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07/Out/2020

Títulos Verdes: Brasil precisa avançar nas emissões

Este ano no Brasil foram registradas, até setembro, emissões de 11 títulos verdes, papeis de dívida com destinação de recursos atrelada a ativos ou projetos que tragam benefícios ambientais. O valor total não chegou a US$ 2 bilhões. Mais precisamente, US$ 1,712 bilhões. A grande maioria feita por empresas não-financeiras. Consideradas as emissões com recursos captados por instituições financeiras no País, até agora foram duas emissões de títulos verdes e uma de título social. Os dados, de um levantamento publicado no dia 5 de outubro, foram reunidos pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). E mostram que o Brasil ainda está tentando nadar na espuma da grande onda que se forma no mundo em direção aos chamados investimentos sustentáveis, com foco em critérios ambientais, sociais e de governança (ESG). O mesmo estudo mostra que, no primeiro semestre de 2020, as emissões desses títulos em escala mundial chegaram a US$ 91,6 bilhões, em 439 diferentes operações.

Um patamar respeitável, mas ainda 26% inferior ao do mesmo período do ano passado, provavelmente por causa da pandemia de Covid-19, segundo ressaltaram os pesquisadores. O estudo, intitulado "Tendências e oportunidades no mercado de títulos temáticos para o Brasil", foi apresentado em um dos painéis da Semana Mundial do Investidor (ou WIW), uma campanha de proteção aos investidores promovida em 80 países pela Organização Internacional das Comissões de Valores (Iosco) e coordenada no Brasil pela CVM. O encontro, online, segue até o dia 11 de outubro. No mês passado, a divulgação pelo BID do avanço mundial das emissões dos títulos de dívida temáticos, que somou USS$ 328 bilhões em 2019, já havia mostrado como os países da América Latina e Caribe ainda engatinham nessas iniciativas, sendo responsáveis por apenas 2% desse total. O Brasil ainda é o "gigante entre os pequenos". Respondeu, por exemplo, por 30% das emissões registradas este ano na região.

Mas, apesar de ser ainda um mercado incipiente por aqui, o País vê crescer o interesse de investidores por projetos que mirem em resultados sócio ambientais sustentáveis. "O investidor é a mola propulsora para essas coisas acontecerem. Quando começa a cobrar, as empresas se mobilizam para avaliar se vão emitir greenbonds, social bonds e, enquanto isso, vão fazendo girar todo esse meio de financiamento", comentou Sonia Consiglio Favaretto. Presidente do Conselho Consultivo da GRI Brasil, ela classifica como positiva e crescente a procura por estes papeis especialmente depois da constatação, no encontro de Davos deste ano, de que os riscos ambientais são os principais para a próxima década. Dois meses depois do Fórum Econômico Mundial, o mundo entrou em compasso de espera, com a decretação do estado de pandemia e o isolamento social adotado massivamente como a principal forma de combate ao avanço da Covid-19.

"Por conta da pandemia, percebemos que questões sociais, ambientais e de governança andam casadas com as econômicas. A agenda ambiental é agora essencialmente econômica", diz Sonia Favaretto, que assumiu em agosto uma vaga no Conselho de Administração do BNDES. Ela não concordou em falar em nome do banco. Mas, usando apenas o chapéu de especialista em sustentabilidade, disse que os movimentos de consolidação de investimentos sustentáveis, que já estavam ocorrendo antes, foram exacerbados pela pandemia. O fato de presidentes de corporações e os mais diversos CEOs estarem assumindo publicamente compromissos e firmando coalizões em torno de medidas que tenham como foco a preservação da saúde e do meio ambiente dá consistência ao que poderia ser apenas um modismo. "Não somos ingênuos. Sabemos que nem tudo vai acontecer, mas o movimento é irreversível. Tanto que esses critérios estão sendo avaliados nas análises de risco das empresas", diz ela.

Maior fundo de pensão e um dos principais investidores institucionais do País, a Previ, previdência privada dos funcionários do Banco do Brasil, tem, em seus parâmetros internos de classificação de risco das empresas e fundos de investimentos que compõem sua carteira de ativos, métricas específicas de sustentabilidade. A entidade não divulga os ratings que elabora nem torna públicas negociações para obtenção de objetivos sustentáveis nas empresas das quais participa, mas foi pioneira na adesão de compromissos por maior sustentabilidade, como lembra o diretor de participações, Denísio Liberato. "São metodologias internas, ratings que a gente monitora ao longo do tempo para tomar decisões (de investir ou desinvestir). Se externar, der prazo (para cumprimento de objetivos concretos), o mercado financeiro antecipa tudo e faz preço", diz o executivo, para justificar o fato de a Previ não divulgar suas avaliações.

Citando um estudo de três acadêmicos consagrados divulgado na semana passada, ele comenta que a postura adotada pela Previ é a de engajar empresas, ao invés de excluí-las de seu portfólio. O estudo do prêmio Nobel de Economia em 2016 Oliver Hart, professor de Harvard; Luigi Zingales, da Universidade de Chicago, e Eleonora Broccardo, da Universidade de Trento, na Itália, mostrou que práticas de engajamento e negociação com empresas para torná-las mais sustentáveis surtem mais efeito do que o confronto direto, marcado pelo desinvestimento, por parte dos financiadores, e o boicote, por parte de consumidor. "Buscamos formas mais eficazes de pressionar uma empresa para que atue de forma socialmente responsável e melhore, ao longo do tempo, práticas ambientais, sociais e de governança." Fonte. Irany Tereza. Agência Estado.