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27/Mar/2020

FAO alerta para o risco global de tensão alimentar

A FAO, agência das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, aponta risco de tensões no sistema alimentar mundial no rastro do Covid-19. As perturbações podem aparecer na cadeia alimentar a partir de abril/maio. Também prevê menor consumo de carnes na esteira da pandemia. Os impactos do coronavírus na produção de alimentos e na agricultura vão ocorrer na medida em que os casos da pandemia aumentam no mundo e o confinamento e outras restrições são adotadas para frear a propagação do vírus. No momento, as interrupções são mínimas, porque os abastecimentos de alimentos têm sido adequados e os mercados continuaram estáveis. Os estoques mundiais de cereais são ainda elevados e as previsões sobre a colheita de trigo e as principais culturas são positivas para este ano. Para a FAO, é provável uma menor produção de alimentos básicos de valor elevado, como frutas e legumes, mas ainda não se constata perturbações nesse segmento.

No entanto, há desafios crescentes na circulação de produtos alimentares. O problema fundamental vai acontecer na parte de logística, mas a situação é diferente para distintos tipos de commodities. Para os cereais, intensivos em capital, as reservas são suficientes e a colheita atual é muito boa. Não há problema em termos de disponibilidade de alimentos. Mas dificuldade pode ocorrer na parte da logística, na medida em que cadeias de distribuição podem ser afetadas pelo lockdown. Se os países ficarem nervosos, isso poderá levar os exportadores a impor restrições à exportação, e é algo que deve ser evitado. No lado de commodities de alto valor, produtos perecíveis, demandam muito trabalho e, portanto, a parte da produção pode ser afetada pela redução na oferta de mão-de-obra devido a aspectos de doenças ou pelo lockdown que está afetando o fluxo de trabalhadores temporários.

Também os problemas na cadeia logística são muito mais preocupantes por serem produtos perecíveis. Por isso, a FAO reitera que é importante que os países tentem evitar esses problemas e permitam que a cadeia alimentar possa ser mantida viva e eficiente. Especificamente sobre possíveis perturbações na cadeia alimentar a partir de abril, isso pode acontecer porque os efeitos do confinamento e a redução na oferta de mão-de-obra serão claros nos próximos meses no setor agrícola. As colheitas de muitos produtos de países exportadores podem ser afetadas. Sobre o impacto da crise do Covid-19 para exportadores como o Brasil, seriam dois efeitos: o da oferta, principalmente por problemas logísticos e trabalhistas, devido a doenças e/ou a incapacidade de mover-se para o trabalho. No Brasil, já há problemas de logística, como em Mato Grosso por exemplo.

Quanto à demanda, a crise atual vai gerar uma recessão e isso vai se refletir na demanda, podendo afetar os preços, levando-os à baixa no futuro próximo. A estrutura de custos do setor agrícola brasileiro vai ser influenciada pela desvalorização do Real em relação ao dólar. A expectativa de queda na produção e no consumo agrícola decorre do fato de que as pessoas estão comprando menos e muitos não estão produzindo. Se a cadeia de valor não estiver protegida, é possível que ocorram problemas de preço e possível escassez de alimentos, especialmente de produtos de alto valor (frutas e vegetais), porque são mais trabalhosos e serão mais afetados por problemas logísticos. Ainda é muito cedo para se prever baixa de produção de grãos. No entanto, a queda no crescimento econômico mundial como resultado do coronavírus afetará negativamente a demanda e, portanto, os preços.

A FAO considera possível uma queda maior, desproporcional, do consumo de carnes. A indústria de carnes tem três problemas. Há o efeito oferta e o problema logístico está afetando o segmento de carnes, já muito fechado por causa de quarentena. Isso é algo a evitar, tomando-se medidas de saúde necessárias para os empregados. Em segundo lugar, há o problema de informação. Tem havido muita especulação de que o coronavírus tenha se originado de animais para humanos. Isso não tem evidência científica, mas a especulação levou consumidores a temerem comer carnes. E em terceiro lugar, tem o efeito da demanda. A recessão vai reduzir a demanda e isso pressionará os preços das carnes para baixo. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.