14/Abr/2020
De modo geral, os impactos sobre o PIB e sobre o mercado de trabalho do setor serão distintos, primeiro, porque os setores de grande peso na formação do PIB não são aqueles que detêm a maior relevância na geração de empregos. Segundo, porque os estabelecimentos de menor porte, sejam agropecuários, agroindustriais ou de agrosserviços, são mais representativos na geração de postos de trabalho do que de PIB. Até o momento, a expectativa é de um desempenho satisfatório no PIB do agronegócio, sobretudo da agropecuária, havendo, portanto, grande disparidade com a economia em geral, cujas projeções de desempenho pioram dia a dia. Essa perspectiva positiva para o PIB do agronegócio, por sua vez, está fundamentada no dólar elevado (que impede a completa transmissão da provável queda dos preços internacionais diante do desaquecimento da demanda global), nas boas perspectivas em termos de preço e produção para grandes culturas (como grãos e café e para os complexos das carnes) e na baixa elasticidade-renda de produtos alimentares essenciais.
Contudo, as agroindústrias que dependem do mercado interno brasileiro de vem pressionar o PIB, como a de móveis e as atividades têxtil, vestuário e calçados. Essas últimas já vêm vivenciando retrações anuais sucessivas de produção desde o início da crise no País, oficialmente em 2014 e esse cenário deverá se repetir e se agravar em 2020. Ademais, pressões negativas sobre o PIB do agronegócio também podem vir das indústrias de laticínios e de biocombustíveis. No primeiro caso, pelo maior valor agregado para um produto alimentar, e no segundo caso, pelo cenário extremamente crítico tanto por causa da fraca demanda interna durante o período de isolamento quanto devido à queda nos preços do petróleo. Os impactos dos efeitos da pandemia de coronavírus sobre a situação do mercado de trabalho são preocupantes. Isso porque grande parte das ocupações refere-se a estabelecimentos de menor porte e de setores que provavelmente serão mais afetados pela crise.
Muitos empregos estão concentrados em estabelecimentos agropecuários, agroindustriais e de agrosserviços de menor porte. Assim, enquanto alguns em situações financeiras mais delicadas já sofrem no período de isolamento social, outros sairão desse período para lidar com uma demanda interna pouco aquecida e com a necessidade de pagar pelos créditos tomados para manter o negócio durante a pandemia. Em termos setoriais, as perspectivas de impacto da crise são ruins para muitas atividades agropecuárias e agroindustriais que são grandes geradoras de postos de trabalho. Neste caso, destacam-se as diversas atividades da horticultura, a floricultura, a produção de leite e indústria de laticínios, as indústrias de móveis e as relacionadas a vestuário (têxtil, vestuário e couro e calçados).
A gravidade da situação vai depender da duração desse momento de restrições mais severas à mobilidade e da efetividade das ações do governo, seja de apoio aos empregados (para garantia de renda e logo, demanda) ou às empresas. Nesse sentido, torna-se essencial, neste momento, a eficácia com que o governo faça chegar à grande massa da população de baixa renda os recursos mínimos para sobrevivência, inclusive para adquirirem os produtos que o agronegócio disponibilizará ao varejo. É preciso reforçar, finalmente, que, na atual conjuntura marcada por enormes incertezas, qualquer perspectiva formada também é bastante incerta. Um agravamento além do esperado da crise do coronavírus no Brasil e no mundo, assim como um alcance aquém do esperado das políticas de apoio pelo governo brasileiro, pode comprometer o desempenho do PIB do agronegócio, mesmo com o câmbio favorável, e deteriorar ainda mais a situação do mercado de trabalho. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.