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15/Mai/2020

Dólar poderá ultrapassar o patamar dos R$ 6,00?

O dólar fechou em queda de mais de 1% nesta quinta-feira (14/05), em uma sessão marcada por volatilidade e pela aproximação da moeda da marca de R$ 6 pela manhã, movimento contido pela melhora externa e por duas intervenções do Banco Central no mercado de câmbio. O dólar à vista caiu 1,37%, para 5,8202. Porém, no período da manhã a moeda atingiu R$ 5,95 e bateu nova máxima recorde intraday, estendendo o rali da véspera em meio a exterior cauteloso e política doméstica tensa. A moeda norte-americana caminha para superar a marca de R$ 6 apenas dois meses após atingir pela primeira vez na história os R$ 5, em um cenário não só de crise por conta do coronavírus, mas também de grande tensão política. Há ansiedade dos mercados internacionais devido a uma possível segunda onda de infecção do coronavírus em alguns países e após o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, ter se mostrado bastante cauteloso sobre a possibilidade de uma recuperação econômica rápida após a pandemia. Na quarta-feira passada, o chairman do Fed disse que os Estados Unidos podem enfrentar um "período prolongado" de crescimento fraco e renda estagnada, ao mesmo tempo em que descartou o uso de juros negativos como uma ferramenta de política monetária.

Segundo o Bradesco, a decepção em relação às perspectivas para a política monetária norte-americana, bem como os temores em relação a tensões entre EUA e China, são fatores que ajudam a impulsionar a aversão a risco global. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta quinta-feira que está muito decepcionado com a China, uma vez que o novo coronavírus surgiu pouco depois de os dois países fecharem a Fase 1 do acordo comercial. Enquanto isso, em evidência do cenário sombrio para a maior economia do mundo, mais 2,981 milhões de norte-americanos fizeram pedidos de auxílio desemprego na semana passada, à medida que as ações de contenção do coronavírus massacram o mercado de trabalho dos EUA. No exterior, diante do ambiente cauteloso, moedas arriscadas pares do Real apresentaram perdas acentuadas contra o dólar. Já no Brasil, os ruídos políticos e os riscos fiscais não dão trégua. Nas últimas semanas, após a saída de Sergio Moro do cargo de ministro da Justiça, a política brasileira tem sido marcada pela incerteza, principalmente em meio a acusações de que o presidente Jair Bolsonaro teria cobrado uma mudança na superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro por motivos pessoais. O presidente afirma que não citou a PF durante reunião ministerial do mês passado que está no centro do um inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em meio a cenário externo cauteloso, política doméstica tensa e ambiente de juros baixos, o dólar já acumula alta de 48% contra o Real no ano de 2020. Conforme o cenário ruim se solidifica no país, analistas passaram a revisar sucessivamente suas projeções, apontando que realmente a moeda americana deve superar os R$ 6 em breve, apesar de não haver a expectativa de que ela termine o ano neste patamar. Mais recentemente, o Deutsche Bank se mostrou bastante pessimista, apontando que o dólar possa chegar a R$ 6,50 conforme o Brasil enfrenta a pior recessão da sua história, uma vez que a pandemia do coronavírus expõe as reformas ainda não finalizadas no Brasil, além do cenário político. Mas a mais recente revisão de cenário veio do Credit Suisse, com os analistas mantendo uma postura mais pessimista e definindo um preço para o curto prazo em R$ 6,20, destacando exatamente a situação dos riscos políticos e juros baixos, que deixam o chamado carry trade (operação em que o investidor toma dinheiro emprestado a juros baixos e aplica em países de juros mais altos para ganhar na diferença) pouco atrativo. Desde a última atualização de cenário, no fim de abril, o que tem dominado o câmbio é a turbulência política, com preocupações relacionadas aos problemas legais do presidente Jair Bolsonaro e a posição do Ministro Guedes na administração da economia.

