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11/Fev/2020

Crise na Argentina deve pressionar PIB do Brasil

A queda nas exportações brasileiras de manufaturados para a Argentina, país que deve enfrentar o terceiro ano de recessão, será provavelmente menos intensa neste ano, mas deverá ter efeito negativo na indústria de transformação e no Produto Interno Bruto (PIB), como ocorreu em 2018 e 2019. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o impacto deve reduzir o crescimento do PIB brasileiro em 0,36%. No ano passado, o efeito negativo foi de 0,55%. Para 2020, foi estimado um avanço da economia brasileira de 2,2%. O baque pode ser ainda maior por causa da mudança no regime de importação de mercadorias anunciada pelo governo argentino no mês passado. A alteração condiciona 279 novos produtos a um processo de licença não automática. E a validade dessas licenças foi reduzida de 180 para 90 dias. Assim, itens como motocicletas, eletrônicos e eletrodomésticos terão de ter autorização prévia para entrar no mercado vizinho.

Desses novos produtos, 201 estiveram presentes na pauta de exportação do Brasil para a Argentina em 2019 e representaram 34% do volume total vendido para lá no ano passado. Não está claro qual critério será utilizado pelo governo argentino no processo de análise dessas licenças. Assim, a nova medida tem potencial para reduzir ainda mais as vendas externas brasileiras. A magnitude dessa redução é incerta. Sem levar em conta a nova regra para as importações, o cálculo sobre o impacto no PIB brasileiro em 2020 considera que o consumo doméstico na Argentina deve cair 4,5% neste ano e que o volume das exportações brasileiras para o país cairá, em média, 9%. O recuo das vendas é bem menor que os 32% de 2019 e os 16% de 2018, porque a baixa base de comparação ajuda. Assim, este também será o terceiro ano seguido em que a crise argentina terá efeitos negativos sobre a atividade no Brasil, embora em magnitude menor.

Em estudo realizado em setembro do ano passado com estimativas para a balança comercial no segundo semestre de 2019 chegou-se à conclusão de que a crise argentina tirou 0,2% do PIB em 2018 e outro 0,50% em 2019. Atualizado após a revisão das Contas Nacionais Trimestrais pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a divulgação do resultado da balança comercial fechado de 2019, o impacto em 2018 continuou em -0,2%. Naquele ano, o PIB cresceu 1,3%. Para 2019, o número foi atualizado de 0,5 para 0,55%. O crescimento estimado no ano passado é de 1,2%. A revisão foi motivada por uma queda das exportações para a Argentina maior do que era esperada no ano passado. A previsão era de recuo de 27%, mas o resultado efetivo foi de menos 32%. Para chegar aos números de impacto de 2018 a 2020, foi calculado o reflexo da queda das exportações para a Argentina sobre o valor adicionado da indústria de transformação e dos segmentos de transportes e comércio, que são em parte influenciados pela atividade manufatureira.

Também foi calculado o efeito sobre o recolhimento de impostos. Produtos industriais (insumos e bens finais) respondem por cerca de 90% das vendas do Brasil para a Argentina. O país ainda é o quarto maior mercado para os produtos brasileiros de qualquer espécie, depois de China, Estados Unidos e Holanda. Em 2019, cerca 35% do que o Brasil exportou para a Argentina foram insumos industriais, 22% foram peças e equipamentos de transporte, e 19,8%, automóveis. Estes eram 27% das exportações em 2017. Os automóveis são parte importante das vendas para o país, mas têm perdido peso. O mercado argentino se tornou relevante também para os bens intermediários. No ano passado, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção de intermediários, que responde por 60% do que a indústria fabrica, caiu 2,2%, muito influenciada pelo desastre de Brumadinho (MG) e também pela retração na Argentina.

No total, a produção industrial brasileira caiu 1,1% em 2019, após crescer nos dois anos anteriores. A redução do comércio com a Argentina e também com o resto do mundo atenuou os efeitos do aquecimento da demanda doméstica em especial no fim do ano passado. Há uma integração importante entre as cadeias produtivas argentina e brasileira no setor manufatureiro. Dada a relevância desse parceiro comercial, o valor adicionado da indústria de transformação poderia ter crescido 2,2% em 2019, ante estabilidade na comparação com 2018. A previsão para 2020 é de crescimento de 1,3%. Sem o efeito Argentina, a expansão chegaria a 2,7%. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.