ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

03/Nov/2020

Sicredi: recursos da poupança para investimentos

Na tentativa de suprir a demanda do setor agropecuário por recursos para investimentos, o Banco Cooperativo Sicredi tem recorrido à poupança rural como fonte. Como neste ano o governo federal autorizou a utilização de dinheiro de poupança rural para financiamento de investimentos do setor, a instituição financeira já direcionou entre R$ 330 milhões e R$ 340 milhões à finalidade. O ímpeto do mercado por dinheiro para investimentos em todos os segmentos é muito grande. A Sicredi cresceu 143% em valor contratado para investimentos de julho até 22 de outubro em relação a igual período do ano passado.

A forte demanda é uma resposta a três importantes fatores: um deles foi adiamento de investimentos por produtores na safra 2019/2020, em virtude do esgotamento de recursos federais antes do término da temporada; outra razão é a forte demanda internacional por proteína animal, que tem levado pequenos agricultores a investir em aviários e as taxas de juros do Plano Safra 2020/2021, inferiores às do ciclo anterior. O Sicredi deve ofertar na temporada atual mais de R$ 22,9 bilhões para o setor agropecuário, 12% acima do ofertado na safra 2019/2020. Deste montante, aproximadamente R$ 4,1 bilhões se destinarão a linhas de investimento.

Até 22 de outubro, no entanto, o volume liberado, de R$ 10,6 bilhões, superava em 23% o contratado no mesmo intervalo da safra 2019/2020. Do montante de crédito para investimentos do Banco Cooperativo Sicredi, boa parte vem do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Outras fontes são a poupança rural, fundos constitucionais das Regiões Centro-Oeste e Norte e linhas de bancos de desenvolvimento regional. Da poupança, o Sicredi deslocou R$ 260 milhões desde o início de outubro e pouco menos de R$ 100 milhões na semana passada. A captação de poupança teve um aumento relevante, viabilizando recursos novos para investimentos. Em um ano, o saldo de poupança cresceu 39%.

De acordo com o Sicredi, os depósitos em poupança até o fim de setembro chegavam a R$ 20,7 bilhões. A instituição tem buscado oferecer recursos de poupança a taxas e prazos atrativos para produtores, mas para seu principal público, os pequenos, tais condições não são competitivas. A taxa de juros adotada como referência em financiamentos de longo prazo, caso dos investimentos, não é a Selic. O juro para cinco anos hoje está próximo de 7% ao ano, enquanto o de linhas para pequenos produtores do Plano Safra gira em torno de 4%. Não é possível disponibilizar recurso de poupança para amortização em 10 anos com taxa de 4% ao ano.

Até porque é com o capital do cooperado que a instituição está trabalhando. A solução encontrada tem sido reduzir o prazo, para cinco a seis anos, com taxas de 6% a 7% ao ano, que atendem a médios e grandes produtores. Para o pequeno, fica caro. O dinheiro da poupança também pode alimentar linhas de custeio, mas, no cenário atual, o banco tem privilegiado os investimentos. O Sicredi também viu a procura por linhas do BNDES com juros equalizados pelo governo disparar. Em abril, quando fez seu planejamento para a safra 2020/2021, o banco cooperativo calculava que liberaria cerca de R$ 500 milhões provenientes do BNDES nos três primeiros meses da safra (julho a setembro).

Mas o valor chegou a R$ 1,2 bilhão, 179% acima dos R$ 430 milhões liberados em igual período de 2019. O BNDES tem linhas abertas com taxas mais altas (sem equalização). Mas o que esgota são aquelas com taxas menores, que são alvo da política pública. As recentes suspensões de crédito para investimento por parte do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) devem levar produtores de todos os portes a reduzirem as compras de máquinas agrícolas. O grande produtor rural pode comprar uma ou duas colheitadeiras com recurso próprio, mas não trocar a frota. O pequeno produtor depende de política pública, porque a produção de uma safra não paga uma máquina.

Desde o fim de setembro, o BNDES já suspendeu novos financiamentos das linhas Pronamp Investimento (destinado ao médio produtor rural), algumas do Pronaf (voltado ao produtor familiar), Inovagro (linha destinada à inovação agropecuária) e Moderagro (Programa de Modernização da Agricultura e Conservação dos Recursos Naturais). Na sexta-feira (30/10), o BNDES suspendeu também novas liberações de recursos para o Moderfrota, principal linha de financiamento de maquinário agrícola no País.

A interrupção das contratações não significa esgotamento dos recursos porque, neste ano, o BNDES criou um mecanismo que interrompe a liberação de crédito quando o volume liberado de uma linha do agronegócio chega a 80% do total. Parte dos pequenos e médios produtores, foco da atuação do Sicredi, deve fazer investimentos de menor valor com recurso próprio ou financiar equipamentos e soluções que ajudem a melhorar a eficiência de máquinas em uso, em vez de comprar uma máquina nova. Para eles tomarem crédito comercial, com juros de mercado, também é difícil, embora alguns estejam fazendo isso para coisas menores. O produtor brasileiro está capitalizado, mas o agronegócio é muito intensivo em capital. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.