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24/Ago/2020

Mudanças de hábitos alimentares na última década

Em dez anos, o brasileiro reduziu o consumo de arroz e feijão e aumentou o de adoçante e açaí, segundo levantamento do IBGE, realizado entre 2017 e 2018. O levantamento mostra piora na qualidade da alimentação no Brasil, com queda na frequência de ingestão de frutas e a alta na de alimentos ultra processados, como pizzas. Adoçante foi o item com maior aumento. A alimentação do brasileiro perdeu qualidade nutricional - embora mantenha o básico arroz, feijão e carne - uma vez que houve alta no consumo de produtos industrializados. É o que sugerem os dados divulgados na sexta-feira (21/08) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o consumo alimentar no Brasil. Em uma década, caiu o consumo de produtos in natura ou minimamente processados, como frutas e vegetais, enquanto aumentou a frequência de ingestão de alimentos processados e ultra processados, como pizzas, salgadinhos e adoçante. Entre os dados da pesquisa, destacam-se:

• o consumo calórico diário se manteve estável entre os brasileiros

• 53,4% das calorias ingeridas eram de alimentos in natura ou minimamente processados

• caiu a frequência de consumo de arroz, feijão, pão de sal, carne bovina e ovos

• aumentou a frequência de consumo de aves, pizzas, salgadinhos, açaí e salada crua

• o brasileiro substituiu a batata-inglesa pela batata-doce

• diminuiu a ingestão diária de gorduras saturadas, fibras e proteínas

• consumo de carboidratos se manteve estável

• 53,8% dos brasileiros ingerem sódio acima do limite recomendável

• adição de açúcar em alimentos prontos se mantém elevada

• aumentou a proporção de pessoas que não adoçam bebidas

• caiu o consumo de cerveja; homens bebem três vezes mais que as mulheres

O levantamento foi realizado entre 2017 e 2018 por meio da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF). Foram realizadas entrevistas em 57,9 mil domicílios, sendo que 20,1 mil pessoas foram selecionadas para responder ao bloco de consumo alimentar em duas entrevistas. De acordo com o IBGE, quem respondeu a essa parte do questionário precisou registrar todos os alimentos consumidos, com suas respectivas quantidades, durante 24 horas. No geral, além de identificar a queda no consumo de alimentos in natura ou minimamente processados, o IBGE apontou o brasileiro manteve o hábito de adicionar açúcar em bebidas e alimentos e colocar sal em preparações prontas. A alimentação ainda é baseada no feijão, arroz e carne, e isso é positivo, mas é preciso melhorar o consumo de frutas e legumes e diminuir o açúcar e o sódio em excesso. Considerando a ingestão calórica diária, variou pouco a quantidade de calorias ingeridas pelos brasileiros quando comparado com a pesquisa anterior, realizada dez anos antes, entre 2008 e 2009 – em torno de 1,9 mil kcal por dia.

Entre os grupos etários, no entanto, aumentou a quantidade de calorias ingeridas pelas pessoas com idade entre 19 e 59 anos – passou de 1.969 kcal em 2009 para 2.022 em 2018. Do total de calorias consumidas por dia, entre 2017 e 2018, 53,4% eram provenientes de alimentos in natura ou minimamente processados, 15,6% de ingredientes culinários processados, 11,3% de alimentos processados e 19,7% de alimentos ultra processados. Na pesquisa anterior, entre 2008 e 2009, o IBGE não levantou estes dados, o que não permite comparar se houve mudança na origem calórica dos alimentos consumidos. O IBGE destacou, porém, que os indivíduos que relataram o consumo de sucos, pizza e sanduíches, doces, biscoito doce, frios e embutidos e bebidas com adição de açúcar (processados e ultra processados) apresentaram médias de ingestão de energia de 10% ou mais acima da média populacional. Por outro lado, a ingestão média de energia dos indivíduos que consumiram arroz integral e biscoito salgado foi menor que a média populacional.

