a China passou a estocar soja por causa de incertezas na produção de alimentos relacionadas à pandemia de Covid-19. Apesar disso, o Brasil também vem batendo recordes de venda do grão para a China em 2020. O ex-ministro da Agricultura, Blairo Maggi, um dos maiores produtores de soja do mundo, diz que o País ainda “não sentiu a pegada” dessas cotas importadas dos Estados Unidos e não do Brasil.

Segundo ele, a pandemia do novo coronavírus aumentou a demanda por grãos como milho e farelo de soja, que vêm sendo cada vez mais usados na ração dos suínos, um tipo de carne bastante consumida na China. Blairo Maggi afirma que a maior demanda coincidiu com a pressão de Donald Trump, e o Brasil não tinha mais safra para fornecer. A produção de grãos não cria muito excedente no mundo. Não há estoques reguladores, e a produção costuma ser toda absorvida pelo mercado no mesmo ano. Segundo Maggi, o comprador chinês pensa a longo prazo e busca estabilidade na segurança alimentar. Nesse sentido, entende que a saída de Donald Trump pode libertar o governo Bolsonaro do alinhamento automático ideológico com o republicano. A expectativa, nesse sentido, que a diplomacia nacional com um governo Biden seja mais positiva ao produtor brasileiro. Se não houver pressões, O Brasil vai vender e os Estados Unidos também. O Brasil fornece à China no primeiro semestre, os norte-americanos, no segundo semestre.

Para Maggi, o agronegócio pode ampliar espaço com a saída de Trump. Isso porque o republicano forçou a barra nas conversas para a trégua com a China para que os asiáticos ampliassem a compra de alimentos, carne e algodão. A relação Brasil - China ficou mais tímida porque Trump jogou duro para privilegiar os fazendeiros norte-americanos, em detrimento dos brasileiros. Jair Bolsonaro é muito alinhado com Donald Trump e quando o presidente é muito alinhado acaba não reclamando de certas coisas que deveria reclamar. Pelo menos politicamente deveria dizer ‘não ocupe o nosso espaço’. Se não houver esse alinhamento quase automático, Bolsonaro terá mais liberdade de negociações e até ampliar com a China. Será possível aliviar algumas críticas à China que vinham automáticas pelo alinhamento. Esta mudança deve trazer aos produtores e ao agro brasileiro um momento diferente nas negociações. Agora, será possível avançar um pouco mais. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.