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31/Mar/2020

Coronavírus: leia a síntese das principais matérias

BRASIL: MICRO E PEQUENAS EMPRESAS SÃO AS MAIS AFETADAS

Enquanto as grandes companhias do País têm, pelo menos, três meses de caixa para bancar todas as despesas sem faturar, nas micro, pequenas e médias empresas a situação é bem diferente. A maioria não tem fluxo de caixa suficiente para bancar um período longo sem receitas. Segundo a Trevisan Escola de Negócios, tradicionalmente, essas empresas têm 27 dias de caixa para honrar seus compromissos. Se param de vender, podem quebrar mais rapidamente. Além disso, elas mal conseguem se financiar no mercado mesmo em condições normais. Exemplo dessa dificuldade é a escalada da inadimplência das empresas pelo 11º mês consecutivo. Em janeiro, segundo a Serasa Experian, o País teve um novo recorde: 6,2 milhões de empreendimentos com contas atrasadas e negativadas, número quase 10% superior a igual período do ano anterior. Desse total, 94,2% são micro ou pequenos negócios, com os demais se dividindo entre médio e grande portes. Metade dos inadimplentes são do setor de serviços.

Os atrasos vinham numa escalada desde a recessão e depois na semiestagnação. O crescimento de 1% ao ano não chega aos pequenos negócios. Por isso, o atraso nas contas só aumenta. Com a crise atual, o índice de inadimplência deve acelerar a alta dos últimos meses. É consenso que quem vai sofrer mais são as micro e pequenas que têm estruturas financeiras mais frágeis. Um problema é que 30% da dívida em atraso dessas empresas menores são com outras empresas, no chamado crédito mercantil. A inadimplência de pessoa jurídica no Brasil não está com os bancos, mas com os fornecedores (o que provoca efeito em cascata). O melhor seria se fosse com o mercado bancário, uma vez que as instituições financeiras têm condições para aguentar esses movimentos. Em muitos casos, os inadimplentes não quebram nem fecham as portas. Mas, a atividade fica comprometida já que só podem comprar insumos, matéria-prima ou mercadorias à vista. Eles perdem o acesso a crédito com taxas menos caras.

É nesse cenário que a crise atual chega para esse universo de empresas, responsáveis por mais de 80% dos empregos (formais e informais) no Brasil. Com a saúde dessas empresas debilitada, o maior risco recai sobre o mercado de trabalho. Em fevereiro, a taxa de desemprego do País estava em 11,2% e atingia 11,9 milhões de pessoas. Essa é uma taxa muito alta e perdura há muito tempo. Antes da crise atual, o Brasil já não conseguia empregar quem entrava no mercado de trabalho nem recolocar quem estava sem emprego. A pandemia do coronavírus tem capacidade para jogar outros 5 milhões de brasileiros no desemprego. Isso elevaria para quase 17 milhões o número de pessoas sem emprego. O problema é que não sabemos nem como será a volta à produção. Faltam medidas concretas e discussões mais sadias sobre o assunto. Existe a data de 7 de abril para flexibilizar a quarentena. Mas, há temores com a possibilidade de uma segunda onda de contaminados.

Nos últimos dias, cresceu a discussão sobre o tempo de lockdown (fechamento) da economia. Alguns empresários e o presidente da República, Jair Bolsonaro, defendem a flexibilização imediata da quarentena para não prejudicar a economia, apesar das orientações dos especialistas em saúde de que é preciso isolamento social para conter a proliferação do vírus. No dia 27 de março, o prefeito de Milão (Itália) admitiu que errou na política de combate ao avanço do coronavírus na cidade ao divulgar um vídeo no fim de fevereiro dizendo que Milão não deveria parar. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), a crise provocada pelo coronavírus está só no começo, mas já deixa lições. Uma delas é a importância da desconcentração da atividade econômica, que precisa ser mais aprofundada para aliviar o peso das políticas públicas sobre os grandes centros urbanos. O País precisa promover mais essa distribuição da atividade econômica pelo território nacional.

BRASIL: GUEDES - BRASIL NÃO SUPORTA 3 MESES DE ISOLAMENTO

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que a estimativa do governo é que a área da saúde precisa de três meses de isolamento para superar o novo coronavírus, mas ponderou que talvez o País não aguente todo esse tempo. Ele afirmou que, como economista, gostaria que fosse possível retomar a produção, mas que, como cidadão, ao contrário, prefere ficar em casa. Segundo ele, o contágio pelo novo coronavírus está se acelerando no Brasil, com a previsão de aumento do número de casos até junho. Do ponto de vista da saúde, o isolamento teria que ser de três meses.

