05/Mar/2020
Segundo estimativa apresentada pela Agência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad) nesta quarta-feira (04/03), a queda drástica do setor industrial do índice de gerente de compras (PMI) da China em fevereiro implica em uma redução de 2% das exportações do país em bases anuais. Isso ocorreu como uma consequência direta da disseminação do coronavírus (Covid-19). Além de seus efeitos preocupantes para as pessoas, o coronavírus tem o potencial de desacelerar significativamente não apenas a economia chinesa, mas também a economia global. A China se tornou o centro de fabricação central de muitas operações comerciais globais. Espera-se que qualquer interrupção na produção da China tenha repercussões em outros lugares por meio de cadeias de valor regionais e globais. De janeiro para o mês passado, o PMI industrial da China recuou de 50 para 37,5, a leitura mais baixa desde 2004. O resultado veio abaixo das expectativas do mercado, já de forte queda, para 43.
Na ocasião, o Escritório Nacional de Estatísticas do país também informou que o PMI de serviços recuou de 54,1 para 29,6 no mesmo período. De fato, os dados mais recentes da China indicam um declínio substancial na produção. O PMI está altamente correlacionado com as exportações e o declínio implica uma redução nas exportações de cerca de 2% anualmente. A queda observada em fevereiro, se distribuída ao longo do ano, é equivalente a uma diminuição 2% da oferta de bens intermediários. Nas últimas duas décadas, a China se tornou o maior exportador mundial e parte integrante das redes de produção globais. A China se estabeleceu como fornecedora essencial de insumos e componentes para muitos produtos, como automóveis, celulares, equipamentos médicos, entre outros. Além do PMI, os indicadores de transporte marítimo também sugerem uma redução nas exportações chinesas para o mês em questão. As partidas de navios de contêineres de Xangai foram substancialmente menores na primeira quinzena de fevereiro, com um aumento na segunda metade.
No entanto, o índice de frete de Xangai continua em declínio, indicando excesso de capacidade de expedição e menor demanda por navios. As perdas globais com a diminuição de 2% das exportações da China já são de cerca de US$ 50 bilhões. A contração de 2% na exportação da China tem efeitos de ondulação na economia global e até agora causou uma queda estimada de cerca de US $ 50 bilhões em todos os países. Os efeitos globais estimados estão sujeitos a alterações, dependendo da contenção do vírus e de alterações nas fontes de suprimento. O impacto da epidemia já é sentido nas cadeias de valor de regiões europeias, americanas e do leste asiático. O efeito total do surto nas cadeias de valor globais, entretanto, apenas ficará mais claro nos próximos meses. Dois pontos foram destacados: o primeiro é o que, como os chineses se tornaram fornecedores críticos para muitas empresas ao redor do mundo, isso implica que qualquer perturbação no país também será sentida fora de suas fronteiras. O segundo é que os efeitos de contágio da interrupção no fornecimento chinês devem ser em diversos setores econômicos e dependem da localização geográfica do surto e das medidas de contenção na China.
Por exemplo, as exportações intermediárias da indústria automotiva podem cair relativamente mais, pois a indústria está localizada geograficamente na região onde ocorreu o surto de Covid-19. Mas, por falta de informações disponíveis até o momento, esse segundo aspecto ainda não foi abordado. Quando os dados setoriais da produção chinesa estiverem disponíveis, o efeito provável nas várias cadeias de valor globais ficará mais claro. Os setores mais afetados pela desaceleração na China incluem instrumentos de precisão, máquinas, equipamentos automotivos e de comunicação. Na sequência, vêm maquinário elétrico, borracha e plástico, maquinário de escritório, produtos em couro, metais e produtos metálicos, produtos de papel e publicitários, químico e petroquímico, têxteis e, por fim, móveis e produtos de madeira. A disseminação do novo coronavírus é uma crise de saúde pública que pode representar um sério risco para a macroeconomia pela interrupção das atividades de produção, interrupções do movimento das pessoas e interrupção das cadeias de suprimentos.
A União Europeia (UE) é a economia que mais sofre com o surto de coronavírus na China. O impacto global é de US$ 50 bilhões, dos quais US$ 15,6 são sentidos pelo bloco comum. A redução na oferta chinesa de insumos intermediários pode afetar a capacidade produtiva e, portanto, as exportações de qualquer país, dependendo da dependência de suas indústrias nos fornecedores do gigante asiático. Por exemplo, alguns fabricantes de automóveis europeus podem enfrentar a escassez de componentes críticos para suas operações, as empresas no Japão podem achar difícil obter peças necessárias para a montagem de câmeras digitais e assim por diante. Para muitas empresas, o uso limitado de estoques gerados por um processo de fabricação enxuto e just-in-time resultaria em escassez de matérias-primas que afetaria suas capacidades de produção e exportações em geral.
Na União Europeia, os setores que mais sofrem são o de maquinaria, a indústria automotiva e a química. Pelo levantamento, os Estados Unidos estariam como a segunda economia que mais é abatida pelo impacto do coronavírus na China, com um total de US$ 5,8 bilhões, principalmente sentidos nas áreas de maquinaria, indústria automotiva e instrumentos de precisão. O Japão estaria em terceiro lugar, com um volume de US$ 5,2 bilhões, especialmente com maquinaria e setor automotivo, seguido por Coreia do Sul (US$ 3,8 bilhões), a província chinesa de Taiwan (US$ 2,7 bilhões) e Vietnã (US$ 2,3 bilhões). A Honda Motor Co. reduzirá a produção de veículos em duas de suas fábricas domésticas na província de Saitama por uma semana ou mais em março devido a preocupações com o fornecimento de peças da China, onde o surto de coronavírus continua a atrapalhar as atividades econômicas.
No Brasil, a redução da atividade na China por conta do coronavírus gera um impacto de US$ 84 milhões. O reflexo no Brasil da diminuição de 2% das exportações da China estaria mais concentrado no setor de automóveis (US$ 42 milhões), seguido por metais e produtos metálicos (US$ 12 milhões), maquinaria variada (US$ 7 milhões), químico (US$ 6 milhões), produtos de papel e publicidade (US$ 6 milhões), instrumentos de precisão (US$ 3 milhões), borracha e plástico (US$ 2 milhões), têxteis (US$ 2 milhões), material elétrico (US$ 2 milhões) e produtos de madeira e móveis (US$ 1 milhão). O Brasil é o único país da América do Sul que faz parte da lista preparada pela Unctad. Com impactos menores do que os do Brasil estão Austrália (US$ 61 milhões), Paquistão (US$ 44 milhões), Arábia Saudita (US$ 40 milhões), África do Sul, (US$ 39 milhões), Tunísia (US$ 38 milhões), Marrocos (US$ 26 milhões), Bangladesh, Ucrânia e Emirados Árabes Unidos (US$ 16 milhões, cada), Costa Rica (US$ 15 milhões), Bielorrússia (US$ 12 milhões), Nova Zelândia (US$ 11 milhões) e Cambodja (US$ 10 milhões). Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.