24/Abr/2020
Por mais de um século, o petróleo está entre as mercadorias mais vitais do mundo. Em 20 de abril, tornou-se menos do que inútil. Foi assim que a revista britânica The Economist iniciou uma reportagem sobre a recente queda dos preços da commodity no mercado internacional. A publicação lembrou que há alguns dias o preço do contrato futuro para maio do West Texas Intermediate (WTI) caiu para impensáveis US$ 40,00 por barril negativo. O preço do petróleo Brent, referência internacional, também afundou, antes que ambos parecessem se recuperar, com os contratos com vencimentos mais próximos chegando a US$ 13,78 por barril para o WTI e a US$ 20,37 por barril para o Brent no dia 22 de abril. Os mercados de petróleo ainda têm um problema de tempo. Enquanto os governos tentam conter a disseminação da Covid-19, a demanda por petróleo caiu mais e mais rapidamente do que em qualquer outro momento da história. A produção tem diminuído mais lentamente, então os tanques de armazenamento estão se enchendo.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados anunciaram este mês um acordo histórico para cortar a produção. No dia 20 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que seu governo pode comprar até 75 milhões de barris de petróleo para a reserva estratégica país. Mas, é improvável que a produção caia com a rapidez suficiente para equilibrar os mercados de petróleo em maio, junho ou até mais tardar neste verão no Hemisfério Norte. E, à medida que os estoques de petróleo aumentam, também aumenta a pressão no mercado. O contrato do WTI de maio tem algumas idiossincrasias, mas revela o cenário de desastre. O último dia de negociação do contrato foi em 21 de abril. O preço caiu em 20 de abril, quando traders perceberam que possuíam petróleo a ser entregue em Cushing, em Oklahoma, em maio, mas que a cidade provavelmente não teria tanques disponíveis para armazená-lo. A pressão no mercado global é menos extrema, mas não totalmente diferente.
Em 12 de abril, a Opep e seus aliados prometeram restringir a produção em 9,7 milhões de barris por dia em maio e junho, o maior corte já registrado. No entanto, o acordo ocorreu tarde demais para lidar com a implosão da demanda em abril. A Agência Internacional de Energia (AIE) espera que o consumo de petróleo caia 29 milhões de barris por dia neste mês, em comparação com abril de 2019, equivalente a um terço da oferta global. O acordo também pode ser insuficiente também para lidar com as contínuas quedas na demanda em maio, principalmente porque os cortes reais são menores do que os anúncios sugerem. Nem todos os mais de 20 participantes do acordo podem cumpri-lo. Além disso, a Arábia Saudita, a Rússia e outros membros do grupo concordaram em cortar a produção não a partir dos níveis de fevereiro, mas de uma base ainda mais alta. O corte coletivo, em comparação com fevereiro deste ano, está mais próximo de 7,5 milhões de barris por dia. Não está claro se ou quando ocorrerão cortes mais profundos.
Donald Trump ajudou a intermediar o acordo da Opep e está ponderando outras medidas para apoiar os preços. Mas, qualquer compra das reservas estratégicas dos Estados Unidos exigiria a aprovação do Congresso. Os reguladores do Texas estão limitando a produção o Estado, mas uma reunião em 21 de abril terminou sem acordo. As quedas na produção impulsionadas pelo mercado são mais prováveis, principalmente após o pesadelo do contrato de maio. Mas, até agora, os cortes declarados pelas empresas têm sido muito mornos: eles costumam parar a produção, pois reiniciar um poço pode ser caro. A expectativa é de que a oferta global exceda a demanda no segundo trimestre em mais de 13 milhões de barris por dia. Enquanto isso, o armazenamento norte-americano está se enchendo rapidamente e pode atingir o limite do tanque em junho. Em 22 de abril, o país informou que os estoques de petróleo atingiram 519 milhões de barris, perto do recorde de 535 milhões estabelecido em 2017.
O petróleo bruto Brent é transportado por via marítima e, portanto, menos vulnerável a problemas de transporte e armazenamento. Porém, também enfrenta restrições. O volume de petróleo armazenado em navios aumentou 70% desde o início de março. Além disso, mais petróleo é carregado em navios em direção a tanques de petróleo em terra, que já devem estar com cerca de 85% de sua capacidade. Circunstâncias sem precedentes estão trazendo comportamento sem precedentes. O petróleo é geralmente armazenado em navios gigantes, como o Suezmax, ou em terra perto de grandes portos ou centros populacionais, como Roterdã ou Nova York. Segundo a Trafigura, as empresas agora estão considerando vagões, pequenas barcaças ou até caminhões estacionados. O preço de um contrato para uma importante referência de petróleo bruto pode não cair novamente para - US$ 40,00 por barril. Mas, à medida que os estoques aumentam, os mercados de petróleo continuam testando o campo das possibilidades. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.