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24/Mar/2020

Agronegócio: impactos do Covid-19 por segmentos

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) elaborou um relatório do impacto do Covid-19 para o setor agropecuário, a partir de um trabalho de acompanhamento que vem sendo feito desde o dia 11 de março, quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou pandemia do novo coronavírus. Na China, maior comprador dos produtos do setor, não foi identificada interrupção de importações de bens agropecuários. Mas o cancelamento de rotas marítimas já resulta em atrasos no transporte internacional. O comércio de grãos, óleos e alimentos registrou aumento de 9,7% entre os meses de janeiro e fevereiro de 2020.

Na União Europeia, ainda não há impactos expressivos no comércio com o Brasil. Hoje as medidas restritivas estão muito mais focadas na redução da movimentação de pessoas do que na circulação de mercadorias. Nos Estados Unidos, também não se percebe nenhum impacto no comércio agrícola. O governo norte-americano tem tomado medidas mais focadas na saúde das pessoas e garantiu que a produção de alimentos não para. Quanto à Arábia Saudita, houve aumento de demanda por fornecedores brasileiros para suprir o mercado interno. Os exportadores brasileiros e importadores relatam atraso na liberação de cargas no porto de Gidá. O controle portuário está mais rígido.

GRÃOS

Os preços das principais commodities agrícolas, como soja e milho, caíram no mercado internacional, mas os valores em Reais não foram afetados devido à valorização do dólar.

CAFÉ

Os preços estão em alta no mercado internacional o que, combinado, com a alta do dólar, resulta em elevações expressivas das cotações pagas aos produtores no Brasil.

CANA E ALGODÃO

Para o setor sucroenergético e o algodão, o impacto no preço veio do conflito entre Rússia e Arábia Saudita por causa do petróleo, que derrubou os preços nestes setores. No caso do setor sucroalcooleiro, o impacto negativo ocorre tanto para o etanol, como para o açúcar. O segmento de etanol é afetado diretamente pela baixa do preço da gasolina, que empurra para baixos os preços do biocombustível. O valor do etanol hidratado nas usinas paulistas caiu 13,9% na última semana ante a anterior, de R$ 1,9437 para R$ 1,6721 o litro, em média. Já o valor do anidro recuou 6,2% no período, de R$ 2,1558 para R$ 2,0221 o litro, em média. Na última semana, os preços médios do etanol eram mais vantajosos ante os da gasolina apenas em Goiás.

O etanol, por ter menor poder calorífico, tem um preço limite de 70% do derivado de petróleo nos postos para ser considerado vantajoso. Na média dos postos pesquisados no País, a paridade é de 71,9% entre os preços médios de etanol e gasolina, desfavorável ao biocombustível. O açúcar sofre um efeito indireto, pois as usinas tendem a alterar o mix de moagem de cana, destinando mais produto para fabricação de açúcar, o que eleva a oferta do produto e pressiona as cotações globais, já que o Brasil é o maior produtor e exportador global. No caso do algodão, a queda dos preços do petróleo barateia o custo das fibras sintéticas, como poliéster e nylon, que são concorrentes diretos da pluma na fabricação de produtos têxteis.

CARNES

No segmento de carnes, inicialmente, ocorreu queda dos preços da arroba do boi gordo por pressão dos frigoríficos e pela fraca comercialização no atacado. Com isso, a escala dos frigoríficos foi reduzida, forçando a elevação dos preços. Os maiores frigoríficos anunciaram férias coletivas em alguma das suas unidades. Já as plantas de aves e suínos não vão interromper a produção. Mas a queda na demanda de food service preocupa esses segmentos. As empresas já sentiram queda de 10% a 15% nos pedidos. Por outro lado, os pedidos das redes de atacado e varejo aumentaram. Na parte da exportação, a falta de contêineres tem dificultado as vendas de proteínas animais.

