ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

05/Out/2020

Sustentabilidade é uma exigência de investidores

O cenário pós-covid-19 deverá ser marcado por uma aceleração da agenda da sustentabilidade em todo o mundo, puxado pelos planos de retomada com base na economia de baixo carbono de alguns países, como os da União Europeia, e também pelas demandas de investidores e consumidores. A tendência é de que o setor privado seja cada vez mais pressionado para promover impactos positivos, a chamada economia regenerativa, em vez de apenas mitigar os impactos negativos. Um dos termômetros é o movimento dos investidores pela adoção de critérios ambientais, sociais e de governança, o chamado ESG, nas decisões de negócios, que se tornou mais incisivo a partir do ano passado. As cartas aos investidores de Larry Fink, o CEO da gestora de ativos BlackRock, em que ele invoca a necessidade de reduzir o aporte de recursos em energias fósseis, têm reverberado fortemente em vários países e o tema foi um dos mais discutidos no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, em janeiro deste ano.

No Brasil, o aumento do desmatamento e das queimadas na Amazônia e Pantanal também tem levado investidores a cobrarem medidas mais enérgicas do governo brasileiro e CEOs de grandes empresas a se posicionarem contra a degradação ambiental. No início de julho, um grupo de empresas e associações setoriais protocolou uma carta à Vice-Presidência da República e ao Conselho Nacional da Amazônia Legal, presidido por Hamilton Mourão, cobrando uma agenda mais sustentável do governo brasileiro. A iniciativa foi capitaneada pelo Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), com a assinatura de 40 CEOs de empresas dos setores industrial, agrícola e de serviços. No comunicado, as companhias manifestaram preocupação com o impacto nos negócios da imagem negativa do Brasil em relação às questões socioambientais na Amazônia e apontaram ações a serem tomadas para aplacar as reações negativas de investidores e consumidores estrangeiros ao País, entre elas, o combate ao desmatamento ilegal e o incentivo à bioeconomia da floresta.

Segundo o Cebds, o Brasil precisa de uma retomada pós-pandemia em bases mais verdes e já existem empresas à frente do processo. A carta dos CEOs mostra que é preciso “separar o joio do trigo” e que há empresas brasileiras que estão comprometidas com a sustentabilidade. A ameaça de boicote às empresas brasileiras por investidores e redes do varejo já está acontecendo na prática. Um dos exemplos é a Tesco, maior rede de supermercados do Reino Unido, que anunciou em agosto que deixaria de comprar carne brasileira por estar vinculada ao desmatamento na Amazônia. A varejista também foi uma das companhias que encaminhou uma carta ao Congresso brasileiro, em maio, pedindo rejeição ao projeto de lei que regulariza a posse de terra em áreas ocupadas da Amazônia.

Outro exemplo são fundos de investimento que já estão retirando aportes do Brasil, como a gestora norueguesa Nordea, que excluiu a multinacional de proteína animal JBS de sua carteira de investimentos por entender que a empresa não atendia aos padrões ESG. Também suspendeu a compra de títulos da dívida soberana brasileira devido à falta de comprometimento do governo federal com o combate ao desmatamento. Segundo o Pacto Global, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para encorajar empresas a adotar políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade, a perda de investimentos é da ordem de US$ 6 bilhões. As ameaças de boicote a produtos e empresas brasileiras já está acontecendo e deverá aumentar com o direcionamento dos investidores europeus para a retomada verde.

Não se trata apenas de protecionismo por parte dos agricultores do continente, mas de uma falta de visão do País em relação aos diferenciais competitivos da agricultura ecológica. A sustentabilidade é uma vantagem comparativa do Brasil que não está sendo transformada em vantagem competitiva. O País vai perder competitividade e isso é um absurdo. Para o Cebds, a pandemia acrescenta ao vocabulário corporativo as palavras resiliência e regeneração, em um contexto em que as lideranças empresariais serão cobradas não só pela mitigação de impactos negativos, mas pela criação de impacto positivo. O meio ambiente não faz um CEO, mas certamente tira um CEO do lugar em que ele estava. Um dos pilares da chamada economia regenerativa, conceito que vem ganhado espaço, é justamente a circularidade, onde as cadeias produtivas operam com zero desperdício e geração mínima de resíduos.

Aplicar a economia circular na indústria é uma das frentes de negócios do grupo Ambipar, que atua na gestão ambiental, de resíduos e na resposta a emergências. Para o Ambipar, identificar essas oportunidades passa por treinar o olhar, pensar o resíduo de uma empresa não como lixo, mas como um subproduto que pode ser inserido na cadeia produtiva da mesma indústria ou de outra. O potencial dessa abordagem é imenso, pois estudos apontam que apenas 9% da economia global utiliza os conceitos de circularidade na totalidade, do design do produto até fim de sua vida útil. No Brasil, uma das vantagens é que a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) já deixou o caminho aberto para que empresas inovem nessa área. A lei determina a logística reversa e a valorização de resíduos, com uma abordagem de ciclo de vida dos produtos. A adoção de critérios ESG pela comunidade de investidores beneficia a empresa, que fez sua oferta pública de ações (IPO) no Novo Mercado da B3 em julho deste ano, levantando R$ 1,08 bilhão, com o papel precificado a R$ 24,75, no topo da faixa indicativa de preço, que tinha como piso R$ 18,75.

O IPO da Ambipar mostrou que há interesse e comprometimento dos fundos com as empresas que praticam a sustentabilidade no dia a dia. Produtor de alimentos orgânicos há 25 anos, o ator Marcos Palmeira vê uma onda de consumidores mais conscientes se fortalecendo com a pandemia. Um indicador desse movimento é o crescimento de 30% no mercado de orgânicos desde o início da quarentena. Além de estar mais preocupado com questões ligadas à saúde, esse consumidor também está atento aos impactos ao meio ambiente dos produtos que compra. O meio ambiente passou a ser protagonista dessa discussão e o consumidor é fundamental nessa cadeia, pois ele vai dizer ao mercado o que quer consumir. A questão social também é um ponto que ganha destaque, pois quem compra está aprendendo sobre a origem dos alimentos e, durante a pandemia, cresceram também os movimentos de apoio aos pequenos produtores Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.