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28/Jul/2020

Exportação: Brasil depende cada vez mais da China

Apesar do tom belicoso nas declarações do governo Jair Bolsonaro em relação à China em meio à pandemia de Covid-19 e à escalada de tensões diplomáticas e comerciais entre o gigante asiático e os Estados Unidos, as exportações brasileiras estão cada vez mais dependentes do apetite comprador chinês. De 2001 até o ano passado, a participação chinesa nas exportações brasileiras saltou de 1,9% para 28,5%. Com a crise global, a fatia subiu para 33,8% no primeiro semestre deste ano, ou seja, um terço dos US$ 101,7 bilhões exportados pelo Brasil de janeiro e junho foi para a China, mostram dados do Ministério da Economia compilados pelo Instituto Brasileiro de Economia da FGV. O aumento da dependência da China no comércio exterior brasileiro tem componentes estruturais, associados à acelerada jornada do país asiático rumo ao posto de maior economia do mundo, e conjunturais, como a queda da demanda pelos produtos nacionais por parte de outras nações afetadas pela pandemia, especialmente na América do Sul.

Mais do que um problema, o peso chinês no comércio exterior brasileiro é resultado da estrutura econômica nacional, especializada na produção de matérias-primas e pouco competitiva na indústria. Uma marca dessa especialização, reforçada nas últimas décadas, é o bom desempenho do agronegócio, ligado ao crescente peso da China no comércio exterior brasileiro tanto pelos aspectos estruturais quanto pelos conjunturais. No lado estrutural, ao mesmo tempo em que a elevada produtividade do campo brasileiro reforçou a especialização nas matérias-primas, o acelerado crescimento tornou a China o maior importador global de matérias-primas. Em 2001, quando recebia menos de 2,0% das exportações do Brasil, a China era o sexto maior importador do mundo. Ano passado, foi o segundo, atrás dos Estados Unidos, conforme a Organização Mundial do Comércio (OMC). Com 1,4 bilhão de habitantes e sua urbanização ainda em marcha, nada indica que a demanda da China por produtos como soja e carne arrefecerá. Por isso, a Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) prefere falar em interdependência na relação comercial com a China.

Afinal, o Brasil é o maior produtor e exportador de soja e carnes - o fornecimento global desses produtos é dominado por Brasil e Estados Unidos. O País também é um grande exportador de minério de ferro, petróleo e celulose, todos com grande participação chinesa nas vendas. Se o mundo demanda mais produtos agropecuários, só o Brasil pode aumentar a produção, especialmente de soja e carne. No lado conjuntural, assim como a venda de comida nos supermercados está entre as atividades econômicas menos atingidas pela pandemia, as exportações de alimentos seguem de vento em popa. Em volume, as vendas de produtos agrícolas ao exterior cresceram 24,5% na primeira metade deste ano na comparação com igual período de 2019. O peso chinês no comércio exterior brasileiro aumentou também porque a crise da Covid-19 derrubou a demanda por parte dos demais países - mesmo sendo a origem da pandemia, a China deverá registrar algum crescimento econômico em 2020, desempenho superior à maioria dos países. O mercado começou a revisar o crescimento do PIB chinês para cima este ano. A China está na frente na recuperação.

Em recessão, os Estados Unidos e nossos vizinhos da América do Sul, principais mercados dos produtos industrializados brasileiros, já estão comprando menos. As exportações para a Argentina somaram US$ 3,7 bilhões no primeiro semestre, queda de 28% ante a primeira metade de 2019, colocando o país vizinho como destino de apenas 3,6% das exportações brasileiras - a Holanda passou a Argentina e foi o terceiro principal destino das vendas do Brasil, atrás de China e Estados Unidos. A questão conjuntural da pandemia se soma a outro movimento estrutural, a perda de competitividade da indústria nacional. Com elevados custos de insumos, infraestrutura deficiente e alta carga tributária, os produtos industrializados brasileiros chegam caros demais ao exterior. A exportação de manufaturados está projetada em US$ 56,3 bilhões este ano, 27,3% abaixo de 2019 - valor semelhante ao registrado em 2004. Como a estrutura da economia chinesa está baseada na exportação de bens industriais, a China não tem relação direta com a queda nas exportações brasileiras de industrializados. Só que a redução na demanda por esses produtos, maior do no caso dos agrícolas, derruba os embarques para os países que tradicionalmente compram do Brasil.

A consequência é o aumento do peso relativo da China no comércio exterior. Para a FGV, o problema da concentração não está nas matérias-primas de destaque nas exportações brasileiras, mas no fato de a economia nacional não ter outros produtos de exportação. Segundo a AEB, falta ao País uma política clara de comércio exterior e a recuperação de terreno nas exportações de industrializados depende de reformas econômicas, como a reformulação do sistema tributário e a recuperação da infraestrutura logística, que levam tempo para surtir efeito. Assim, ainda que no momento seja reforçada pela conjuntura, a dependência cada vez maior da China no comércio exterior brasileiro pode ter vindo para ficar. O mesmo ocorreu na crise global de 2008 e 2009. Associados aos movimentos estruturais, os fatores conjunturais da recuperação daquela turbulência - que atingiu mais os países desenvolvidos do que os emergentes - impulsionaram a China ao posto de principal parceiro comercial do Brasil. De lá para cá, a China só ampliou a liderança. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.