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20/Mai/2020

Câmbio: crise política e pandemia enfraquecem Real

A pandemia do novo coronavírus e a crise política no governo de Jair Bolsonaro colocaram o Real numa posição incômoda em 2020: a de moeda que mais perdeu valor no mundo. O dólar se valorizou 45,64% ante o Real este ano (até o dia 15 de maio). Na segunda colocação aparece o rand sul-africano (alta de 32,52% do dólar) e na terceira o peso mexicano (avanço de 26,77% da moeda norte-americana). A partir de março, com a intensificação da crise provocada pelo novo coronavírus, muitos países passaram a enfrentar um movimento de fuga de dólares. Isso foi percebido em especial entre os emergentes, onde investidores estrangeiros passaram a desfazer investimentos e remeter recursos a outros países. Apenas em março, deixaram o Brasil US$ 14,9 bilhões pela via financeira. Em abril, foram mais US$ 6,8 bilhões. O segmento reúne os investimentos estrangeiros diretos e em carteira, remessas de lucro e pagamento de juros, entre outras operações. O Banco Central reconheceu nos últimos meses que a busca por ativos mais seguros em outros países acarretou a fuga de dólares entre os emergentes.

O Real brasileiro, no entanto, acabou registrando desvalorização superior à de outras moedas de países emergentes. O ambiente político conturbado justifica isso. Desde que a pandemia começou, o presidente Jair Bolsonaro dispensou dois ministros da Saúde: Juiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Além disso, promoveu troca no Ministério da Justiça e Segurança Pública, com a saída de Sergio Moro do cargo. Sérgio Moro era um dos principais alicerces do governo e, na esteira de sua saída, abriu-se a possibilidade de um processo de impeachment, caso haja denúncia da Procuradoria-Geral da República. O caso está em andamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Nos últimos meses, também se intensificaram os atritos entre Bolsonaro e outras instâncias do poder, como o próprio STF. Para completar, o presidente vem defendendo o fim do isolamento social, para reaquecer a economia, na contramão das orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do próprio Ministério da Saúde.

Este cenário político conturbado é um dos motivos para que o Real tenha perdido mais valor ante o dólar do que outras moedas de emergentes, como o peso argentino, o peso chileno, o peso uruguaio, a rupia indiana e o rublo russo. Já vinha se desenhando uma piora de crescimento antes da pandemia, mas agora há uma deterioração do cenário político que mina a recuperação mais forte nos próximos anos. A estabilidade fiscal no Brasil se tornou um evento menos provável. A crise política no governo de Jair Bolsonaro coloca em dúvida inclusive o andamento das reformas econômicas, vistas como essenciais para o controle fiscal do País. Além do risco político, a pressão sobre o câmbio brasileiro tem sido maior porque a pandemia pegou o País com a Selic (a taxa básica de juros) nos mínimos históricos, portanto, pouco atrativa para investidores especulativos. Atualmente em 3,00% ao ano, a taxa básica deve recuar mais 0,75% em junho, conforme sinalizações do Banco Central.

Os países que tiveram queda forte de juros passaram por isso anteriormente, após a crise de 2008. No Brasil, isso foi mais recente: veio com a grande recessão de 2015 e 2016 e, depois, com a melhora nas questões fiscais, com a reforma da Previdência. Neste cenário, houve saída do País de capital de portfólio, já que a Selic estava em níveis menores. No ano passado, o próprio Banco Central descreveu este movimento, pontuando que parte do capital meramente especulativo estava deixando o Brasil. A visão era de que, em 2020, com mais reformas econômicas e o andamento das privatizações, os recursos voltariam, só que em forma de Investimento Direto no País (IDP). O problema é que surgiu a pandemia do novo coronavírus. Paradoxalmente, a moeda flutuante e o bom nível de reservas internacionais deixam o Brasil em situação confortável. O risco político tem peso importante, lamentavelmente, mas o País tem grande nível de reservas. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.