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03/Fev/2020

Coronavírus e impactos no agronegócio do Brasil

O mercado futuro de commodities agrícolas mal saiu do longo período de tensão que envolveu as negociações comerciais entre Estados Unidos e China para cair em outro momento de incertezas, agora com o surto de coronavírus na China. A notícia do avanço do vírus para outras regiões do mundo gera especulações de que a economia e a demanda chinesas poderão ser afetados. Por causa do feriado do ano-novo lunar chinês nos últimos dias, uma sinalização mais clara das intenções de compra da China deve ficar para as próximas semanas. Os futuros de soja foram os mais afetados entre os grãos negociados na Bolsa de Chicago (CBOT), já que a China é o principal comprador da oleaginosa. Desde o dia 21 de janeiro, o grão acumula perda de 5,7%. O milho caiu 2,5% no período, mas a desvalorização foi atenuada por uma melhora da demanda externa pelo cereal norte-americano nos últimos dias. O trigo recuou 1,7%. Na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), o algodão, que é bastante dependente da demanda chinesa, acumulou queda de 3,1% desde o dia 21.

O açúcar subiu 1,0% no mesmo período, já que o efeito coronavírus e a consequente queda do petróleo foram ofuscados pela expectativa de menor oferta global. O enfraquecimento do petróleo tende a pressionar o açúcar porque pode resultar em um mix menos alcooleiro no Brasil. O café arábica caiu 12%, mas isso se deve mais a uma correção técnica, após fortes ganhos no fim do ano passado, e à perspectiva de uma safra volumosa no Brasil. No mercado interno, o efeito é nulo ou bastante limitado. No caso das carnes, a queda dos preços está atrelada ao recuo das exportações ante dezembro e, principalmente, ao reduzido poder de compra da população no primeiro mês do ano. Quanto às vendas externas, a China formou estoques suficientes para atender a demanda local durante o feriado de ano-novo lunar, no fim de janeiro, e só voltaria a comprar do Brasil em fevereiro. A avaliação é de que, mesmo com o surto do coronavírus, o país asiático ainda sofre os efeitos da Peste Suína Africana (PSA), que dizimou seus rebanhos, e precisará recorrer ao mercado externo para se abastecer.

Em janeiro, a média diária de exportação de carne bovina in natura foi de 5,4 mil toneladas, 23% abaixo de dezembro, mas aumento de 15,7% em relação a janeiro/2019. No frango, a média foi de 13,1 mil toneladas/dia, volume 23,8% menor que o de dezembro e 11,8% mais alto que um ano antes. Na mesma linha, a carne suína teve média de exportação de 2,7 mil toneladas/dia, baixa de 13,0% na variação mensal e avanço de 42,1% no comparativo anual. Neste contexto, a média de preço da carne suína (carcaça especial) em janeiro ficou em R$ 9,07 por quilo no atacado de São Paulo, queda de 4,7% ante dezembro, porém forte alta de 49,5% quando comparada ao desempenho de janeiro/2019. O frango inteiro congelado teve preço médio de R$ 5,08 por quilo em janeiro, redução de 3,5% na variação mensal, mas elevação de 18,4% ante igual período do ano passado. O enfraquecimento na demanda elevou os estoques, o que pressionou ainda mais os valores desta proteína.

A baixa mais expressiva, no entanto, foi registrada na carne bovina (carcaça casada) cujo valor caiu 9,2% em janeiro ante dezembro, para a média de R$ 13,49 por quilo no atacado paulista. Mesmo com o recuo, a cotação ainda é 28,0% superior à de janeiro/2019. Na soja, a retração dos preços futuros na Bolsa de Chicago é só um fator a mais a pesar sobre as cotações internas. A expectativa de uma grande produção na safra brasileira 2019/2020, em fase de colheita, estimula a ponta compradora a pressionar as cotações. Em contrapartida, o câmbio tem dado competitividade à oleaginosa nacional, estimulando as exportações. Desde que os mercados começaram a revelar a preocupação com o surto do coronavírus, em 21 de janeiro, a saca de 60 quilos de soja recuou 2,4%. Já o dólar se valorizou 1,55% ante o Real. Outra questão a segurar os preços da oleaginosa é o fato de que produtores negociaram parcela importante da safra antecipadamente. O volume restante pode ser negociado sem pressa.

O mercado interno do milho, por outro lado, pouco é influenciado pelo desempenho dos futuros na bolsa norte-americana, pois a produção nacional se destina, neste momento, ao mercado interno para alimentar aves e suínos. Como os estoques do grão são baixos, há preocupação sobre possível queda de produção da 2ª safra devido ao clima. Além disso, a demanda da indústria de carnes continua firme, o que deve manter os preços em patamares elevados até pelo menos a entrada da 2ª safra, a partir de junho. Em São Paulo, no mercado de lotes, o preço médio do milho em janeiro foi de R$ 50,31 por saca de 60 Kg, 6,2% acima de dezembro e 32,5% mais na comparação com janeiro do ano passado. O açúcar também tem avançado nas últimas semanas apesar do coronavírus. Faria sentido que os surtos afetassem o mercado, já que a China é a segunda maior importadora da commodity. No entanto, fundamentos têm impulsionado o açúcar, em especial a perspectiva de quebra de safra de grandes produtores, como Índia e Tailândia.

Além disso, as projeções apontam para déficit global de açúcar. O Brasil também exportou muito em janeiro, o que contribui para a menor oferta restrita. Com a entressafra brasileira, as usinas também têm baixos estoques de açúcar - principalmente porque na safra atual a maior parte da matéria-prima foi convertida em etanol, e não no açúcar. A combinação desses fatores fez o contrato mais líquido de açúcar demerara na Bolsa de Nova York (ICE Futures US), março/2020, avançar 1,1% entre 16 e 31 de janeiro. Desde o início de 2020, o mesmo contrato acumula alta de 8,6%. As cotações em Nova York contribuem decisivamente para a formação de preços no Brasil. No caso do café, o mercado interno tem realizado poucos negócios, por causa da queda das cotações, que recuam menos do que no exterior, em virtude do câmbio desvalorizado. O café arábica caiu 2,8% desde o dia 21 de janeiro. O período de entressafra do café no Brasil também afasta o interesse do produtor em negociar a commodity. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.