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07/Out/2020

Investidores em busca de alternativas sustentáveis

Quando a gigante de private equity Blackstone investiu na fabricante de leite de aveia Oatly, em julho, consumidores prometeram boicotar a bebida vegana. Os investimentos da Blackstone têm sido associados a atividades de desmatamento no Brasil. Para os críticos, a Blackstone, uma empresa que administra 545 bilhões de dólares (mais de R$ 3 trilhões) em ativos, estava usando a Oatly para mascarar investimentos prejudiciais ao clima. Essa disputa nas redes sociais entre um gigante corporativo, uma marca “consciente” e clientes decepcionados é só uma parte de um debate mais amplo sobre o papel do capital no combate às mudanças climáticas. O debate se voltou para o setor de alimentos à medida que os investidores começaram a se afastar das indústrias de carnes e laticínios, altamente poluentes, e os consumidores passaram a procurar alternativas sustentáveis. A produção de carne é um dos fatores para o desmatamento de florestas tropicais.

Diante da alta demanda por alimentos como hambúrgueres e leite, florestas tropicais dão lugar a fazendas de gado e ao cultivo de soja, que é usada sobretudo para alimentar o gado. A Blackstone, que investiu bilhões de dólares no setor de combustíveis fósseis, é uma das proprietárias da Hidrovias do Brasil, empresa brasileira de logística que, no ano passado, foi ligada ao desmatamento na Floresta Amazônica pelo site The Intercept. A Blackstone afirmou que as alegações de desmatamento eram falsas. O presidente da Blackstone é um dos grandes doadores das campanhas eleitorais do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, um notório negacionista do clima que revogou regulamentações ambientais e tirou os Estados Unidos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas. Pressionadas por consumidores e legisladores, algumas empresas de alimentos estão começando a avaliar suas próprias pegadas ecológicas. Em 2018, o McDonald’s se comprometeu a reduzir emissões e limpar suas cadeias de suprimentos.

Em julho, a gigante brasileira de alimentos Marfrig informou que o desmatamento não fará mais parte de sua cadeia produtiva até o final da década. Em setembro, a também brasileira JBS afirmou que vai monitorar toda sua cadeia de suprimentos para cortar o desmatamento até 2025. O anúncio foi feito semanas após a gestora de patrimônio norueguesa Nordea comunicar que iria retirar sua participação de cerca de 40 milhões de euros (cerca de R$ 260 milhões) na JBS por falta de engajamento em questões ambientais. Em 2019, depois que incêndios devastaram a Floresta Amazônica, um grupo de 251 investidores pediu a redução do desmatamento, identificando os impactos ambientais como riscos sistêmicos para suas carteiras. Biodiversidade e mudanças climáticas são tópicos importantes para os mercados agrícolas, expostos às condições climáticas extremas, e para consumidores ambientalmente conscientes. As tendências não têm sido positivas para os produtores agrícolas, principalmente no setor de carne bovina.

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), defende que a mudança climática poderia ser retardada com a adoção de dietas baseadas em plantas, especialmente em países mais ricos. A Oatly é a maior empresa da indústria de leite alternativo e está avaliada em US$ 2 bilhões (R$ 11,1 bilhões) e, segundo a Bloomberg News, considera uma oferta pública inicial que pode elevar esse valor para 5 bilhões de dólares (quase R$ 28 bilhões). Para uma empresa cujo produto principal é feito com a mistura de dois ingredientes baratos e amplamente disponíveis (aveia e água), a empresa sueca de alimentos fundada na década de 1990 teve um crescimento incrível desde que entrou no mercado norte-americano, há quatro anos. Embora ativistas tenham passado anos pressionando o mundo financeiro para que tirasse seu dinheiro de investimentos “sujos”, como empresas de combustíveis fósseis, pouca atenção foi dada ao setor agrícola, que é responsável por cerca de um quarto das emissões de gases de efeito estufa.

Muitos acionistas pressionam as empresas em que têm ações a melhorarem sua marca ambiental. A reação à parceria da Oatly com a Blackstone oferece uma outra perspectiva. Nesse caso, o alvo da raiva de tanta gente é um grupo de private equity. E private equity, em comparação com outros setores do mercado financeiro, não tem sido muito investigado. Ao aceitar um investimento de US$ 200 milhões (R$ 1,1 bilhão) de um grupo liderado pela Blackstone, a Oatly argumentou que estava desviando capital para ações sustentáveis. O retorno que a Blackstone obtiver com o investimento poderá inspirar outras empresas de private equity a tornarem seus portfólios mais verdes, justificou a empresa sueca. Segundo a Oatly, é preciso uma mudança fundamental em basicamente tudo: a maneira como comemos, como nos movemos, como vivemos. A única maneira de fazermos isso é incentivar o financiamento para essas soluções e desincentivar o financiamento de organizações com alto teor de carbono, alto risco e alta poluição.

A Oatly não é a primeira marca de alimentos conscientes a deixar seus clientes revoltados por aceitar dinheiro de um investidor com um histórico ambiental ruim. Em 2000, a produtora norte-americana de sorvetes Ben and Jerry’s, que defende seu compromisso com a justiça social, foi comprada pela Unilever, um conglomerado global que tem sido atacado por ativistas por promover desmatamento e poluição com plástico. Nos últimos anos, a Unilever começou a ceder mais aos críticos das questões ambientais, ameaçando vender marcas que não contribuam positivamente para a sociedade. Mas, a empresa ainda é uma grande poluidora, responsável por mais de 70 mil toneladas de lixo plástico por ano, segundo um relatório da ONG Tearfund. Embora seja importante que ativistas chamem a atenção para investimentos, as dimensões da emergência climática implicam que empresas como a Oatly ganhem espaço o mais rapidamente possível. Fonte: DW. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.