O risco da pressão judicial no presidente pode abrir o caminho para gastos fiscais mais generosos, para assegurar apoio no Congresso, o que seria visto negativamente por Guedes, e consequentemente pelo mercado. Além disso, os analistas apontam ainda a política monetária agressiva do Banco Central, que cortou a Selic para 3% e já indicou que fará mais uma redução de até 0,75 ponto percentual. A combinação de risco político e políticas fiscais e monetárias agressivas tem levantado preocupações com relação a sustentabilidade dessas medidas no Brasil. O Credit afirma ainda que tem dúvidas sobre o futuro do câmbio e que o carry trade deve seguir pouco atrativo quando comparado com outras moedas emergentes. Por outro lado, os analistas do banco apontam que podem ocorrer surpresas positivas de eventos externos como a melhoria mais rápida da situação da Covid-19, que potencialmente criariam condições melhores para a moeda, mas dificilmente a situação atual política irá apoiar o câmbio e assim é mantido o viés bastante cauteloso. Enquanto isso, a Wagner Investimentos ressalta o problema fiscal do país, algo que já alertava desde o início da quarentena em São Paulo, há dois meses.

O pacote inicial de R$ 80 bilhões do governo era fraco e era esperado um aumento do montante das medidas para cerca de 10% do PIB, enquanto a situação das contas públicas deve levar a dívida bruta para perto de 100% do PIB. Esse desastre das contas públicas somado ao aumento dos casos da Covid-19 tem pesado demais na moeda, ainda mais com taxa Selic podendo cair para 2,25% ou talvez menos. O modelo de projeções da empresa aponta a possibilidade da moeda chegar a R$ 6,10. Com a acentuada deterioração econômica e política no país e uma extrema flexibilização monetária, o BofA também revisou sua projeção de câmbio ao fim do ano de R$ 5,20 para R$ 5,85. Diversos fatores podem facilmente empurrar o dólar para acima de R$ 6, como a aceleração dos casos de covid-19 e os embates políticos internos. O BofA espera que o ruído político permaneça alto enquanto o Procurador Geral da República (PGR) ouve testemunhos e coleta evidências para decidir se apresentará uma acusação formal contra o presidente Jair Bolsonaro no Congresso. O barulho político pode afetar a agenda de reformas e o processo de normalização fiscal no próximo ano. Isso manterá o Real sob pressão no curto prazo. No início da semana, o Banco Fibra já havia revisado sua projeção de câmbio, afirmando que a moeda poderia superar os R$ 6 em breve. A instituição revisou a estimativa para dólar médio em 2020 para R$ 5,46, ante estimativa anterior de R$ 5,39. Já para o final do ano, o Fibra estima agora a taxa de câmbio em R$ 5,75, ante estimativa anterior de R$ 5,50.

Além dos fatores globais relacionados à pandemia da Covid-19 – que aumentam as incertezas globais valorizando a cotação do dólar — fatores exclusivamente domésticos justificam nosso cenário de Real estruturalmente fraco nos próximos anos, tais como o juro real baixo, baixa taxa de crescimento do PIB potencial e do PIB efetivo, fluxo cambial bastante negativo, piora nos termos de troca, além de ruídos provocados pelo próprio governo, segundo o Fibra. O Banco Fibra reconhece o viés para depreciação adicional por conta de fatores domésticos, com os ruídos políticos. Para os próximos meses especificamente, entende que o Real pode inclusive ser negociado acima de R$ 6, já que as crises de saúde pública e econômica podem ser amplificadas por ruídos políticos. O Itaú foi outro banco que também elevou sua projeção para o câmbio, que saltou de R$ 4,60 para R$ 5,75 este ano. Para 2021, a nova projeção é de R$ 4,50, contra R$ 4,15 anteriormente. Apesar das projeções negativas, a média dos economistas ainda não espera o dólar terminando o ano a R$ 6. No mais recente relatório Focus, que compila a projeção de diversos economistas, o cenário projetado para 2020 é de câmbio mais baixo, com o dólar ficando em R$ 5,00. Já para 2021, a previsão passou para R$ 4,83, contra R$ 4,75 esperados na semana anterior. Assim, mesmo se o dólar cair em relação aos patamares atuais, a expectativa é de que não haja uma baixa tão rápida pela combinação de um cenário fiscal complicado, tensão política e taxa de juros baixa. Fontes: Reuters, Bloomberg e Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.