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01/Jun/2020

Crédito Rural: CRA em dólar pode ampliar a oferta

A possibilidade de emitir Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) referenciados em dólar, legitimada com a sanção da lei 13.986 no início de abril, deve permitir que grandes companhias de agroquímicos possam deixar de usar parte do caixa para financiar insumos. No Brasil, vendas viabilizadas com recursos da Bayer e da Syngenta, por exemplo, representam hoje cerca de 70% do total. Executivos dessas companhias enfatizam, no entanto, que a maior expectativa quanto ao CRA é ter na carteira opções de financiamento mais baratas e condizentes com o perfil de produtores exportadores, como os de Mato Grosso. A Bayer afirma que irá ampliar o financiamento de clientes exportadores. Até então, a captação ficava restrita ao mercado em Reais. O título será uma alternativa especialmente para aqueles que tomam recursos com bancos ou se financiam com venda a prazo (pagamento em dinheiro na época da colheita).

Quem se financia por barter, ou seja, paga insumos com grãos, deve continuar usando essa modalidade de financiamento. A empresa pensa em soluções de crédito para o campo, em apresentar o mercado de capitais para o setor e a face do agro para investidores. Segundo a Syngenta, a redução do financiamento pelo caixa é o efeito colateral disso. O CRA em dólar vai aumentar a capacidade de financiamento do setor. A maior parte dos negócios da Syngenta, hoje controlada pela chinesa ChemChina, é realizada na modalidade de venda a prazo, pela qual a empresa adianta os insumos no início da safra e recebe o pagamento, em dinheiro, meses depois, na época da colheita. Entre 40% e 45% das vendas são feitas desta forma. O barter deve representar 30% das vendas neste ano. Vendas a prazo e barter têm como fonte de recursos o caixa da matriz, somando de 70% a 75% do total. Outros 15% dos negócios são financiados por estruturas financeiras, como o próprio CRA em Real, e 15% pagos à vista pelos produtores.

Na Bayer, mais da metade das vendas de insumos no Brasil são financiados pela companhia. Cerca de 50% de todos os negócios são fechados com barter. Outros 35% são celebrados em vendas a prazo (que demandam caixa da companhia para serem financiadas) ou à vista pago pelo produtor. Os 15% restantes dizem respeito a CRAs em Real e outros instrumentos financeiros. Com a possibilidade de emitir CRA em dólar, provavelmente o recurso da matriz no financiamento do setor passará a ter peso menor. Mas, vai depender também da demanda dos clientes, de como será o apetite dos investidores, qual será o custo do dinheiro. A perspectiva, de qualquer forma, é que a fatia dos produtos financeiros cresça para além dos 15%. Se antes da pandemia do novo coronavírus o mercado de CRAs em dólar precisaria de tempo para se desenvolver, depois dela e da decorrente crise econômica o processo deve demorar mais, de acordo com a Syngenta e a Bayer. Não apenas os produtores rurais precisam se familiarizar com a ferramenta, como investidores estrangeiros terão de entender melhor as características do agronegócio brasileiro.

Eles não conhecem a estrutura do negócio, as empresas do setor, por isso buscaram as agroquímicas (conhecidas no mercado internacional). Vai demorar um tempo até acessar esses investidores e mostrar o mercado. Não há como prever quanto tempo levará para o investidor voltar a colocar dinheiro no Brasil. A Syngenta avalia que a pandemia deve retardar em um ano o processo de amadurecimento do mercado de CRAs em dólar. Deve levar uns três anos, a partir de 2021, para vermos um número razoável de operações no Brasil. Em 2021 é possível que ocorra a aproximação dos investidores internacionais de forma mais generalizada; em 2022 haverá algumas emissões e em 2023, renovações (dos títulos emitidos). A Bayer tem avaliação semelhante. Há bastante vendas em Reais na Região Sul e centro do País, mas todo o Cerrado opera em dólar. Então, numa visão conservadora, a fatia de CRAs em dólar pode se equiparar à de Reais em dois anos e superar em quatro anos, se for possível comprovar os benefícios para clientes.

Bayer e Syngenta não têm planos de captar recursos por CRAs em dólar no curto prazo. Em novembro de 2019, a Syngenta captou R$ 800 milhões por meio de um FDIC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), que também utiliza recebíveis de produtores e revendas como garantia para empréstimos. Os recursos serão utilizados por 3 anos para financiar entre 200 a 250 produtores, revendas de insumos e cooperativas. Como houve essa grande emissão no ano passado, agora a empresa acompanha os desdobramentos do mercado. As operações de CRA em dólar que vinham sendo encaminhadas foram pausadas e talvez saiam no segundo semestre. A Bayer emitiu um CRA em Real no ano passado, também válido por três anos, e não tem planos de emitir CRAs em dólar no curto prazo. Já foram feitas três emissões de CRA (em Real) desde 2015, mas ainda não há planejado para este ano. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.