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03/Fev/2020

Coronavírus e impactos sobre a economia global

Durou pouco o bem estar dos mercados financeiros na virada do ano. Quando a guerra comercial entre Estados Unidos e China começou a dar sinais de trégua, quando ficou mais claro que as chances de um Brexit seriam pelo caminho suave, quando o conflito dos EUA com o Oriente Médio saiu do noticiário e quando a desaceleração global despontava como não tão profunda quanto o previsto inicialmente, o coronavírus caiu como uma bomba sobre os negócios e governos de todo o mundo. Os primeiros rompantes de um reinício de novas atividades voltaram a ficar em suspenso e os mercados acionários retomaram dias de volatilidade extrema ao sabor de números de mortes, pessoas afetadas pelo surto e as diferentes possibilidades de contágio. A maior preocupação do momento é a de que a epidemia de SARS, em 2003, tenha sido apenas uma amostra do que está por vir. Ou seja, que, além das questões de saúde, que o medo da contaminação acabe por interferir na economia.

Companhias aéreas já cancelam voos para a China, multinacionais têm evitado locomoção de CEOs para o país oriental e os turistas estão revendo seus planos de viagens para a região. Isso mexe com o turismo, com o comércio e, claro, com gastos do governo em um momento em que os formuladores de política monetária pedem um auxílio da área fiscal. No momento, é difícil identificar uma tendência firme para o curto prazo. O que se percebe é que os agentes financeiros vêm se preparando para os mais diferentes cenários em todo o globo e que o nervosismo tem sido a reação mais imediata dos investidores, enquanto o volume de perguntas só cresce. De um lado, previsões de colapso, como revelaram a busca recente por ativos seguros, como ouro e títulos soberanos. De outro, um "movimento elástico", já que, de tão contraídos nos primeiros dias do ano, os mercados possam ser transformados em uma espécie de empuxo levando os índices para níveis mais altos ainda do que aqueles vistos ao final de 2019. No meio termo, a conhecida recuperação em "V", puxada por uma desaceleração do PIB chinês em um trimestre seguida por recuperação nos meses seguintes.

Como se vê, há cenários para todos os gostos. O que existe neste momento é muita cautela nos mercados financeiros globais para traçar impactos sobre a economia global com o coronavirus. Há uma expectativa de que a doença traga efeitos transitórios sobre o nível de atividade, sobretudo na China, onde as autoridades adotaram medidas com certa rapidez para conter a disseminação da doença, segundo o JP Morgan Asset Management. A equipe do alemão Commerzbank - e obviamente está longe de ter sido a única a fazer isso - preparou uma espécie de "cartilha" com os pontos para onde seus clientes devem olhar. Para eles, a diminuição da demanda por hotéis, voos e restaurantes tende a ser passageira. Quando recorrem à base histórica, também se deparam com uma gama bastante variada de impactos econômicos a partir de pandemias - desde a gripe espanhola há 100 anos, quando morreram 40 milhões de pessoas, até o episódio mais recente e relativamente "mais leve" do SARS.

É muito provável que os problemas econômicos causados pelo coronavirus ficarão centrados na China e talvez em alguns outros países de suas imediações que fazem parte da sua cadeia internacional de produção. Por enquanto, poucos se arriscam a alterar seus cenários para o PIB da segunda maior economia do mundo, que cresceria ao redor de 6% neste ano, enquanto o mundo expansão próxima de 3%. Mas não há dúvidas de que uma eventual perda de vigor mais acentuada da economia da China por causa da doença deverá afetar o nível de atividade global. Na hipótese de o país asiático não crescer 5,9% neste ano, como previsto, mas sim um ponto porcentual a menos e atingir 4,9%, a expansão do PIB mundial diminuiria 0,25 ponto porcentual, para 2,75%. Neste contexto, haveria apenas uma redução marginal de 2,1% para 2,0% para o PIB dos EUA. Na Europa, a corrente predominante até aqui de que, como o número de casos locais continua baixo no continente, o impacto no PIB da zona do euro será restrito e temporário.

Seria preciso ser muito pior do que a SARS de 2003 para haver uma resposta dos formuladores de políticas, segundo a Capital Economics. De fato, eles ainda não responderam com medidas, mas o assunto está quicando. O Banco da Inglaterra (BoE) disse que a instituição está "monitorando" o surto "de perto", mas destacou que "ainda é muito cedo" para fazer avaliações, apesar de ter acrescentado que o vírus tem se expandido rapidamente. O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) foi um pouco mais assertivo ao declarar que o contágio internacional é uma "questão muito séria" e que terá "impactos na economia da China" no curto prazo, podendo afetar, talvez, o nível da atividade global. Em linhas semelhantes, a agência de classificação de risco Moodys disse observar os impactos sobre o consumo e a possível escalada de contaminação e o Fundo Monetário Internacional (FMI) também salientou que é preciso monitorar os riscos para a economia internacional.

A grande expectativa das últimas horas era para o quadro que seria traçado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), depois de fazer uma nova reunião de emergência. Os mercados de todo o mundo voltaram a mergulhar até o veredicto da entidade com sede na Suíça, que declarou o surto como um caso de "emergência global de saúde pública". De acordo com a OMS, os contágios por contato humano já foram identificados na Alemanha, no Japão, no Vietnã e nos Estados Unidos. Mais do que uma referência internacional para a saúde, a OMS atuou também como uma protetora da economia global. A Organização condenou países por terem tomado "medidas restritivas pouco apropriadas" e disse que os que "interferirem significativamente" no trânsito internacional, recusando entrada ou saída de viajantes, bagagens, cargas ou mercadorias, seriam obrigados a se justificarem sob "argumentos de saúde pública racionais".

Mas, enquanto há risco, a Rússia decidiu fechar a extensão fronteira terrestre de 4 mil quilômetros com a China e governos foram buscar expatriados em Wuhan para colocá-los em quarentena em seus países. A precaução ao extremo começa a ser medida padrão, como a retenção de 6 mil turistas em um cruzeiro pela Itália, até que os primeiros testes em uma suspeita de estar contaminada com o coronavírus descartaram a hipótese. A medicina hoje é mais avançada e acessível do que em outras pandemias mundiais e, apesar de críticas de que a China poderia ter reagido mais rapidamente, não foram tomadas decisões que se possam considerar como de todo defasadas. Esta é uma corrida contra o tempo e a única certeza é a de que, quanto mais o vírus se espalhar, mais grave será o impacto para as vidas de populações e para a economia global. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.