Todavia, ao se observar a frequência de consumo diário dos alimentos, o IBGE identificou que, no geral, o brasileiro reduziu o consumo de item básicos da culinária do país, como o arroz e feijão, assim como o de frutas e demais vegetais, enquanto aumentou a frequência de ingestão de alimentos processados e ultra processados, como sanduíches, salgadinhos e pizzas. De acordo com a pesquisa, entre 2017 e 2018, em 75,3% dos domicílios houve consumo diário de arroz, enquanto o feijão esteve presente na mesa de 59,9% dos lares. Dez anos antes, estes percentuais eram de, respectivamente, 84,1% e 73,0% - uma queda de 10 pontos percentuais do consumo diário de arroz e de 18 pontos percentuais de feijão. No mesmo período, caiu 12 pontos percentuais o consumo diário de ovos, em 21 pontos percentuais de pão francês, em 22 pontos percentuais de carne bovina, em 38 pontos percentuais de tomate (comumente tratado como vilão da inflação do país) e em 50 pontos percentuais de leite integral.

Dentre as frutas, caiu 24 pontos percentuais a ingestão de melancia, 30 pontos percentuais de abacaxi e 40 pontos percentuais de laranja. Em contrapartida, nestes dez anos aumentou em 11 pontos percentuais o consumo diário de aves, 21 pontos percentuais de pizzas, 33 pontos percentuais de outras carnes, 35 pontos percentuais de salada crua, 38 pontos percentuais de salgadinhos tipo chips, 58 pontos percentuais de sanduíches, 52 pontos percentuais de feijão caupi (corda ou verde), 68 pontos percentuais de carne suína e 86 pontos percentuais de açaí. O item que teve o maior aumento na frequência diária de consumo foi o adoçante, cuja presença na mesa brasileira teve alta de 9,1 mil pontos percentuais em dez anos – passou de 0,1% dos domicílios para 9,2% entre 2009 e 2018. Ainda observando a frequência diária de consumo, foi possível notar que o brasileiro vem substituindo a batata-inglesa pela batata-doce. A primeira teve queda de 31 pontos percentuais entre os domicílios do país, enquanto a segunda teve alta de 109 pontos percentuais.

Outro tubérculo também considerado, ao contrário da batata-inglesa, de baixo índice glicêmico, que teve alta no consumo foi a mandioca, que passou de 2,8% dos domicílios para 3,6% - uma alta de 29 pontos percentuais. Também aumentou em 20 pontos percentuais o consumo de oleaginosas, como as castanhas, e de 21 pontos percentuais de óleos e gorduras diversas. A pesquisa mostrou, também, que houve queda no consumo diário de gorduras saturadas, que passou da média de 20,7 gramas por dia em 2009 para 19,7 gramas por dia em 2018 - queda de 1 grama no período. De acordo com a médica e consultora da pesquisa, Rosely Sichieri, essa redução é positiva e pode ser atribuída à redução no consumo de carne bovina apresentada no Brasil entre 2008 e 2018. O conteúdo em fibra na dieta também caiu na década, passando de 27,9 g por dia para 24,2 g, o que representa uma redução de 3,7 g. Essa queda indica deterioração da qualidade da alimentação e corresponde à queda no consumo de feijão. O feijão é um dos alimentos da dieta brasileira que proporciona grande parte das fibras alimentares.

O consumo de proteínas também teve relativa queda, passando de 87,9 g para 86,4 g por dia - uma redução de 1,5 g. Já o consumo de carboidratos se manteve estável em 254 g por dia. O IBGE enfatizou que se manteve entre os brasileiros a alta frequência de consumo de açúcar e sal. Para adoçar bebidas e comidas, 85,4% da população afirmou colocar açúcar, abaixo do registrado dez anos antes, quando esse percentual chegou a 90,8%. No mesmo período, porém, aumentou de 1,6% para 6,1% o percentual da população que afirma não adicionar nem açúcar nem adoçante nos alimentos. Já o sal era adicionado em comidas prontas por 13,5% da população e, com isso, o sódio foi ingerido acima do limite por 53,5% dos brasileiros, índice mais elevado em homens adultos (74,2%) e menor em mulheres idosas (25,8%). A pesquisa mostra que o brasileiro continua com níveis de consumo de sódio acima do limite tolerável, levando em considerações as recomendações médicas. Fonte dos dados: IBGE. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.