ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

18/Mai/2020

Populismo colocando em risco o comércio global

Os danos a uma ordem global com sinais de civilização, embora muito imperfeita, poderão ser mais duradouros que os males causados pelo novo coronavírus, se prevalecerem os inimigos do sistema multilateral. O risco se torna mais claro e mais próximo com a decisão do embaixador Roberto Azevêdo de abandonar a chefia da Organização Mundial do Comércio (OMC). Depois de matar muita gente e jogar a economia numa crise talvez sem precedente, a pandemia deverá arrefecer. Além disso, há esperança de uma vacina para aumentar a segurança geral. Mas, até a cooperação em questões de saúde poderá ficar mais difícil, nos próximos anos, se os pregadores do populismo nacionalista, liderados pelo presidente americano, Donald Trump, impuserem a lei da força na vida internacional. O atual diretor da OMC deixará a função depois de um longo e severo desgaste, promovido principalmente pela tentativa do presidente Donald Trump de impor seus critérios à entidade.

Por causa dessa pressão, a OMC sequer tem condições, há muitos meses, de cumprir uma de suas funções básicas, a solução de conflitos por meio da aplicação de normas internacionais de comércio. O governo norte-americano boicotou, sem disfarce, a nomeação de juízes para ocupar as vagas abertas no Órgão de Apelação. O desgaste cresceu com o prolongado conflito comercial entre Estados Unidos e China, resultante basicamente de restrições criadas pelos norte-americanos. Além disso, o presidente Trump estendeu suas ameaças à União Europeia, ampliando as áreas de tensão, e impôs barreiras protecionistas a vários outros parceiros, incluído o Brasil. O presidente Jair Bolsonaro absteve-se pelo menos de aplaudir essas medidas, mas aceitou quase sem reação as agressões comerciais decididas por Trump. Eleito em 2013, o diretor-geral Roberto Azevêdo logo desistiu de concluir as negociações, muito emperradas, da Rodada Doha, iniciada no fim de 2001.

Ele tentou seguir um caminho menos ambicioso e mais pragmático, favorecendo a busca e a aplicação de acordos sobre facilitação de negócios, eliminação de subsídios às exportações agrícolas, ampliação de oportunidades para economias em desenvolvimento e difusão de tecnologia da informação. Com a pandemia, o trabalho ficou especialmente difícil. Isoladamente ou em coordenação com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), a OMC batalhou para manter dinâmico o mercado de alimentos e para evitar entraves a exportações de produtos essenciais ao enfrentamento do surto do novo coronavírus. As ações de Donald Trump correspondem a seu discurso habitual contra a globalização e o multilateralismo. Não se destinam a fortalecer e a tornar mais equitativo o sistema de comércio, mas a impor seus critérios ao mundo.

Mas, a bandeira de Trump, saudada por seguidores como o presidente Bolsonaro, representa, antes de mais nada, um equívoco desastroso. A criação da OMC, em 1995, foi desdobramento de uma política formulada muito antes de se falar de globalização. Em 1941, reunidos num navio, o presidente Franklin Roosevelt e o primeiro-ministro Winston Churchill assinaram a Carta do Atlântico, um roteiro moral e político para a guerra, então no começo, e para a paz ainda distante. Um dos oito itens da Carta resumia o compromisso de apoiar o acesso de todos os países, em condições equitativas, aos benefícios do comércio e da prosperidade. A evolução do sistema depois da guerra foi uma longa e complicada tentativa de materializar esse objetivo. Mas, a Carta foi assinada por Churchill e Roosevelt, sem consulta a qualquer exemplar da espécie de Trump e assemelhados. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.