LEITE

A Associação Brasileira de Produtores de Leite (Abraleite) pediu ao governo ações que garantam a viabilidade da produção de leite em todas propriedades leiteiras do Brasil. Nos últimos dias, prefeitos de diversas cidades do País e governadores publicaram decretos obrigando o fechamento de fábricas, comércio e restrição de transporte, o que preocupa muito, porque isso pode inviabiliza o funcionamento de cadeia do leite. O pedido é também de garantia da logística de captação nas propriedades e entregas das indústrias ao comércio. Neste momento, o setor pediu ao governo federal uma trégua em impostos e suspensão temporária de encargos como FGTS e INSS (Funrural).

PESCADO

O setor sofre o efeito da queda no consumo do food service. A comercialização de camarão, por exemplo, teve queda de 80%, mas aumentou 20% nas vendas no varejo.

FLV

Quantas à demanda por frutas e hortaliças, a demanda nos supermercados cresceu de 20% a 30% nos primeiros dias de intensificação da pandemia. A comercialização no varejo representa 53% das movimentações desses produtos. Por outro lado, a procura em redes de fast food, de bares e de restaurantes caiu drasticamente. Com a ordem de fechamento em grandes cidades, espera-se que demanda recue ainda mais e pressione negativamente os preços de alguns segmentos.

Tomate: forte queda de 25% dos preços nos últimos sete dias – pedidos adiados, clientes reduziram compras, escolas e estabelecimentos fechados, produtores até deixaram de entregar por falta de pedidos, atacado tem muita sobra de qualidade inferior e alta perecibilidade que não possibilita armazenar por muito tempo.

Batata: preços em alta de 33% nos últimos sete dias – demanda aquecida no varejo no intuito de estocar alimentos e oferta menor, devido às chuvas na maioria das regiões e à desaceleração da colheita no Sul de Minas Gerais.

Cenoura: forte alta de 19% dos preços nos últimos sete dias – redução contínua da oferta na região de São Gotardo/MG, mas a tendência é de estabilidade nos próximos dias e isolamento diante da pandemia pode impactar o mercado.

Cebola: preços em alta de 23% nos últimos sete dias – maior número de pedidos do Nordeste e da redução dos estoques no Sul, mas o mercado pode ser afetado nos próximos dias com funcionamento limitado dos galpões no Sul do País, assim como a redução das importações da Argentina.

Alface: preços em baixa de 4% nos últimos sete dias – redução expressiva pela procura com o distanciamento social, com consumidores priorizando alimentos com maior durabilidade, o que deve gerar redução das áreas plantadas.

Banana: preços em alta de 10% nos últimos sete dias – comercialização aquecida, baixa oferta, grande demanda de distribuidores e redes varejistas nos últimos dias, que visam abastecer os estoques e suprir a demanda em seus comércios.

Cítricos: preços firmes – preocupação com a paralisação das atividades escolares e à redução do horário de funcionamento de restaurantes, feiras e varejões. Para a laranja, uma possível retração da demanda pode não impactar significativamente nos preços, pois a colheita das precoces da safra 2020/2021 deve se intensificar somente na 2ª quinzena de abril, mas para a tahiti, cuja oferta segue elevada em São Paulo, a menor demanda interna pode pressionar as cotações.

Maçã: preços estáveis nos últimos sete dias – muitas redes de supermercados anteciparam compras, mas momento é de apreensão, pois esse aquecimento na demanda deve ser apenas momentâneo, com a paralisação das escolas - a merenda escolar representa uma parcela expressiva da demanda.

Mamão: preços estáveis mesmo com comercialização aquecida – compras antecipadas dos consumidores diante das incertezas das próximas semanas, mas o fornecimento não deverá sofrer interrupção.

Manga: forte queda de 14% dos preços nos últimos sete dias – queda das vendas no varejo, suspensões do trabalho presencial em instituições e interrupções de aulas e redução dos pedidos por parte dos atacadistas.

Melancia: preços estáveis nos últimos sete dias – oferta reduzida e aumento da procura por parte dos supermercados e varejões.

Melão: preços em alta de 6% nos últimos sete dias – ainda não houve grandes impactos nas vendas no atacado e há uma constante redução da oferta.

Fontes: CNA, Agência Estado, Cepea e Cogo Inteligência em Agronegócio.