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23/Jul/2020

Tensão EUA-China deve persistir até as eleições

Após os Estados Unidos determinarem o fechamento do consulado chinês em Houston, no Texas, em mais um elemento da escalada de tensão vivida pelos dois países, as relações entre as potências devem piorar até as eleições de novembro. A avaliação é do diplomata e ex-embaixador do Brasil nos Estados Unidos Rubens Ricupero. O episódio do fechamento do consulado é grave, mas está dentro de uma escalada da posição norte-americana de confrontar a China cada vez mais. Na terça-feira (21/07), o governo norte-americano acusou dois chineses de espionagem para roubar informações sobre uma vacina contra o novo coronavírus. Nas últimas semanas, o governo dos Estados Unidos tem estudado a possibilidade de proibir viagens para membros do Partido Comunista e suas famílias aos Estados Unidos, uma medida que poderia afetar 270 milhões de pessoas.

Além disso, os países também entraram em conflito por conta da lei de segurança nacional de Hong Kong. Para Ricupero, que também foi ministro da Fazenda e do Meio Ambiente e hoje é diretor da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), a disputa com a China deve ser uma das principais plataformas da campanha para a reeleição de Donald Trump, hoje atrás do ex-vice presidente Joe Biden nas principais pesquisas. Donald Trump não tem outra arma tão potente como essa e vai explorá-la ao máximo, acredita o diplomata. O episódio do fechamento do consulado chinês no Texas não pode ser tomado isoladamente. Ele é grave, mas não é o mais importante, pois faz parte de uma escalada da posição norte-americana de confrontar a China cada vez mais. É preciso tomá-lo em conjunto com as declarações cada vez mais agressivas do presidente Donald Trump, do secretário de Estado, Mike Pompeo, e de alguns discursos do vice-presidente Mike Pence.

Todas essas declarações têm algo em comum: movem a política norte-americana em direção a uma posição nova, de competição estratégica com a China em todos os setores. Isso lembra a atitude que os Estados Unidos tiveram com a União Soviética no período da Guerra Fria, embora haja diferenças. Sobre o papel do Brasil nesta disputa, Ricupero considera que o País está sob forte pressão, como no episódio da Huawei e da tecnologia 5G, cujo leilão tem sido continuamente adiado. O Reino Unido recuou de sua posição inicial e resolveu proibir o uso de equipamentos da Huawei para suas redes 5G até 2027. Os ingleses admitiram que fizeram isso por pressão forte de Donald Trump. No Brasil, o embaixador norte-americano tem multiplicado declarações nesse sentido. Nesta semana, o Brasil tomou parte numa luta contra a China na Organização Mundial do Comércio (OMC), afirmando que não há lugar na OMC para países que não têm economia de mercado.

No comércio, sempre houve posições quase opostas do governo brasileiro ao governo norte-americano porque os Estados Unidos nunca reconheceram a necessidade de tratamento especial aos países em desenvolvimento, caso do Brasil. A postura atual do governo brasileiro é claramente de apoio aos Estados Unidos contra a China na OMC. Isso pode ter consequências graves se a China resolver responder. Rubens Ricupero acredita que esse discurso agressivo de Trump está relacionado com a eleição dos Estados Unidos. Donald Trump vai tornar essa questão da China a principal arma contra Joe Biden. Essa situação vai continuar e se agravar até novembro. Pode ser que, caso Trump não ganhe a eleição, a situação volte a uma certa normalidade. A percepção é de que um possível governo Biden teria armas mais diplomáticas, menos agressivas e menos contundentes do que a atual administração.

Mas, a competição não vai desaparecer, pois ela é o normal agora. É uma disputa para saber quem terá o controle da tecnologia de ponta por uma razão muito simples: quem controla a tecnologia de ponta, cedo ou tarde, terá a supremacia estratégico-militar. As pesquisas já mostraram que, em relação à China, a maioria da opinião pública norte-americana é hostil. Não todos da mesma forma que os partidários de Donald Trump, mas todos olham a China com desconfiança por diversas razões, como as violações dos direitos dos povos muçulmanos por exemplo. Há uma antipatia generalizada e, ao tocar nisso, Donald Trump recebe uma nota favorável do público. Seguramente, Trump vai manter a pressão e questionar o rival sobre esta matéria. O fato é que a disputa com a China vai se agravar até as eleições e pode ser o ponto central da campanha. Donald Trump vai explorar essa situação ao máximo. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.