ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

18/Ago/2020

Commodities: saída de bancos europeus preocupa

O Brasil e outros mercados emergentes cujas economias estão intrinsicamente ligadas às exportações de commodities devem acompanhar com preocupação o abandono da área de financiamento a recursos básicos anunciado nos últimos tempos por alguns bancos europeus importantes. Primeiro, foi o francês BNP Paribas, no início deste mês. Na sequência, o holandês ABN Amro. O temor é o de que outras instituições financeiras sigam o movimento, rareando a oferta de crédito, diminuindo a competição e elevando os custos de financiamento justamente durante um momento crítico causado pela pandemia de coronavírus. Em termos mais amplos, é um obstáculo a mais em meio à tentativa de retomada da economia mundial, quando já se veem sinais de aumento de protecionismo e reserva de mercado e com o comércio internacional assistindo ainda ao duelo entre as duas maiores potências econômicas do globo. Os instrumentos desses bancos variam bastante, passando por diferentes formas de empréstimos de acordo com o tipo de matéria-prima, vencimento de contrato e prazo de entrega em negociação.

Também é abrangente a área de commodities em que atuam, como metálicas, agrícolas e energia, todas fundamentais para o mercado doméstico. Por enquanto, o petróleo é o segmento mais afetado. Este é um setor que já vem sofrendo de sua mazela particular por causa da demanda, que despencou. Depois, é, de longe, o que movimenta as maiores quantias de transações financeiras no globo. Na semana passada, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) previu que a queda do consumo da commodity este ano em todo o mundo será de 9,1 milhões de barris por dia (bpd). Um dia depois, a Agência Internacional de Energia (AIE) estimou que a queda será de 8,1 milhões de bpd este ano. Nos dois casos, houve piora das previsões em relação ao mês passado. Além das causas e impactos de curto prazo, o movimento pode se estender, pois os bancos passam neste momento por um período de reformulação de suas estratégias de atuação. Para deixar a situação mais complexa, está a caminho uma série de regras regulatórias confeccionadas pelo Comitê de Supervisão Bancária de Basileia e outras instituições previstas para entrar em vigor nos próximos anos.

No geral, os organismos multilaterais que ajudam a coordenar em âmbito global bancos centrais, supervisores e reguladores da área financeira concederam uma pausa no cronograma das normas previstas para entrarem em vigor neste e no próximo ano por causa da crise causada pela pandemia. Não se sabe ainda se o conjunto de regras de Basileia IV também será empurrado para frente em função da consequência do surto, que fez com que os formuladores de política, inclusive, se tornassem mais flexíveis em relação às exigências impostas ao setor financeiro com o objetivo de que pudessem oxigenar a economia real com mais eficácia. Mas, o certo é que mais cedo ou mais tarde o aperto da regulação virá e, com ele, apenas os maiores bancos terão de absorver seus impactos. Isso porque, desde a crise financeira internacional da década passada, a tendência é exigir cada vez mais das instituições que tenham capital para proteção contra perdas, diminuindo os riscos dos negócios e tornando o sistema global menos vulnerável. E se há um setor que tem risco é o de commodities.

Ocorrem mudanças repentinas de preços desses insumos causadas por variação cambial, decisões políticas de países, clima e mudanças repentinas de oferta ou de demanda, entre outras. O ABN anunciou há uma semana sua intenção de se voltar para o Noroeste da Europa e sair dos Estados Unidos, Ásia, Austrália e Brasil, exceto para operações de compensação. A decisão significa a demissão de 800 funcionários em todo o mundo. O presidente-executivo do banco holandês afirmou que a instituição estava superexposta a setores globais. O rumo do ABN agora, de acordo com o CEO, será se voltar para mercados locais de energia, área em que há grande expectativa por demanda por causa do “acordo verde” firmado pela União Europeia. No caso do BNP, a decisão foi a de suspender as operações dessa área em toda a região da Europa, Oriente Médio e África (Emea), mas o banco continuará a atuar na divisão de negociações, derivativos, compensações e futuros.

A saída desses dois bancos que tradicionalmente atuavam no setor chama a atenção, mas, na realidade, trata-se de uma decisão também já tomada por outras instituições menos conhecidas no Brasil, como o New Zealand Banking Group e os bancos Austrália e Natixis, este da França. Todos tiveram perdas neste setor recentemente e decidiram paralisar as operações. A onda ganhou impulso com vários casos de fraudes que emergiram com a pandemia e que levaram os preços a despencar em março e abril, no auge das contaminações na Europa. O mais conhecido deles até aqui está relacionado com a Hin Leong Trading, de Cingapura, que afetou várias instituições e negócios. Uma investigação internacional está sendo feita, depois que seu dono admitiu ter escondido US$ 800 milhões em perdas. O Fundo Único para Commodities (CFC) vem alertando para a necessidade de se criar uma resposta coordenada às preocupações sobre a financeirização e volatilidade do mercado de recursos básicos. No entanto, a instituição ressalta que as opiniões sobre medidas eficazes para mitigar o problema diferem muito e impedem uma ação eficaz.

Essa lacuna exige um diálogo para chegar a um acordo sobre questões de interesse comum para mitigar a volatilidade do mercado de commodities e seus custos, bem como para canalizar capital financeiro para investimentos em recursos físicos de produção de commodities essenciais. A volatilidade e a incerteza no setor de produção de commodities afetam adversamente os produtores nos países em desenvolvimento e representam um risco para a produção sustentável de commodities básicas. A vulnerabilidade dos produtores de commodities à volatilidade do mercado é importante não apenas para esses países em desenvolvimento, mas também para os bancos. Em 10 de outubro, está marcada a 70ª reunião da diretoria-executiva da instituição. E o tema sobre novas formas de financiamento estará mais uma vez sobre a mesa. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.