ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

15/Jun/2020

Argentina: setor agro preocupado com apropriações

A apropriação do grupo agroindustrial Vicentin pelo governo argentino preocupa produtores locais, que temem maiores intervenções estatais no setor agrícola. A medida coloca o presidente Alberto Fernández em conflito direto com o setor produtivo do país. O grupo Vicentin estava em processo de recuperação judicial e, no dia 8 de junho, o governo de Fernández anunciou um decreto para apropriação imediata do grupo, alegando que a empresa é de interesse estratégico para o país. Ele disse que enviaria um projeto de lei ao Congresso para desapropriar a empresa e colocá-la sob a administração da empresa estatal de energia YPF. O presidente argentino afirmou também que a medida era necessária para proteger os trabalhadores da Vicentin e cerca de 2,6 mil agricultores que vendem sua produção para a empresa, que é o maior exportador argentino de farelo de soja e óleo de soja.

Diante da intervenção, a comunidade empresarial agrícola teme a influência da ala peronista nas políticas governamentais, liderada pela vice-presidente, Cristina Kirchner. Em seu mandato, de 2007 a 2015, Cristina estatizou grandes empresas privadas. Essas notícias foram recebidas com enorme preocupação e muita frustração pelo setor produtivo. A segurança jurídica está em jogo, os investimentos estão em jogo. A Vicentin informou que tomou conhecimento da expropriação pela mídia. A empresa afirmou que estava estudando a possibilidade de vender alguns ativos ou criar uma parceria com outras empresas durante o processo de falência. O momento atual é de incerteza e preocupação. O anúncio surpreendeu agricultores e pecuaristas, que têm uma história amarga com os peronistas. Em sua gestão, Cristina Kirchner acusou os agricultores de serem oligarcas e descrevia a soja como uma erva daninha.

Seu governo também foi marcado por controle de preços e altos impostos sobre exportação, além de limitar as exportações de carne bovina, causando queda na produção. Segundo a Confederação Rural da Argentina, um retorno a essas políticas provavelmente alimentaria a tensão dos agricultores que trabalham no plantio da próxima safra 2020/2021. A crise atual é semelhante à crise agrícola de 2008. Naquela época, o governo não podia dominar o campo e colocá-lo a serviço do que queria. Se esse for o caminho que o governo planeja seguir, criará um conflito muito grave. A entidade espera que os parlamentares votem contra à expropriação do grupo agrícola. Além da preocupação do setor agrícola, a medida exigiria que o governo insolvente da Argentina assumisse os 1,5 bilhão de dólares de dívidas e passivos da Vicentin, no momento em que o país deixou de pagar dezenas de bilhões de dólares em dívidas externas pela nona vez em sua história.

O governo Fernández está atualmente em negociações com credores estrangeiros, visando a uma grande redução no pagamento da dívida. Isso levantará preocupações sobre as futuras políticas econômicas do governo. No momento, há grandes custos em termos de credibilidade, em termos de dinheiro e em termos de apoio político ao governo. A medida, contudo, foi comemorada por membros da alta peronista da gestão Fernández. Eles afirmaram que isso fortaleceria a segurança alimentar da Argentina e proporcionaria ao Estado maior influência sobre o mercado de moedas estrangeiras. As exportações agrícolas da Argentina são sua principal fonte de receita em dólar. Alguns trabalhadores sindicais agroindustriais também apoiaram a medida depois de temer que o processo de falência da empresa pudesse levar a cortes de empregos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.