Do ponto de vista econômico, na medida em que a Covid-19 sobe vertiginosamente, a atividade desaba. O ministro afirmou que a economia brasileira aguenta ao menos parte do período necessário de paralisação por causa do isolamento, desde que a linha básica para entrega de itens essenciais como alimentos, suprimentos e medicamentos continuar a funcionar. Para o Ministério da Saúde, seria precipitado interromper o isolamento antes de pelo menos dois meses. Do ponto de vista da economia, um mês é suportável. Ele elogiou o trabalho da ministra Tereza Cristina (da Agricultura) e do ministro Tarcísio de Freitas (Transportes).

Ainda segundo Guedes, se a linha básica de alimentação, suprimento, remédio e pedidos de comida em casa funcionar, é possível “esticar” um pouco. Aguentaria 1 ou 2 meses, até mesmo 3 meses sem o colapso completo da economia. Mas, se passar dos 3 meses, a economia começa a se desorganizar. Em meio aos embates internos no governo sobre a importância do distanciamento social e da retomada econômica mais imediata, Guedes afirmou que é preciso ter respeito pela opinião dos dois lados.

OMS: ESGOTAMENTO NO SISTEMA DE SAÚDE ELEVA MORTES

A Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou nesta segunda-feira (30/03) para o fato de que a pandemia de coronavírus tem pressionado os sistemas de saúde em muitos países. Surtos anteriores de doenças nos mostram que, quando os sistemas de saúde estão assoberbados, as mortes que poderiam ser prevenidas por vacinas ou tratamentos aumentam dramaticamente. Nesse contexto, a OMS informou que publica nesta semana um relatório para orientar países a conseguir lidar com os impactos da pandemia, sem abrir mão dos demais serviços no setor. Foi reforçado com ministros de Comércio do G20 a importância de que seja garantida a logística de transporte de itens médicos para lidar com a situação.

No contexto de combate à pandemia, medidas de restrição à circulação de pessoas são difíceis, mas a alternativa é pior, já que a livre movimentação acelera o número de novos casos, pressionando os sistemas de saúde. Essas restrições podem fazer autoridades ganharem tempo para a resposta ao problema. Ao mesmo tempo, notou que, no quadro atual de restrições em vários países, a maioria dos novos casos acontece dentro das casas das pessoas, por isso a importância de se continuar a buscar esses casos para isolá-los e reduzir a disseminação da doença. Ao mesmo tempo, muitas pessoas, inclusive em países ricos, dependem de seu trabalho diário para conseguir comprar sua comida. Os governos precisam levar esse contexto em conta, na hora de elaborar suas políticas.

É preciso ver não apenas o impacto no PIB, mas na vida dos indivíduos. Vários países têm adotado medidas fiscais para se contrapor à piora econômica, por exemplo prometendo pagamentos diretos aos trabalhadores mais afetados e concedendo empréstimos a empresas. O comando da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou que não há medicamento ou terapia já comprovados contra a Covid-19. Autoridades da entidade lembraram que há estudos preliminares apontando que alguns remédios podem ser úteis contra o vírus, mas ressaltaram que ainda não está estabelecido exatamente em que quantidades, para quais casos específicos e em que contextos eles podem ser utilizados. A OMS defendeu a importância de que esses estudos continuem, mas lembrou que não há ainda uma resposta padronizada para a Covid-19 já avalizada.

Alguns países podem permitir o chamado "uso por compaixão" de remédios não totalmente testados para casos individuais, mas defendeu que não se encoraje o uso disseminado de medicamentos ainda não comprovados. Algumas autoridades, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, têm mencionado a cloroquina como um possível remédio para a doença. A máscara, por sua vez, não é recomendada para uso cotidiano para todos, mas apenas para pessoas com sintomas da doença. As máscaras são mais úteis para os trabalhadores de saúde na linha de frente e isso deve ser garantido. Além disso, a OMS insistiu na importância da realização de testes para mapear o problema e isolar os casos confirmados. O isolamento não precisa ser num hospital. Em alguns países isso poderia ocorrer, por exemplo, em centros comunitários.

Fontes: Agência Estado, Reuters, Agência Brasil e Bloomberg. Elaborado por Cogo Inteligência em Agronegócio.