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23/Out/2020

Brexit: Brasil busca oportunidades para agricultura

Enquanto o governo se mostra preocupado com as consequências do Brexit para o comércio internacional brasileiro, em especial com a agricultura, o setor privado se esforça para encontrar no divórcio do Reino Unido com a União Europeia (UE) oportunidades para os exportadores locais. Para identificar os pontos que poderão ser explorados com mais vantagens depois da separação, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) encomendou uma análise com o cruzamento de dados, depois que o governo britânico anunciou seu planejamento tarifário para quando estiver se retirado do bloco comum. De forma simplificada, algumas tarifas de produtos agropecuários foram reduzidas e, na média, o tributo para o setor passou de 18,3% para 16,1%. Depois da análise em mãos, os empresários brasileiros que pretendem explorar o mercado do Reino Unido nessa nova configuração terão de atuar de forma célere porque o Brexit entrará em vigor na prática no início do ano que vem, já que oficialmente ele foi concluído em 31 de janeiro, mas conta com um período de transição até o fim do ano.

O estudo, que ficará pronto no mês que vem, cruzará os dados das importações do Reino Unido, do que o país compra da União Europeia e das exportações brasileiras. A ideia é descobrir onde há mais oportunidade para o Brasil, para mostrar para o setor as melhores oportunidades. A CNA trabalha de forma próxima à Embaixada do Brasil em Londres para acompanhar o desenvolvimento do Brexit, que teve início com um plebiscito, em junho de 2016. Há uma preocupação, mas também é uma oportunidade. A grande questão é se a oportunidade existe para o mundo inteiro. A atenção do governo é porque, com a separação, a União Europeia passará a ser um competidor do Brasil no suprimento das importações britânicas, com a concorrência maior no segmento de proteínas animais, como carne bovina e de frango. O Reino Unido é um mercado cobiçado para a agricultura porque importa 50% de seus alimentos. Atualmente, 80% dessa demanda externa é suprida pelo bloco comum, já que não há fronteiras físicas ou alfandegárias entre os 28 países que formam o condomínio.

No momento, o governo do Reino Unido se apressa para fechar o maior número de acordos comerciais para iniciar 2021 sem interrupções em seu abastecimento, buscando replicar o que existe hoje entre a União Europeia e os outros países. Até agora, no entanto, apenas teve sucesso com o Japão. Mesmo as tratativas com o seu maior parceiro comercial atual ainda estão emperradas. O governo local já demonstrou interesse em negociar com o Brasil. Será possível identificar boas oportunidades para os brasileiros mesmo no caso de produtos que não tiveram redução tarifária. Há o temor de que os exportadores da União Europeia possam ficar com potenciais mercados que poderiam ser atendidos pelo Brasil. Atualmente, os produtos brasileiros chegam aos britânicos por meio de negociações gerais fechadas com o bloco. No ano passado, 7,8% de todas as exportações brasileiras agrícolas para a União Europeia, tiveram o Reino Unido como destino. Mesmo com variações do valor exportado em dólar, que caiu de US$ 1,91 bilhão em 2011 para US$ 1,32 bilhão no ano passado, a representatividade do Reino Unido não mudou muito no período, sempre ficando ao redor de 8%.

É um número representativo, mas não é exatamente bom porque o Reino Unido aumentou o valor das importações extra-bloco e as exportações brasileiras caíram no mesmo período. O tom mais otimista do setor privado para depois do Brexit se dá por causa da avaliação de que o agronegócio brasileiro conseguiu manter a resiliência de sua produção e entrega de alimentos mesmo durante a pandemia do novo coronavírus. No início do surto, a CNA foi procurada por Embaixadas de vários países questionando sobre se o Brasil iria proteger mercado doméstico durante a proliferação de Covid-19, já que havia uma preocupação em todo o globo em relação a um possível desabastecimento. O Brasil não tomou qualquer decisão protecionista nessa área. Uma das lições aprendidas com a pandemia e que pode ajudar nas tratativas com o Reino Unido é a de que os países perceberam que não devem buscar fontes únicas de fornecimento de produtos, independentemente da área. Os primeiros reflexos econômicos do surto na Europa, por exemplo, ocorreram justamente por falta de matéria-prima, em especial do setor automotivo, vinda da China, o primeiro país a sofrer com a doença.

Atualmente, os principais produtos importados pelos britânicos em todo o mundo são miudezas de frango, vinho, banana, café, peixe e uva. Não é possível, no entanto, fazer uma relação direta desses produtos com a atuação brasileira, pois é preciso verificar em quais deles o País é um forte competidor e ainda tem oferta disponível. Seria leviano apontar alguns itens agora, mas há confiança na competitividade do agronegócio brasileiro. Mesmo a distância não chega a ser um fator de eliminação nessa concorrência global porque, além do preço, os importadores também consideraram o tipo e a qualidade do produto, além da capacidade de entrega. O Brasil vende produtos agrícolas para 180 países do mundo, sendo o terceiro maior exportador do globo. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.