09/Mar/2020
A Fundação Getúlio Vargas (FGV) avalia que os efeitos do coronavírus sobre a economia brasileira são difíceis de mensurar, mas considera que o cenário ainda não parece catastrófico. Isso porque, no panorama atual, o impacto da epidemia não deve acontecer de forma relevante sobre os setores que têm sustentado a recuperação da economia, como os serviços e, também, a construção civil, que deve seguir em retomada este ano, depois de voltar a subir em 2019. A FGV estima crescimento de 2% da economia este ano, o que significaria uma certa manutenção da aceleração da retomada, uma vez que o carrego estatístico deixado pelo resultado de 2019 é de 0,80%.
Um crescimento de 1,5%, na verdade, significaria uma desaceleração forte do crescimento. Para haver crescimento mais próximo de 1%, é necessário um choque muito mais significativo em setores como serviços e construção civil. Alguns setores da indústria serão afetados pelos efeitos do surto de coronavírus no mundo, mas o setor de serviços tem sustentado a recuperação da economia. Houve revisões importantes de estimativas de Produto Interno Bruto (PIB) com poucos dados sobre a magnitude dos impactos da epidemia sobre a economia. O único dado de atividade divulgada foi o PMI (Índice de gerente de compras) da China.
O efeito da epidemia sobre a demanda mundial parece estar mapeado, mas a magnitude dos impactos sobre a oferta ainda é difícil de estimar. A maior preocupação com o surto de coronavírus é o pânico que está ocorrendo no mercado financeiro. O mundo está mais alavancado hoje e há menos espaço para políticas econômicas, já que boa parte das ferramentas foi usada na última crise global. O pânico nos mercados ininterruptos há duas semanas pode trazer não-linearidades e podem gerar uma crise sistêmica. Do ponto de vista de política monetária, a crise do coronavírus parece ser levemente desinflacionaria.
De qualquer forma, a inflação já dava espaço para corte de juros mesmo antes dessa crise e que, embora a mediana do Boletim Focus para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 2021 esteja no centro da meta (3,75%), a média já está abaixo desse patamar. Contudo, a depreciação cambial tem efeitos negativos para a demanda e também para o balanço financeiro das empresas. A expectativa é de queda dos juros para 3,75% este ano. Há dúvidas se um corte de juros de até 0,75% da taxa Selic em um momento de pânico mudará o panorama da economia brasileira. A redução do diferencial de juros não parece ser o principal fator para a depreciação do Real. A alta do dólar é mais por causa do pânico dos mercados.
Os juros eram de 14,25% em 2015 e hoje estão em 4,25%, então a potência dessa redução teria que aumentar agora para uma queda para faixa de 3% ter um efeito grande no câmbio, explica. O Brasil enfrenta problema de atratividade de capital, até porque, com as reformas, várias regras estão mudando e, mesmo que seja para melhor, o investidor tende a esperar a definição para fazer seus aportes. No contexto atual, em relação aos pares latino-americanos, por exemplo, o mercado financeiro brasileiro é maior, portanto, com maior liquidez, costuma ser o canal dos investidores para operar uma posição contrária no câmbio. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.