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04/Ago/2020

Governo prejudica a imagem do agro no exterior

A Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) criticou as ações de comunicação do governo brasileiro no que tange à imagem do agronegócio no exterior. O governo tem sido incompetente na comunicação do agro no exterior, ficando a carga com o setor privado. Os produtores e iniciativa privada têm feito esforço enorme de comunicação. A entidade citou especificamente as ações conjuntas das embaixadas brasileiras e do Ministério das Relações Exteriores. O embaixador brasileiro também não tem sido eficiente. A exceção é a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que tem ainda contornado os problemas que o governo causa na comunicação externa. O governo precisa rever o conceito de suas estratégias de comunicação externa, pois tem atrapalhado muito mais que ajudado. Não é se defendendo a qualquer custo das acusações ou dos desafios que se colocam que será possível resolver os problemas, que devem ser enfrentados. É preciso aceitar as demandas do consumidor.

De nada adianta o setor agrícola brasileiro se esquivar das responsabilidades de sustentabilidade. Chega de colocar a culpa no passado dos outros países que desmataram ou alegar o bom comportamento da história do produtor brasileiro. É preciso ver o que o consumidor quer, e ele quer mudança. Essas mudanças já estavam em curso antes da Covid-19, mas a pandemia acelerou o processo de protagonismo da sustentabilidade na demanda dos consumidores. É necessário encarar de frente essa questão. As cooperativas modernas brasileiras têm de ter foco no consumidor. O comportamento do produtor precisa estar adequado ao que o consumidor quer e entender que não é produtor de commodities e sim de alimentos. A Cargill no Brasil vê cobranças diferentes por parte do consumidor e não aplicação de diferentes requisitos de sustentabilidade para os mercados brasileiro, europeu e norte-americano. Não há implicância quanto ao Brasil. A Europa cobra porque é cobrada.

O consumidor norte-americano e europeu tem uma preocupação muito grande com o meio ambiente. A preocupação desses consumidores é principalmente quanto à emissão de carbono e preservação da biodiversidade dos biomas. A cobrança do consumidor europeu é coerente porque ele paga por sustentabilidade em outras cadeias. É difícil para eles entenderem que em outros lugares do mundo há emissão de carbono e desmatamento. O consumidor europeu, por essa visão “diferente” de sustentabilidade, tem a capacidade e o hábito de pagar mais por produtos que cumprem esses requisitos. Ele também é sensível às questões sociais. O Brasil precisa mostrar o lado humano de bem-estar e integração econômica-social da agricultura no Cerrado e na Amazônia. O mercado consumidor brasileiro também vai chegar nesse patamar de cobrar requisitos rigorosos de sustentabilidade, a exemplo do europeu e do norte-americano. O País vai alcançar essa evolução de não aceitação de desmatamento na cadeia, assim como não aceita trabalho infantil, análogo à escravidão e maus tratos na criação de animais.

O setor agrícola brasileiro precisa superar o "argumento raso" de que outros países, como Estados Unidos, desmataram ou que produtores locais já preservaram muito, pois esse debate não leva a nada, bem como o argumento de que o Brasil precisa mais do mercado asiático. O Brasil também precisa do mercado europeu, além do asiático. A viabilidade do acordo entre Mercosul e União Europeia dependerá diretamente do cumprimento dos requisitos de sustentabilidade pedidos pelo bloco europeu no acordo. Negar a demanda consumidora, que está abrindo o mercado, é um pedido para não fazer acordo comercial. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia), a maior cobrança por sustentabilidade na cadeia agrícola é “um caminho sem volta”. Sustentabilidade não é demanda somente de consumidores. É também um requisito para investidores. É uma cobrança crescente, à qual a indústria precisa se adaptar. O custo maior da produção sustentável e de adaptar o produto aos requisitos de sustentabilidade é uma questão momentânea.

O sustentável não vai ser caro para sempre. É preciso dar escala a esses produtos e, assim, haverá redução de custo. O Embaixador do Brasil junto à União Europeia afirmou que o País precisa abandonar os argumentos de que a cobrança por sustentabilidade tem fins comerciais e protecionistas no debate internacional. O Brasil precisa mostrar a sustentabilidade da cadeia agrícola com dados objetivos e mostrar o empenho em combater o desmatamento ilegal na Amazônia. Para o embaixador, o agronegócio precisa estar atento também à humanização da sua imagem no exterior, mostrando como a produção ajuda no desenvolvimento social e econômico de várias comunidades. Imagens de colheitadeiras não podem mais ser a imagem do agronegócio brasileiro. Pessoas têm de ser a imagem daqui para frente. Humanizar a imagem do agro também responde a uma preocupação legítima, crescente e real da sociedade mundial. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.